Gestão "apolítica" na Saúde tira Temporão do jogo
O cardiologista Roberto Kalil cochichou no ouvido do presidente Lula em 2007. Depois de ouvir a confidência, o petista nomeava José Gomes Temporão para o Ministério da Saúde. Naquela época, Temporão tinha padrinho e apoio político.
Médico sanitarista, ele assumiu a pasta fechando as torneiras ao PMDB, que o adotara à força na mudança ministerial daquele ano.
Lula prometera a Saúde à legenda, mas não queria "comprar" um nome qualquer após uma onda de acusações de irregularidades.
Para viabilizar o titular, pediu ao governador do Rio, Sérgio Cabral, que apadrinhasse o técnico. E ao técnico, que se filiasse ao PMDB.
A ausência de lastro político e a existência de embates com bancadas na Câmara tornaram-no o número 1 em queixas de congressistas.
A secretaria-executiva da Saúde fazia com frequência o que muitos na Esplanada evitavam: vetar emendas daqueles em desarmonia com a pasta. O gabinete ministerial, desde 2003 habituado ao entra e sai de aliados, ficou mais seletivo a representantes do Congresso.
Temporão jamais conquistaria apoio para aprovar grandes iniciativas.
Tentou implantar o que seria uma importante bandeira: um sistema para melhorar a gestão de hospitais públicos por meio de fundações de direito privado. O objetivo era facilitar compras e desburocratizar o setor. Mas perdeu a batalha e o apoio do PT, refratário às alterações.
O fim da CPMF no Senado também frustrou outro grande projeto, o PAC da Saúde. E marcas do atual Executivo na área acabaram levando a assinatura de antecessores, caso dos programas Brasil Sorridente e Farmácia Popular.
De acordo com dados oficiais, Temporão melhorou muitos indicadores do setor. Nem por isso entrou em nenhuma cotação para seguir no cargo. Na campanha, deu uma aula de quatro horas sobre o SUS a Dilma Rousseff, que elogiou: "Foi a melhor aula que tive em todo o meu tempo de governo".
A declaração foi vista como sinal de continuidade, mas, até agora, Temporão está fora do xadrez ministerial.
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