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Saúde
Quinta - 11 de Novembro de 2010 às 09:06
Por: GUILHERME GENESTRETI

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Quando a família do engenheiro Ricardo Pimentel se reúne para jantar não é raro que seu filho único, adolescente, solte um sonoro "filho da p..." no meio da conversa.

R., 15, não é rebelde nem mal educado: é portador de Tourette, síndrome neurológica que faz a pessoa emitir sons (às vezes, palavrões) de forma involuntária e desenvolver tiques motores.

Aos quatro anos, o menino dava pulinhos, ficava piscando os olhos e girando no chão. Instigado, o pai desconfiou de algo errado e o levou a um neurologista, que fez o diagnóstico. Isso é raro.

Os sinais da síndrome começam a ser percebidos por volta dos seis anos. Em muitos casos, a doença permanece na fase adulta.

"A pessoa não escolhe o que fala ou o como gesticula. Acontece sem ela querer", explica a psiquiatra Roseli Shavitt, coordenadora do Protoc, grupo ligado ao Hospital das Clínicas de São Paulo, que estuda os transtornos obsessivo-compulsivos.

O transtorno é desconhecido até no meio médico, diz Shavitt. "É até fácil diagnosticar. O difícil é achar profissional habilitado."

Depois de ter frequentado cinco escolas, os pais de R. optaram por um ano só de "atividades extracurriculares" para o menino: música, italiano, natação, cursos de raciocínio e até de modelo.

Isso porque R. sofreu "bullying" muitas vezes, segundo o pai. Era chamado de "agitadão" e se isolava.

"Inclusão é uma palavra bonita, mas na prática é pouco usada", diz Pimentel, 51.

Hoje, o adolescente toma remédios para atenuar os sintomas e vai a sessões de psicoterapia para aprender a lidar com os tiques motores.

  Moacyr Lopes Junior/Folhapress  
Jeferson Soares, 33, que já havia procurado ajuda de psiquiatras, mas só se descobriu portador de Tourette há dois anos
Jeferson Soares já havia procurado ajuda de psiquiatras, mas só se descobriu portador de Tourette há dois anos

"BOA NOITE"

Jeferson Soares, 33, que trabalha em um pet shop, só se descobriu portador dois anos atrás, depois de ser levado por um amigo a um psiquiatra de posto de saúde.

Desde pequeno ele contorcia muito os braços e tinha soluços constantes. Chegou se consultar com psiquiatras ainda na infância, mas não houve diagnóstico: "Falavam que era uma fase, ia passar, mas nunca passava."

Hoje, Soares toma remédios --incluindo antipsicóticos-- que atenuam os tiques.

Ainda assim, diz ele, de vez em quando repete muitas vezes as palavras que ouve na TV, principalmente o "boa noite" dos telejornais.

Soares conta que seus colegas de escola estranhavam os barulhos que ele fazia com a garganta e seu hábito de ficar torcendo o braço.

"No começo, pensavam que eu era louco. Meus pais até brigavam comigo porque não sabiam o que eu tinha."

  Editoria de Arte / Folhapress/Editoria de Arte / Folhapress  

"PISCA-PISCA"

O corretor de imóveis Oscarlino Domingues, 54, também passou por agruras na infância. Foi apelidado de "pisca-pisca", por causa do tique. Só descobriu o problema na maturidade, aos 44.

Domingues lembra que seus impulsos --piscar, repetir palavras etc.-- ficaram mais fortes na adolescência, com a separação dos pais.

"Eu ficava repetindo a mesma oração quando rezava. Sentia necessidade de ficar repetindo. E só piorava quando estava nervoso."

A ansiedade potencializa os impulsos: "A descarga de adrenalina piora os tiques", diz a psiquiatra Ana Gabriela Hounie, do HC.

Ela explica que histórias de "bullying" são recorrentes em crianças com Tourette.

"Os movimentos estranhos chamam a atenção, aí são colocados os apelidos. No fim, a pessoa busca ajuda por se sentir discriminada."

Se os tiques doem ou prejudicam a atenção, os médicos podem indicar tratamento com remédios.






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