Polícia prende 130 em protestos contra governo na Rússia
A polícia russa prendeu pelo menos 130 manifestantes na sexta-feira durante protestos de Ano-Novo em Moscou e São Petersburgo contra restrições à liberdade de reunião e a manutenção na prisão do magnata Mikhail Khodorkovsky.
Líderes de oposição estão entre os 70 detidos na capital russa, segundo um site de oposição e a imprensa não oficial.
Ativistas, alguns deles com cartazes que chamavam o premiê Vladimir Putin de "inseto", protestavam contra a decisão judicial desta semana de manter o magnata Khodorkovsky, condenado por roubo e lavagem de dinheiro, na prisão por mais seis anos.
Em São Petersburgo, a polícia afirmou que prendeu cerca de 60 pessoas, que protestavam no centro da ex-capital imperial.
CONDENAÇÃO
Um juiz russo determinou nesta quinta-feira que o magnata Mikhail Khodorkovsky e seu sócio Platon Lebedev permaneçam presos até 2017 --uma sentença ditada pelo primeiro-ministro Vladimir Putin, segundo a defesa.
Eles foram condenados pelo roubo de milhões de toneladas de petróleo e a lavagem de US$ 23,5 bilhões, num caso considerado pelo Ocidente como um teste ao estado de direito da Rússia.
Denis Sinyakov/Reuters | ||
O ex-magnata russo Mikhail Khodorkovsky, condenado a 14 anos de prisão nesta quinta-feira |
O juiz moscovita Viktor Danilkin atendeu a solicitação dos promotores e ordenou que Khodorkovsky cumpra uma pena de 14 anos de prisão, incluindo sua condenação atual de oito anos por fraude fiscal, e contando a partir do dia de sua prisão, em outubro de 2003.
O juiz disse que Khodorkovsky e Platon Lebedev, outro acusado, não poderiam ser corrigidos sem "isolamento da sociedade". Ambos observaram a declaração do juiz dentro de uma cela com paredes de vidro na sala do tribunal.
Vestido de preto, Khodorkovsky parecia espantado quando Danilkin anunciou a sentença. A pena anterior deveria acabar em outubro do ano que vem. Os advogados do magnata dizem que a sentença foi proferida sob pressão do primeiro-ministro Vladimir Putin.
Analistas consideram que o fato, conhecido como caso Iukos, foi orquestrado pelo poder russo para quebrar um empresário muito independente, que financiava a oposição e não hesitava em contradizer o presidente da época, Vladimir Putin, atual primeiro-ministro, considerado o homem forte do país
A Iukos, ex-representante da indústria de petróleo russo, foi desmantelada durante um primeiro processo, em benefício de empresas ligadas ao poder.
REAÇÕES
"Que Deus amaldiçoe você e seus descendentes", gritou a mãe de Khodorkovsky, Marina, ao juiz, enquanto ele saía às pressas da corte, imediatamente após proferir a sentença.
Khodorkovsky nega as acusações. Simpatizantes dizem que a condenação faz das promessas do presidente russo, Dmitri Medvedev, de melhorar o estado de direito uma piada.
"A sentença foi claramente emitida sob a pressão das autoridades do executivo, lideradas, como antes, pelo senhor Putin", disse o advogado Yuri Shmidt, da equipe de defesa.
"Putin indicou à corte quem é o chefe hoje e quem decide hoje o destino e a vida de Khodorkovsky", afirmou ele.
A Rússia afirmou que o julgamento é assunto de seu sistema judiciário e rejeitou as sugestões "sem fundamento" dos EUA de que o veredicto era resultado de uma justiça seletiva.
Numa conversa com os russos, televisionada em 16 de dezembro, Putin afirmou que Khodorkovsky tinha sangue nas mãos e que "um ladrão precisa estar na cadeia", evocando o fraudador norte-americano Bernard Madoff para dizer que uma pena de 150 anos seria adequada, caso fosse permitida pela lei.
Simpatizantes de Khodorkovsky acusaram o tribunal de fazer com que o veredicto fosse pronunciado justamente antes do Ano Novo, marcando o início de um período de festas que vai até 10 de janeiro, durante o qual os jornais estão em recesso.
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