Mercado de trabalho aquecido não tira jovens da escola, diz pesquisa
Diferentemente do que se imagina, o aquecimento no mercado de trabalho não é um fator importante para elevar a evasão entre os estudantes de ensino médio brasileiros. Essa foi uma das conclusões da pesquisa "Os determinantes do fluxo escolar entre o ensino fundamental e o ensino médio no Brasil" --realizada por pesquisadores da FGV (Fundação Getulio Vargas) a pedido do Instituto Unibanco.
"Não encontramos correlações estatisticamente significantes entre fluxo escolar e aquecimento do mercado", afirmou o pesquisador André Portela Souza. O estudo em si não traz explicações para esse resultado, mas há algumas hipóteses.
Uma delas é que, com o mercado aquecido, o jovem percebe a importância de ter uma boa qualificação --e, portanto, de continuar estudando-- para conseguir um salário mais alto no futuro. Outra possibilidade é que, com o aumento da renda familiar, o adolescente seja mais estimulado pelos pais a não trocar os estudos por um trabalho em tempo integral --e, poder assim, contribuir mais fortemente com a renda familiar.
O trabalho usou dados da Pesquisa Mensal de Emprego, do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), que não permitem determinar se os estudantes que continuaram na escola estão trabalhando ao mesmo tempo, em outro período do dia.
Outro resultado encontrado pelo trabalho foi que o fato de o aluno ser aprovado ou não ao final do ano deixou de ser tão importante em sua decisão de continuar os estudos de ensino médio. Entre os anos de 2008 e 2009, do total de alunos aprovados, 97% se mantiveram na escola. Entre os não aprovados (parcela que inclui reprovados e estudantes que deixaram o colégio e depois retornaram), 94% se mantiveram estudando.
Os principais determinantes para a aprovação e continuação dos estudos são as características individuais e familiares do jovem. O maior sucesso nos dois casos se dá entre mulheres, que não estão atrasadas em seus estudos, que têm pais com alta escolaridade e moram com ambos e, ainda, cuja escola é de qualidade.
O Instituto Unibanco também encomendou uma pesquisa complementar à da FGV para determinar a relação entre o desempenho no ensino fundamental e posterior abandono no ensino médio.
A principal conclusão é que o baixo desempenho dos alunos no ensino fundamental é muito ligado à evasão no ensino médio. A pesquisa "Relação entre abandono escolar no ensino médio e desempenho escolar no ensino fundamental" foi feita apenas com base no Saresp, exame de português e matemática obrigatório nas escolas da rede estadual paulista.
Outro fator que se mostrou importante foi o atraso nos estudos. Quanto maior a distorção entre a idade do aluno e a série em que ele está, maior a probabilidade de ele largar a escola, após ingressar no ensino médio.
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