ONG internacional critica lentidão para controlar surto de cólera no Haiti
"Enquanto a epidemia ganha importância, a lenta chegada da ajuda é agora preocupante", destacou a ONG em um comunicado. "As carências graves no deslocamento da ajuda, o que atrapalha os esforços para limitar a epidemia", que já causou 1.110 mortes e afetou 18 mil pessoas.
"Não é hora de se reunir nem de falar, e sim de agir", declarou Stefano Zannini, chefe da missão no Haiti, citado no comunicado.
O MSF pede a "todos os grupos e organismos de ajuda" presentes na zona que "reforcem a importância e a rapidez de seus esforços".
Para Zannini, "é preciso um número maior de atores para tratar as doenças e aplicar as medidas de prevenção necessárias", como a distribuição de água potável e clorada e sabão, a instalação de latrinas, a gestão e supressão dos dejetos nos centros médicos, a criação de "pontos de eliminação de resíduos perto das zonas urbanas" e mesmo "a cremação dos corpos das pessoas que morreram".
VIOLÊNCIA
Os haitianos acusam membros da ONU vindos do Nepal de terem trazido o vibrião do cólera ao país. Há um onda de manifestações devido ao descontentamento com a epidemia que começou ao norte do país, na cidade de Cap-Haitien. Os enfrentamentos já deixaram ao menos três mortos esta semana.
O rumor de que os soldados tenham trazido a doença causou violentos confrontos que ainda tomam as ruas do norte do país, e levou o presidente René Preval a pedir calma à população.
"Propiciar a desordem e a instabilidade jamais foi a solução para um país que vive momentos difíceis", declarou o presidente em uma mensagem à nação ainda na noite de terça-feira (16).
Ramon Espinosa/AP | ||
Brasileiro membro da força de paz da ONU no Haiti cai de caminhão em meio de manifestantes em Porto Príncipe |
A epidemia já matou 1.110 pessoas e hospitalizou 18.382 desde o começo da epidemia, em meados de outubro.
Os números, segundo a Organização Pan-americana de Saúde, ainda estão subestimados. O órgão afirma que até 20 mil podem ser infectados e até 10 mil podem morrer nos próximos seis a 12 meses.
Ramon Espinosa)/AP | ||
Mulher com sintomas de cólera é levada em carriola até o hospital St. Catherine, em Porto Príncipe |
O cólera, particularmente fatal em crianças e idosos, se desenvolve rapidamente depois das bactérias chegarem ao intestino. Os sintomas incluem forte diarreia e desidratação e, sem tratamento, pode matar em poucas horas.
A situação deve se agravar em um país onde milhões de pessoas vivem em campos de refugiados desde o terremoto de 12 de janeiro, em condições higiênicas precárias.
PROTESTOS
Os protestos de haitianos chegaram até a capital, Porto Príncipe, nesta quinta-feira (18), com manifestantes fechando ruas com barricadas e atacando com pedras veículos levando brasileiros membros da força de paz da ONU no Haiti
Manifestantes se reuniram na praça do Campo de Marte, bem perto do Palácio presidencial, e gritavam slogans em creole, tais como "A Minustah nos trouxe a cólera". Um cartaz em creole também indicava "A Minustah joga excrementos na rua".
"Estamos contra o poder e contra a Minustah, que não fazem nada. A Minustah deveria pacificar o país e hoje estamos pior. A Minustah mata haitianos", disse Ladiou Novembre, um professor do ensino médio.
Ramon Espinosa/AP | ||
Manifestantes tentam desviar de bomba de gás lacrimogêneo lançada pela polícia e soldados da ONU |
Centenas de pessoas se reuniram na frente do Ministério de Saúde Pública para exigir a saída da Minustah
Após serem dispersados, os manifestantes se concentraram em diferentes pontos, como a faculdade de Etnologia, onde começaram a circular por grupos e a divulgar o protesto.
Segundo o porta-voz da Minustah, Vincenzo Pugliese, o temor da população de sair às ruas após os incidentes dificultam a assistência aos afetados pelo cólera.
"Um paciente com cólera precisa receber assistência em três horas para sarar", mas na atual situação, "o paciente que está em sua casa e não pode sair por causa das barricadas acaba morrendo", enfatizou.
A porta-voz da ONU em Genebra, Corinne Momal-Vanian, disse que os protestos desta segunda-feira contra a presença da Minustah no Haiti foram "politicamente motivados" pelo período pré-eleitoral.
Além disso, referiu-se a um comunicado emitido pela ONU em Porto Príncipe, que destaca que "foram feitos vários experimentos" para verificar a responsabilidade dos agentes da Minustah e todos deram negativo.
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