Técnica pioneira no mundo liberou a insulina de 21 dos 25 transplantados
Pesquisador brasileiro controla diabetes usando células-tronco
- É com muita satisfação que digo que tivemos o primeiro transplante de células-tronco em seres humanos com diabetes tipo 1 no mundo. Antes disso, nunca pensei que alguém com a doença poderia viver sem insulina.
Reset imunológico
O método usado na pesquisa é conhecido como “reset imunológico”, ou seja, o sistema imune do paciente é “desligado” durante cinco sessões de quimioterapia. Ao desativá-lo, a doença auto-imune (quando o próprio organismo ataca órgãos do corpo) também é “desligada”.
No sexto dia, células-tronco extraídas previamente do sangue do paciente (células-tronco hematopoéticas) são transplantadas na corrente sanguínea dele mesmo, tornando o sistema imunológico saudável. Diante dos bons resultados em pacientes com lúpus e artrite reumatoide, a equipe de Couri decidiu testar o método em pessoas com diabetes tipo 1.
O diabetes tipo 1 é uma doença auto-imune caracterizada pela destruição das células produtoras de insulina. Sem a sua produção regular, o organismo não tem como metabolizar o açúcar que entra na corrente sanguínea e a pessoa adoece. As injeções diárias do hormônio são necessárias para o diabético não passar mal ao comer doces ou carboidratos e para manter sua sobrevivência.
Essas dificuldades faziam parte do dia a dia do estudante Renato Luis Fernandes Silveira, de 22 anos, antes do transplante. Ao descobrir repentinamente que estava com a doença, mesmo sem ter casos na família, poucos meses depois recorreu aos médicos de Ribeirão. Em 2005, ele fez o transplante e desde então não toma insulina.
- Minha mãe tinha lido sobre o transplante, não tinha dado muita importância, mas no dia seguinte eu me senti mal e quando fizeram o teste de glicose, viram que estava muito alta. Então ela procurou o HC de Ribeirão.
Renato acredita que seu caso foi um sucesso, mesmo diante de alguns inconvenientes. Ele e seus pais , moradores de Cidade Dutra, na zona sul de São Paulo, precisaram se mudar para Ribeirão Preto por quatro meses, de janeiro a abril de 2005, tempo da preparação, do transplante e do acompanhamento posterior. Além disso, sofreu os efeitos colaterais da quimioterapia.
- Fiquei enjoado, não conseguia comer e vi meu cabelo cair por causa da quimioterapia, mas correu tudo bem. Um dia antes do transplante, já não precisei mais tomar insulina.
Hoje ele pode comer chocolate e massa, mas afirma maneirar na alimentação para não precisar voltar às injeções.
Não é cura
A pesquisa pioneira foi aprovada pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) e recentemente também teve aprovação do FDA (Food and Drug Administration), órgão do governo dos Estados Unidos que regula a produção de alimentos e medicamentos, para ser usada no país. O método já está sendo estudado pela Northwestern University, em Chicago, em conjunto com os médicos da USP. No entanto, o endocrinologista frisa que os resultados não significam que haja cura.
- Não sabemos ainda se o paciente voltará a precisar de insulina algum dia na vida. Por isso, não podemos dizer que é uma cura. Não é um tratamento já estabelecido.
O transplante é indicado somente para diabéticos do tipo 1, com idades entre 12 e 35 anos e que tenha a doença há menos de três meses, tempo, segundo o médico, em que ainda dá para recuperar o pâncreas do paciente. A saúde deve estar em dia também, já que terá de passar pela quimioterapia.
- O paciente fica internado em uma unidade própria para isso, onde há cuidados extremos com bactérias, vírus, quartos ultra-limpos onde profissionais entram de máscaras. Para prevenir infecções, usamos antibióticos preventivos.
Para manter o bom resultado do transplante, Couri ressalta a importância de fazer exercícios físicos e não exagerar nos doces e carboidratos, ricos em açúcar, já que é natural relaxar depois do procedimento, e manter a medicação diária de glicose.
Quem tiver interesse em fazer o transplante, pode entrar em contato com o doutor Couri pelo e-mail: ce.couri@yahoo.com.br
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