Aparelhos usados na Educação Física, por exemplo, são da época da criação do curso
Alguns setores da UFMT sucateados há 4 décadas
Com 40 anos de existência, a Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) ainda hoje possui os mesmos aparelhos de ginástica adquiridos no fim da década 70, época de criação do curso de Educação Física. Esta situação é apenas uma entre várias outras que releva o processo de sucateamento enfrentado pela instituição ao longo dos anos, com a falta de recursos, aposentadoria de muitos professores, precariedade das salas e falta de segurança.
Somente na última década, a universidade enfrentou cinco greves de estudantes, docentes e servidores administrativos reivindicando melhorias. Uma das mais recentes mobilizações ocorreu em abril deste ano, quando estudantes do curso do Instituto de Ciências Humanas e Sociais (ICHS) montaram acampamento em frente à sede do ICHS.
“As reivindicações iam desde questões estruturais fundamentais para a continuidade de uma formação de profissional de qualidade, como a falta de professores em várias disciplinas, falta de técnicos administrativos, sucateamento das estruturas essenciais para a formação, como salas de aula, laboratórios de ensino e de informática, biblioteca setorial, entre outras estruturas de assistência estudantil como o Restaurante Universitário (RU)”, informa Rodrigo Silva, da coordenação geral do Diretório Central Estudantil (DCE).
O presidente da Associação dos Docentes, Carlos Alberto Eilert, entende que na área física a UFMT vem crescendo somente nos últimos quatro anos. “Formei em Educação Física na UFMT em 1979. Desde então, colchões, as travas, paralelas e outros aparelhos do salão de ginástica não são trocados”.
As condições do laboratório de Química, segundo ele, também chamam a atenção por conta da precariedade. “As construções e reformas estão acontecendo, mas o grande gargalo da instituição são os prédios antigos. Há prédios com rachaduras, goteiras e condições insalubres. É só olhar as condições como o pessoal o curso de Química trabalha”.
Por outro lado, Eilert lembra que muito além de obras físicas, é preciso preencher a instituição com condições de ensino. Ele contextualiza que em função de perdas de direitos adquiridos e a desvalorização da carreira ao longo dos anos um ou dois professores solicitam a aposentadoria todos os meses. “Esse número vai aumentar”, diz. Atualmente, existe um projeto de lei prevendo a criação de uma nova carreira docente para as instituições federais (IFES) alicerçada no modelo gerencial e produtivista. Hoje, a instituição conta com 200 substitutos, número apontado como déficit de docentes.
Reitora da instituição, Maria Lúcia Cavalli Neder, discorda. “Não existe sucateamento na UFMT ou em qualquer outra universidade federal brasileira. A UFMT nunca teve tantos investimentos como vem tendo. Sucateamento é quando não se tem equipamento, quando não tem carro, não tem ampliação dos cursos e concurso para professores ou para servidores administrativos”, sintetiza.
Dentro deste contexto, ela critica e diz que a manifestação dos alunos do ICHS foi por causa de uma goteira. “Se tem telha que quebra, tem, um vaso que entope, tem. Isso são coisas corriqueiras, que precisam de manutenção como em uma casa”, defende. “Sucateamento é o que ocorreu no governo passado, quando não tinha investimento, não havia contratação de professores ou servidores”, acrescenta.
Com a greve, os estudantes conquistaram algumas vitórias como a garantia de ampliação do restaurante universitário (RU), o término da construção da casa do estudante, a melhoria da estrutura física do ICHS, bem como de vários outros cursos. Ainda assim, os estudantes mantêm-se atentos para o cumprimento dos prazos acordados na negociação.
A reitora garante ainda que não faltam docentes. Porém, reconhece problemas de distribuição em algumas áreas e que vêm sendo resolvidos. “Só este ano contratamos 80 professores”, informa, acrescentando que houve ainda a compra de cinco ônibus para aulas de campo e de 15 carros para uso da instituição. A UFMT conta com cerca de 20 mil alunos, 1,3 mil professores e 1,5 mil servidores administrativos.
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