Segundo o major Jorge Vasconcelos, responsável pela comunicação da PM do Pará, os policiais envolvidos serão ouvidos quando isso for requisitado pelo IPM. Os instrutores do curso na Aeronáutica eram policiais militares da Ronda Tática Metropolitana (Rotam), que é acionada em situações de alto risco como assaltos e sequestros.
"Precisamos afastar aquela ideia de que cursos militares estão ligados a violência. Até mesmo quando ela existe, sempre tem um objetivo pedagógico e que é adotado em forças armadas no mundo todo. A violência não é admitida dentro da corporação e em lugar algum. Se houve excesso, isso será punido."
O major disse que essa metodologia pedagógica prepara o militar a enfrentar situações limítrofes durante o trabalho policial. "Dessa forma conseguimos prever a reação do militar quando ele receber uma pedrada no escudo, uma cusparada, uma laranjada e caso joguem urina nele em trabalho na rua", disse Vasconcelos.
Na própria pele
Ele afirmou ainda que é comum expor os policiais a situações semelhantes ao contexto que pode enfrentar em um conflito nas ruas. "Em treinamento da Tropa de Choque, por exemplo, o policial tem disponível o gás. Para ele entender qual o limite do ser humano ao gás, ele precisa ser exposto a esse gás. Só assim ele vai conseguir usar o equipamento na medida certa para que tenha êxito no objetivo que ele precisa para controlar uma situação conflituosa."
O major da PM disse que a corporação vai seguir todos os ritos do Código de Processo Penal Militar para ajudar a esclarecer o caso. "O instrumento correto é o Inquérito Policial Militar e, por razões éticas, vamos aguardar as decisões da Aeronáutica sobre o caso. Por princípios jurídicos, não podemos instaurar um novo inquérito para apurar o mesmo fato. O resultado vai mostrar o que realmente ocorreu. "
Vasconcelos disse que o intercâmbio entre as Forças Armadas e a Polícia Militar é comum. "Eu mesmo já fiz cursos na Aeronáutica e essa troca de conhecimento técnico é importante."
Treinamento agressivo
Nas imagens divulgadas nesta quarta-feira (15), as agressões começam antes do primeiro exercício. Um soldado leva pauladas nas costas porque teria demorado a guardar a mochila. Durante o treinamento, os militares também são atingidos nas pernas e levam tapas no rosto.
Em outro trecho, os soldados recebem cordas e uma ordem: "O ajuste aqui, senhores, é entre os senhores mesmo. É lambada da moda mesmo, é pra quebrar no pau". E os colegas se agridem com chibatadas por mais de três minutos.
Depois do exercício, um dos soldados se contorce de dor. Um colega tenta ajudá-lo, mas o instrutor o obriga a retornar ao grupo.
Outro lado
Em nota, o Comando da Aeronáutica disse repudiar todo ato de agressão ou constrangimento a seus profissionais, e não tolera abusos ou excessos ainda que no contexto de treinamento militar. As formações específicas em nossas diversas áreas de atuação não contemplam, de forma alguma, ações de violência, o que serão consideradas sérios desvios de condutas.
Ainda de acordo com o documento, após assistir às imagens, o Comando da Aeronáutica determinou, de imediato, que fosse aberto um IPM para investigar as responsabilidades. Já foi apurado que as imagens referem-se ao estágio de operações especiais, que aconteceu no primeiro semestre de 2009, e não refletem a dinâmica prevista para o curso.
Segundo a nota, as imagens não são de aulas de formação para soldados recém-incorporados à instituição. Nesse estágio, ocorrem instruções especializadas para militares já engajados e voluntários interessados em compor o Pelotão de Operações Especiais, tropa de elite da organização, grupo capacitado para atuar em situações de extrema periculosidade, pressão psicológica e alta complexidade.
O Comando da Aeronáutica, ainda em nota, disse que tal fato contraria a importância dada à valorização dos profissionais que fazem parte do seu efetivo. As responsabilidades serão apuradas no mais breve espaço de tempo possível para que a situação seja completamente esclarecida
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