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Ciência
Quinta - 16 de Dezembro de 2010 às 16:43

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Os homens que cresceram na região de St. Louis, nos Estados Unidos, no início da década de 1960, e morreram de câncer na meia-idade, tinham mais do que o dobro de estrôncio radioativo em sua primeira dentição do que os homens ainda vivos nascidos na mesma região e na mesma época, segundo um estudo baseado em dentes coletados há anos pela Universidade Washington, em St. Louis.

O estudo, publicado em 1º de dezembro na publicação "The International Journal of Health Services", analisou dentes de leite coletados durante a época em que os Estados Unidos e a União Soviética conduziam testes nucleares na atmosfera. O estudo pretende ajudar cientistas a determinar os efeitos de pequenas doses de radiação sobre a saúde, e dizer quantas pessoas morreram devido às cinzas nucleares (a radiação residual da explosão de bombas atômicas). Existem pouquíssimos dados confiáveis sobre a relação da radiação em doses baixas ao câncer, então os cientistas usam extrapolações a doses mais altas --o que introduz grandes incertezas em seus cálculos.

O estudo sugere que as mortes pelas cinzas nucleares podem chegar, mundialmente, a "muitos milhares", disseram os autores, Joseph J. Mangano, e Janette D. Sherman, ambos do Projeto de Radiação e Saúde Pública --um grupo de pesquisa sem fins lucrativos estabelecido em Nova York.

Entretanto, um cientista com longa experiência no assunto, Kevin D. Crowley, principal diretor da Comissão de Estudos Nucleares e de Radiação, no Conselho Nacional de Pesquisa, pediu cautela na interpretação das descobertas.

"Soa como se o melhor que você pode fazer é dizer que isto é uma associação", explicou ele. "Uma associação não é necessariamente causal".

R. William Field, epidemiologista da Universidade de Iowa, elogiou os autores por explorar a associação entre as cinzas nucleares nos dentes e o câncer, mas disse que a amostragem era pequena demais e que o estudo possui outras limitações. Ele pediu por continuidade. Os autores do estudo já haviam tentado, anteriormente, ligar o estrôncio nos dentes de crianças crescendo perto de usinas nucleares às liberações dessas usinas, mas essas descobertas não ganharam grande aceitação científica. Os níveis de estrôncio no corpo de uma pessoa podem ter mais ligação com onde sua comida foi cultivada do que com onde ela mora. Além disso, a Comissão Regulatória Nuclear calculou que as doses de estrôncio radioativo no meio-ambiente elevam em apenas 0,3% a exposição do norte-americano médio.

Porém, este estudo tenta ligar diferenças na contaminação dental de forma mais direta com consequências à saúde. O estudo mediu a proporção de cálcio, parte básica da construção de dentes e ossos, ao estrôncio 90, que é absorvido da mesma forma que o cálcio. Os autores afirmaram ter usado o estrôncio como um substituto a todos os componentes de longa vida das cinzas nucleares --e escolheram garotos nascidos num período em que havia trégua nos testes atmosféricos, de forma que a exposição desses garotos a materiais radioativos de vida curta, no útero ou nos primeiros meses de vida, foi minimizado. Eles limitaram sua pesquisa a meninos porque os homens raramente mudam seus nomes, e isso facilitava o acompanhamento.

Os autores descobriram que, de três mil doadores de dentes nascidos em 1959, 1960 ou na primeira metade de 1961, 84 haviam morrido, 12 deles graças ao câncer. Os autores selecionaram dois casos de "controle", pessoas ainda vivas, para cada caso de morte. Os controles eram nascidos no mesmo país, num intervalo de 40 dias do nascimento daquele que havia morrido. O estudo comparou incisivos com incisivos, e molares com molares.

As pessoas que posteriormente morreriam de câncer apresentavam uma média de 7,0 picocuries (unidade de medida de radiação) por grama de dente; os casos de controle, que nunca tiveram câncer, tinham uma média de 3,1 picocuries por grama.

Mas o cenário não está totalmente claro. Medições dos dentes de pessoas que posteriormente tiveram câncer, mas sobreviveram, não mostraram níveis de estrôncio marcadamente diferentes daqueles que nunca chegaram a ter câncer, segundo o estudo. Uma razão pode ser que esses cânceres não-fatais fossem pólipos e melanomas, não relacionados à radiação. 






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