Aumenta para 456 número de mortos no Camboja; governo investiga
O tumulto registrado na segunda-feira (22) durante um tradicional festival popular em Phnom Penh, capital do Camboja, deixou 456 mortos, segundo um novo balanço anunciado nesta quarta-feira pelo ministério de Assuntos Sociais.
Na ocasião, um tumulto repentino deixou centenas de pessoas presas em uma ponte sobre o rio Mekong, que une a capital cambojana à Koh Pich (Ilha Diamante), onde eram realizadas as festas do tradicional e popular Festival da Água.
As causas da catástrofe ainda são pouco claras, mas se suspeita que correu o boato de que a ponte não era segura.
Uma investigação preliminar do governo, transmitida pela mídia local, mencionou os comentários do porta-voz do Estado, Phay Siphan, nesta terça-feira (23), os quais diziam que a ponte foi projetada para balançar, mas o movimento dos pedestres tomou alguns de surpresa e se ouviu gritos de que ela estava quebrada.
Uma equipe de dez agentes colheu depoimentos entre as vítimas para esclarecer as causas do ataque de pânico coletivo desencadeado na ponte que conecta a cidade com a Ilha Diamante.
"Acreditamos que o tumulto começou porque a ponte teria balançado e as pessoas se assustaram porque acharam que poderia cair", disse Heng Vihol, responsável de Segurança e Informação do ministério do Interior.
"Alguns dizem que se assustaram porque viram jovens brigando, outros porque pensavam que a ponte iria cair e outros simplesmente porque não conseguiam respirar", acrescentou Son Eing, membro da equipe de investigação, após falar com vários sobreviventes.
O governo, por outro lado, descartou que o tumulto tenha sido causado por descargas elétricas do sistema de iluminação da ponte, versão que foi defendida pelas autoridades sanitárias.
"Nós não vimos nenhum caso de pessoas eletrocutadas aqui", assegura a médica Lim, do hospital Calmette, que recebeu o maior número de mortos e feridos.
Os médicos atribuem a maioria das mortes a traumatismos internos, insuficiências respiratórios e à asfixia provocada pela avalanche humana que atingiu 18 mil pessoas na ponte, segundo o porta-voz Phay Siphan.
MULTIDÃO
As autoridades estimaram que mais de 2 milhões de pessoas compareceram ao último dia do festival, quando o tumulto aconteceu.
O desastre rendeu dúvidas sobre como as autoridades permitiram que uma multidão ficasse confinada em um espaço tão limitado de uma ponte que ligava a uma ilha artificial usada para entretenimento.
Estima-se que havia de 7 a 8 mil pessoas na ponte somando uma carga de até 400 toneladas.
O primeiro-ministro, Hun Sen, afirmou que esta é "a maior tragédia desde o regime de (Khmer Vermelho) Pol Pot", que deixou dois milhões de mortos, ou seja, 20% da população, entre 1975 e 1979.
Um dia de luto nacional foi anunciado para esta quinta-feira (25).
Vítimas e testemunhas deram versões contraditórias sobre o que ocorreu na segunda-feira à noite.
Cheng Sony, por exemplo, assegurou ao jornal "Phnom Penh Post" que viu como várias pessoas se eletrocutavam enquanto a ponte balançava e os cabos elétricos começavam a se romper.
"As pessoas ficaram muito nervosas e diziam que íamos morrer lá. Me empurravam para que eu pulasse na água", relatou Setha, uma jovem de 18 anos.
Srey Mya estava na entrada da ponte, mas foi empurrada para dentro e atirada no chão. "Começaram a pisar em mim e eu não conseguia me levantar. As pessoas tinham medo de alguma coisa, mas não sei de que", disse a operária de uma fábrica têxtil de Phnom Penh.
EVENTO
Milhares de cambojanos se reuniram durante três dias para assistir às regatas, shows e explosões de fogos de artifício.
O Festival da Água, o de maior tradição do país, tem por objetivo agradecer ao rio Mekong por alimentar as terras férteis do país e por sua abundância de peixes. Coincide com a lua cheia de novembro e marca o fim das cheias e a inversão do fluxo do rio Tonle Sap.
O Camboja é um dos países mais pobres da região, e tem um precário sistema de saúde, com hospitais incapazes de atender a demanda médica diária do país.
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