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Saúde
Domingo - 28 de Novembro de 2010 às 19:43

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Cesare Lombroso (1835-1909) ficou famoso por ter defendido a teoria de que a propensão para cometer crimes era um traço hereditário. Ele estava errado.

O "reo nato", o criminoso atávico, com traços anatômicos identificáveis, como a testa inclinada e os braços compridos, nunca passou de um delírio. Mas a intuição fundamental do criminologista italiano de que certas características físicas e psicológicas caminham juntas não só faz sentido como vem ganhando relevo numa medicina cada vez mais pautada pela estatística.

CARA DE MORTE
A ideia de que estados fisiológicos ou patológicos se refletem na face do paciente é tão antiga quanto a medicina. O primeiro a escrever algo parecido foi ninguém menos do que Hipócrates (c. 460 a.C.- c. 370 a.C.), o pai da matéria. "Se a aparência [facial] pode ser descrita assim: o nariz afilado, os olhos fundos, as têmporas deprimidas, as orelhas frias com os lóbulos afastados, a pele da fronte seca e esticada, a pele do rosto amarelada, lívida ou acinzentada e se não há sinal de melhora [num determinado período], deve-se concluir que esses sinais prognosticam a morte".

É por conta dessa descrição que médicos se referem até hoje à "fácies hipocrática", que é a cara que o sujeito fica quando vai morrer. Os compêndios médicos registram muitas fácies. Além da de elfo e da acromegálica (veja no quadro), há a renal (de quem sofre dos rins), leonina (lepra), basedowniana (hipertiroidismo), mongolóide (síndrome de Down) e etílica, entre outras. 

A muitas das afecções corresponde também um perfil de comportamento, que pode ser provocado diretamente pela moléstia ou indiretamente, através da persistência dos sintomas.

Fácies e outras características físicas, como manchas, posturas ou relações entre medidas de partes do corpo, são chamadas de sinais. Estes, ao lado dos sintomas, são a matéria-prima a partir da qual os médicos elaboram seus diagnósticos.

A diferença entre um sinal e um sintoma é que o primeiro é puramente objetivo, enquanto o segundo é mediado pela subjetividade do paciente ou familiares (estou numa leseira..., meu lumbago anda incomodando...).

Um pouco por causa dos exageros de Lombroso e outros eugenistas, a medicina baseada em sinais viveu uma fase de descrédito. Enfatizar demais o papel de uma característica física era pedir para ser chamado de determinista, nazista e outros adjetivos pouco abonadores.

De toda maneira, no dia a dia da clínica, bons médicos nunca deixaram de atentar para as pistas físicas que poderiam levá-los a identificar o problema de seu paciente _fossem elas politicamente corretas ou não.

Mais recentemente, com avanços no campo da genética, da epigenética, da embriologia e, principalmente, da estatística, pequenos detalhes e sua distribuição populacional voltaram a chamar a atenção de médicos.

Sinais não bastam --e este foi o grande erro de Lombroso-- para decretar que o paciente X padece do mal Y ou apresenta a característica de personalidade Z, mas funcionam relativamente bem quando lidamos com grupos grandes: X% das pessoas que possuem o sinal Y têm também a moléstia Z.

Porcentagens e médias, não custa lembrar, são um conceito traiçoeiro. Representam um valor obtido a partir de resultados válidos para vários indivíduos, mas que não podem ser extrapolados para nenhum indivíduo em particular. Na média, a humanidade tem um testículo e um seio. Sinais tomados isoladamente não têm nenhum valor diagnóstico, mas podem ser boas pistas para novas investigações.

Agora que sabemos que alterações num gene podem ser responsáveis por mudanças em duas ou mais características (efeito pliotrópico), e compreendemos um pouco melhor que detalhes no processo gestacional podem ter grande influência no resultado final, correlacionar esquizofrenia a pequenas anomalias físicas ou ligar o tamanho e a forma dos dedos a comportamento sexual e dependências químicas já não soa tão abstruso.

PADRÃO DE BELEZA
Uma nota interessante é que, de forma inconsciente, já buscávamos sinais para detectar doenças muito antes de termos ouvido falar em DNA e mesmo de Hipócrates. Como numa espécie de seguro contra defeitos de fabricação, pesquisas psicológicas mostram que pessoas de várias culturas consideram mais bonitos e desejáveis rostos e corpos simétricos.






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