Complexo do Alemão: traficante tinha moto mais rápida do mundo
Durante as buscas no Complexo do Alemão, policiais do Bope e agentes da Polícia Federal se depararam com um desmanche de veículos. A oficina foi encontrada por volta das 11h de domingo, perto da rua Canitá. No local, porém, o que mais chamou a atenção foi uma moto Suzuki GSX 1300 R, que seria do traficante Fabiano Atanásio da Silva, o FB.
Avaliada em cerca de R$ 60 mil, a luxuosa GSX 1300 R é considerada moto comercial mais rápida do mundo, sendo capaz de ultrapassar os 300 km/h. Junto com a moto, a polícia encontrou motores e outros tipos de peças. Também foram encontrados dois cordões de ouro e diversos cheques roubados. Apontado como dono do desmanche, Leandro Gomes Leal, 35 anos, foi detido pelos policiais no local.
Miséria e luxo no Alemão
A miséria presente nas ruas e becos das favelas do Complexo do Alemão destoam da vida de luxo que era levada pelos principais chefes do tráfico na região. Enquanto a maioria dos trabalhadores que vive nas comunidades se aperta com suas famílias para viver em pequenas casas, os criminosos desfrutavam de luxo e riqueza.
No domingo, durante a megaoperação que expulsou os traficantes do Complexo do Alemão, os policiais vasculharam a casa do chefe do tráfico local, Fabiano Atanásio da Silva, o FB. Situada na Travessa São José, no alto da Favela da Grota, depois de uma escada com as cores do Brasil, o imóvel de três andares tem aparelhos de ar-condicionado em todos os cômodos.
Na sala, poucos foram os móveis que sobraram depois da fuga dos traficantes. A maioria dos bens foi saqueada por moradores. Na cozinha, o fogão de cinco bocas e a geladeira de 318 litros, todos inox, estavam parcialmente destruídos. Os dois quartos que ficam nesse andar eram decorados com grafites nas paredes - um retratava um carro vermelho pintado, o outro era uma fotografia do cantor americano Justin Bieber, sucesso entre os adolescentes.
No segundo andar, uma banheira de hidromassagem com espaço para duas pessoas chamou a atenção dos policiais. Uma televisão de LCD de 42 polegadas foi perfurada por um tiro. A pintura de uma rosa decorava o banheiro. Todo o piso do imóvel é de porcelanato, e o teto, na maioria dos cômodos, de gesso rebaixado. De acordo com a polícia, antes de deixar o local, o traficante quebrou parte do teto e das paredes onde, provavelmente, havia escondido drogas, armas e dinheiro.
Era no terceiro andar da casa que, segundo a polícia, FB gostava de "relaxar". Além de uma churrasqueira de alvenaria, uma ducha e uma piscina de fibra cercada por um deque de madeira completam o cenário de onde se tem uma visão privilegiada da comunidade, com direito a uma pequena vista para o mar. De uso exclusivo de FB e alguns poucos convidados, a piscina com piso que imita o calçadão de Copacabana foi tomada por crianças da comunidade, que aproveitaram a piscina para se refrescar.
Em Nova Brasília, a casa de festas do tráfico foi estourada por policiais do 6º BPM (Tijuca). A piscina com a letra G no fundo indica que o lugar pertencia ao bandido conhecido como Gão, dono das bocas de fumo da Favela Faz Quem Quer, em Rocha Miranda. Ele é apontado como braço direito de Fernandinho Beira Mar. Em volta da piscina com golfinho, uma pintura das praias da Zona Sul, sem a Favela da Rocinha, que pertence à facção rival. As festas diárias, segundo moradores, eram regadas a drogas e cerveja. Havia canhão de luz e luz negra, como numa boate, além de churrasqueira e banheira de hidromassagem.
Susto com aproximação de dezenas de bandidos
Moradores de um condomínio de apartamentos na Estrada Velha da Pavuna, situado a 200 m de um dos acesos à Fazendinha, viveram momentos de terror por volta das 17h de domingo. Um grupo de aproximadamente 30 homens, muitos armados, fugiu da favela e tentou se esconder na mata atrás do conjunto de 15 blocos, onde vivem cerca de 1,8 mil pessoas. A polícia foi chamada e houve intenso tiroteio, mas nenhum criminoso foi preso.
Cerca de 30 moradores que se divertiam na piscina notaram a presença dos fugitivos atrás do muro do condomínio e se desesperaram. A polícia foi alertada por celular e chegou em dois helicópteros. Um deles, da Polícia Civil, pousou na mata. Seis agentes desembarcaram, iniciando o confronto, que durou 15 min. Os bandidos fugiram. "Acredito que algum foi baleado", disse um policial. Moradores ficaram apreensivos. "É horrível a sensação de imaginar que traficantes podem estar escondidos aqui perto", comentou um deles.
Violência
Os ataques tiveram início na tarde de domingo, dia 21, quando seis homens armados com fuzis abordaram três veículos por volta das 13h na Linha Vermelha, na altura da rodovia Washington Luis. Eles assaltaram os donos dos veículos e incendiaram dois destes carros, abandonando o terceiro. Enquanto fugia, o grupo atacou um carro oficial do Comando da Aeronáutica (Comaer).
Cartas divulgadas pela imprensa na segunda-feira levantaram a hipótese de que o ataque teria sido orquestrado por líderes de facções criminosas que estão no presídio federal de Catanduvas, no Paraná. O governo do Rio afirmou que há informações dos serviços de inteligência que levam a crer no plano de ataque, mas que não há nada confirmado.
Na terça, todo efetivo policial do Rio foi colocado nas ruas para combater os ataques e foi pedido o apoio da Polícia Rodoviária Federal (PRF) para fiscalizar as estradas. Ao longo da semana, Marinha, Exército e Polícia Federal passaram a integrar as forças de segurança para combater a onda de violência.
Desde o início dos ataques, o governo do Estado transferiu 18 presidiários acusados de liderar a onda de ataques para o Presídio Federal de Catanduvas, no Paraná. Os traficantes Marcinho VP, Elias Maluco e mais onze presidiários que estavam na penitenciária de Catanduvas foram transferidos para o Presídio Federal de Porto Velho, em Rondônia.
Na quinta-feira, 200 policiais do Batalhão de Operações Especiais (Bope) entraram na vila Cruzeiro, no Complexo da Penha. Muitos traficantes fugiram para o Complexo do Alemão. O sábado foi marcado pelo cerco ao Complexo do Alemão. À tarde, venceu o prazo dado pela Polícia Militar para os traficantes se entregarem. Dentre os poucos que se apresentaram, está Diego Raimundo da Silva dos Santos, conhecido como Mister M, que foi convencido pela mãe e por pastores a se entregar. Na manhã de domingo, as forças efetuaram a ocupação do complexo.
Desde o início dos ataques, até a incursão no Complexo do Alemão, no domingo, 28, pelo menos 38 pessoas morreram em confrontos no Rio de Janeiro e 181 veículos foram incendiados.
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