Mais de 40% das vítimas do sexo masculino disseram ter ingerido bebida alcoólica antes de sofrer a violência
Homens são 71,1% das vítimas de violência urbana
Os homens jovens, de 20 a 29 anos, de cor parda e com escolaridade média de 5 a 8 anos de estudo foram as principais vítimas de violência urbana no Brasil em 2009. Do total de 4.019 atendimentos em unidades de referência para acidentes e violências, 2.915 foram de pessoas do sexo masculino (71,1%), contra 1.098 do sexo feminino (28,7%).
Os dados são do Sistema de Vigilância de Violências e Acidentes (VIVA) e foram coletados com base nos registros de 74 unidades sentinelas de 23 capitais e Distrito Federal, entre setembro e novembro de 2009. O número total de atendimentos decorrentes de violências correspondeu a 10,1% da amostra do estudo, que inclui, ainda, os casos de acidentes (89,9% do tototal).
Este inquérito permite ao Ministério da Saúde traçar o perfil de pessoas vítimas de acidentes e de violências para, a partir dessas informações, subsidiar ações de enfrentamento a esses problemas consolidados em políticas públicas de prevenção e de promoção da saúde e de cultura de paz.
“Sabe-se que os homens se expõem mais aos fatores de risco do que as mulheres e a maioria dos casos ocorreram em via pública, caracterizando violência urbana”, esclarece a coordenadora da área de Vigilância e Prevenção de Acidentes e Violências do Departamento de Análise de Situação de Saúde (Dasis), Marta Silva.
Os dados confirmam tendência verificada na primeira edição do VIVA, em 2006, de que os homens se envolvem mais em atos violentos do que as mulheres. As principais vítimas foram pessoas jovens, na faixa dos 20 aos 29 anos. Os percentuais foram de 36,5% para os homens e de 30,7% entre as mulheres.
Em segundo lugar, com 20,6%, estão as pessoas de 30 a 39 anos para o sexo masculino; e de 10 a 19 anos para o sexo feminino. Em terceiro aparecem pessoas com idade entre 10 a 19 anos para homens (17,9%) e de 30 a 39 para mulheres (20,5%).
Em 30,2% dos casos as vítimas declararam ter de 5 a 8 anos de estudo. Outros 27,7% dos entrevistados disseram ter entre 9 a 11 anos de escolaridade. O percentual dos que frequentaram a rede de ensino por um período de até 4 anos foi de 23,9%. O questionário não foi aplicado a crianças com menos de 6 anos e a portadores de transtorno mental grave.
BEBIDA ALCOÓLICA – Mais de um terço das pessoas que buscaram atendimento médico em unidades de urgência e emergências para violências chegaram alcoolizadas ao local. Do total de 4.019 pessoas avaliadas, 1.446 (37,5%) declaram ter ingerido bebida alcoólica antes de se envolver em situações de violência. Realizado desde 2006, esta é a primeira vez que o estudo incluiu a pergunta direta à pessoa atendida sobre uso de bebida alcoólica.
Além do alto índice de pessoas atendidas que admitiram ter bebido, outras 1.288 (31,3%) foram classificadas como suspeitas pelos entrevistados de estarem alcoolizados ao chegar aos serviços de atendimento a vítimas de violência.
Nesse quesito, os percentuais entre os homens são o dobro daqueles verificados para as mulheres – 41,6% dos pacientes do sexo masculino declararam ter bebido, e outros 36,7% foram suspeitos de beber álcool no dia que procuraram atendimento médico. Para as mulheres, os percentuais foram de 21,1% e 18%, respectivamente, para as que afirmaram ter bebido e as que ficaram sob suspeita.
Para o Ministério da Saúde, esse dado pode estar associado ao tipo de violência (89,5% dos casos registrados foram agressão/maus-tratos), ao local de ocorrência (41,4% ocorreu em via pública e 33,7% em residências) e ao provável autor de agressão (desconhecido 37,2% e amigo ou conhecido 29,7%), o que caracteriza a violência urbana.
RAÇA E COR – O número de pessoas de cor parda (2.207) e preta (714) vítimas de violências somou 2.921 atendimentos do total de 4.019 registrados pelo VIVA. Isso corresponde a 72,8% dos atendimentos entre setembro e novembro de 2009. O total de pessoas de cor branca somou 907 atendimentos (26,3%). Os serviços atenderam, ainda, 90 pessoas (2,3%) de cor amarela e 22 indígenas (0,5%). Setenta e dois (1,7%) registros ficaram sem informação sobre raça e cor.
“O fato de temos a maioria dos atendimentos ocorrendo na parcela identificada como parda e preta aponta para as relações de gênero e racismo. Sabe-se que as diferenças raciais associam-se às desigualdades sociais, que condicionam as ocorrências de eventos violentos nas comunidades”, afirma Marta Silva.
VIOLÊNCIA FÍSICA – Os dados do Ministério da Saúde revelam que a agressão física é responsável por 94,1% dos atendimentos a pessoas vítimas de violências nas unidades de urgência e emergência. Do total de 4.012 pessoas atendidas, 3.346 foram vítimas de violência ou agressão.
A maior parte das agressões (37,2%) foi cometida por pessoa desconhecida. No entanto, amigos ou conhecidos aparecem como segundo grupo de prováveis autores das agressões (29,7%). Em terceiro lugar, surgem os ex-companheiros das vítimas (13,5%), o que revela a violência doméstica.
Porém, a soma dos percentuais em que os(as) prováveis autores(as) das agressões são pessoas próximas das vítimas (familiares, amigos, conhecido, companheiro ou companheira) chega a 55,6% dos casos.
Os homens são citados como prováveis autores da agressão em 77,7% dos casos. Para mulheres, o percentual é seis vezes menor (13,1%).
A força física foi relatada como principal meio de agressão, tanto no geral (61,7%) quanto para os sexos feminino (73,6%) e masculino (57,2%). Em segundo lugar as agressões com uso de armas brancas e objetos perfurocortantes como facas (29,8%) para os homens e ameaça verbal (27,7%) para as mulheres.
Em 50,3% de todos os casos, cortes ou laceração foram os resultados do ato violento. As áreas preferenciais para as agressões foram o rosto e outras regiões da cabeça (32,3%), especialmente entre homens (34,4%). Entre as mulheres o percentual foi de 27,2%.
No geral, os braços vêm em segundo lugar como alvo preferencial das agressões (20,7%). Os percentuais são próximos para os sexos feminino (21,6%) e masculino (20,3%). Aqueles que tiveram múltiplos órgãos e regiões do corpo atingidas corresponderam a 14,1% do total de registros, 14,7% entre mulheres e 13,8% dos homens.
De acordo com o Dasis, o inquérito realizado com as informações do VIVA capta mais facilmente as violências que resultam em algum tipo de lesão física, como os traumas, ferimentos e fraturas, os quais demandam atendimento de serviço hospitalar.
“As agressões físicas são as causas destes tipos de lesões, por isso o seu predomínio dentre os atendimentos provocados por violências. No entanto, ainda existem outros tipos de violência, que não a física, captadas pelo inquérito e que são minoria, pois às vezes nem chegam a procurar atendimento nos serviços de emergência”, explica Marta Silva. “Esses casos podem estar associados à violência contra criança sem lesão física grave, à violência sexual e psicológica ou negligência”.
O local mais comum da violência foi à via pública, como ruas e praças (41,4%), seguida da residência (33,7%). As pessoas do sexo feminino foram mais vítimas de violências nas residências (56%) e as do sexo masculino foram mais vitimados nas vias públicas (47,9%). Em geral, a violência ocorre nos fins de semana (43,9%) e os atendimentos são mais comuns à noite, entre 18h e 0h.
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