Uribe queria ação militar para conter expansão de Chávez, revela WikiLeaks
O texto fala ainda em enviar tropas para capturar líderes das Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) supostamente escondidos no país.
As sugestões fazem parte de um telegrama "confidencial" de 17 de janeiro de 2008, de autoria da Embaixada dos Estados Unidos em Bogotá. O documento descreve os assuntos que foram abordados durante a reunião entre o ex-mandatário colombiano e o chefe do Estado-Maior dos EUA, Michael Mullen.
"A melhor forma de conter Chávez, na visão de Uribe, continua sendo a ação --incluindo uso de militares", diz o despacho, assinado pelo então embaixador dos EUA, William Brownfield.
De acordo com o relatório, Uribe afirmou que Chávez tinha um plano, a ser concretizado em no máximo sete anos, para avançar sua agenda socialista bolivariana em território colombiano. Para isso, utilizaria as Farc como sua milícia.
O então presidente colombiano fala ainda que poderia enviar tropas à Venezuela, mesmo que não obtivesse autorização para isso, para capturar os líderes das Farc.
Menos de dois meses depois do telegrama, em 1º de março de 2008, as tropas colombianas bombardearam um acampamento das Farc no Equador, que Quito considerou uma violação de sua soberania e que levou o país a romper relações com Bogotá. No bombardeio morreram 26 pessoas, entre elas um dos chefes das Farc conhecido como Raúl Reyes. As relações só foram retomadas completamente no último dia 26 de novembro.
Em um outro telegrama, datado de 2007, Uribe afirmou que a expansão revolucionária de Chávez na América Latina pode ser "comparada à de [Adolf] Hitler na Europa". O despacho foi tema de reportagem no jornal "El Pais" no sábado passado (11).
Uribe fez a comparação durante reunião com sete senadores americanos e com a equipe de diplomatas dos EUA na Colômbia.
Há ainda um informe em que o psiquiatra Roberto De Vries analisa a personalidade do venezuelano. Segundo ele, as privações de Chávez na infância justificam o medo "às opiniões negativas e ao anonimato".
TERRORISMO
O telegrama disponibilizado pelo WikiLeaks revela ainda uma divergência quanto à classificação das Farc em movimento terrorista ou insurgente. Uribe insistiu que as Farc, cujas atividades são financiadas pelo "narcotráfico" e por "extorsões", e o Exército de Libertação Nacional sejam considerados grupos de atuação terrorista.
Para Chávez, ambos são movimentos insurgentes ou "beligerantes", conforme a palavra usada no relatório, formados por cidadãos que lutam por mudanças em um país que acreditam estar na direção errada.
Como forma de fazer valer sua visão sobre os movimentos, Uribe pediu aos EUA para que trabalhassem com urgência no convencimento dos vizinhos da região.
Para Uribe, esse entendimento chavista a respeito das Farc poderia prejudicar a Colômbia e a democracia regional, argumento que poderia ser utilizado na conversa com os outros países.
Se mesmo assim os líderes vizinhos insistissem em chamar as Farc e o Exército de Libertação Nacional de "beligerantes", seria necessário dizer a eles que haveria consequências negativas para o futuro dos seus países, segundo a visão de Uribe.
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