Sob pressão internacional, Costa do Marfim vive confusão pós-eleição
Vários líderes internacionais manifestaram seu apoio a Ouattara. Na quinta-feira, a CEI (Comissão Eleitoral Independente) declarou o oposicionista vencedor do segundo turno presidencial com 54,1% dos votos válidos, contra 45,9% de Gbagbo.
Mas após o atual presidente e seus simpatizantes terem afirmado que houve fraude na votação, o Conselho Constitucional alterou o resultado e anunciou que Gbagbo foi o vencedor, com 51% dos votos.
Estados Unidos, ONU, França e o bloco de países do oeste africano Ecowas pediram a Gbagbo que aceite a derrota.
O atual presidente está no cargo desde 2000. Seu atual mandato expirou em 2005, mas a eleição presidencial vinha sendo adiada desde então sob o argumento de que não havia segurança para sua realização.
Segundo a mídia estatal do país, Gbagbo tomaria posse para o novo mandato de cinco anos ainda neste sábado.
A eleição tinha como objetivo reunificar o país após a guerra civil iniciada em 2002, que provocou o colapso econômico da Costa do Marfim, maior produtor mundial de cacau e até então uma das nações mais prósperas da região.
O primeiro-ministro marfinense, Guillaume Soro, advertiu que a alteração dos resultados eleitorais ameaça as tentativas de estabilizar e reunificar o país.
*"CREDIBILIDADE"
O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, rejeitou a decisão do Conselho Constitucional.
"A Comissão Eleitoral Independente, observadores credenciados e confiáveis, e a Organização das Nações Unidas confirmaram este resultado e atestaram sua credibilidade", afirmou.
Ele congratulou Ouattara e disse que a comunidade internacional fará "aqueles que agiram para frustrar o processo democrático e o desejo do eleitorado pagarem por suas ações".
O presidente da França, Nicolas Sarkozy, pediu a Gbagbo que "respeite o desejo das pessoas e se abstenha de ações que possam provocar violência". A Costa do Marfim é uma ex-colônia francesa.
O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, pediu a Gbagbo que "faça sua parte para o bem do país e coopere com uma transição política suave".
O presidente do bloco Ecowas, o presidente da Nigéria, Goodluck Jonathan, disse que todos os partidos devem "respeitar e implementar totalmente o veredicto do povo marfinense conforme declarado pela Comissão Eleitoral Independente".
O chefe da missão da ONU na Costa do Marfim também declarou que considera Ouattara o vencedor da eleição, enquanto a União Africana se disse "profundamente preocupada" com os acontecimentos no país.
Ouattara se disse vencedor da votação. "Eu sou o presidente eleito da Costa do Marfim. O Conselho Constitucional abusou sua autoridade, o mundo inteiro sabe disso, e lamento pela imagem do meu país", afirmou.
CENAS DRAMÁTICAS
O país tem observado cenas dramáticas sobre o resultado da eleição desde a votação de domingo.
Na terça-feira, um representante de Ggagbo na CEI rasgou a primeira leva de resultados antes que um porta-voz da comissão pudesse anunciá-los.
Na quinta-feira, o presidente da CEI, Youssouf Bakayok, fez o anúncio dos resultados sob proteção armada em um hotel, em vez da sede da comissão, anunciando Ouattara como vencedor.
Pouco depois, o presidente do Conselho Constitucional, Paul Yao NDre, afirmou que os resultados eram "nulos" por terem sido anunciados após o prazo legal da quarta-feira.
Na sexta-feira, o conselho anunciou Gbagbo como vencedor com 51% dos votos, ignorando mais de 500 mil votos de regiões nas quais Ouattara havia vencido.
Os novos resultados passaram então a ser divulgados de maneira constante pelas estações de rádio e de TV do país.
DIVISÃO
Ouattara e Gbagbo representam os dois lados da divisão entre o norte e o sul do país em termos religiosos, culturais e administrativos, com o norte ainda controlado em parte por ex-rebeldes.
Em um comunicado, o primeiro-ministro do país, Guillaume Soro, disse que a anulação de votos "ameaça o ideal de reunificação do país".
O correspondente da BBC John James, na capital marfinense, Abdijã, disse que a decisão do Conselho Constitucional foi um choque para muitos no país, especialmente para a oposição.
Jovens simpatizantes dos dois lados tomaram as ruas de Abdijã e de outras cidades do país, atirando pedras e ateando fogo a pneus.
Ao menos quatro pessoas foram mortas nos enfrentamentos na capital nesta semana.
As Forças Armadas fecharam as fronteiras do país e as fontes internacionais de notícias foram suspensas. Um toque de recolher noturno também foi imposto.
Tanto o Exército do país quanto as forças de paz da ONU vêm patrulhando as ruas de Abdijã desde o último domingo.
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