Segundo a associação que representa os concessionários de veículos do país, Fenabrave, pelo menos 45 mil veículos do volume recorde de vendas registrado em dezembro fizeram parte de um esquema que passou a ser conhecido no setor como rapel.
A prática, que remete ao esporte vertical de descida de paredões com cordas, ocorre em períodos chave, como finais de ano, e envolve emplacamento de veículos vendidos pelas montadoras aos concessionários antes da efetiva venda a cliente.
O sistema, que ajuda a impulsionar os números de licenciamentos de veículos do país, acaba transformando um veículo novo em usado, reduzindo seu preço ao cliente e a margem de lucro da loja, e aumentando estoques, segundo o presidente da Fenabrave, Sergio Reze.
Em dezembro, melhor mês de vendas de veículos novos na história do Brasil, foram emplacados 361.197 automóveis e comerciais leves, um salto de 30,2 por cento sobre um ano antes e de 16,1 por cento na comparação com novembro.
O número de dezembro foi espetacular, mas analisando friamente isso ocorreu pelo efeito rapel. As montadoras induziram a rede de concessionários a antecipar emplacamentos de veículos. Foi briga por participação de mercado (das montadoras), disse o presidente da Fenabrave.
TOMBO EM JANEIRO?
Depois do salto em dezembro, os licenciamentos de janeiro devem recuar na comparação com o mês passado, mas Reze rejeitou indicações de montadoras sobre uma queda acentuada. Algumas montadoras estão falando em queda de 30 por cento, mas isso é absurdo, seriam cerca de 90 mil carros (a menos)... Vai cair, mas não tudo isso.
O ano de 2010 acabou terminando novamente com a Fiat na liderança de emplacamentos de automóveis e comerciais leves, com participação de 22,84 por cento do mercado, seguida pela Volkswagen, com 20,95 por cento. A General Motors teve 19,75 por cento e a Ford ficou com 10,1 por cento.
No total, as vendas do ano passado somaram 3,33 milhões de automóveis e comerciais leves, crescimento de 10,6 por cento sobre 2009.
Reze não citou marcas específicas, mas comentou que praticamente todo o setor tem promovido a prática de rapel. Desde março de 2010, quando acabou incentivo fiscal do governo ao setor, a indústria tem registrado recordes sucessivos e atribuído essa sequência à economia aquecida.
Para 2011, a Fenabrave espera um aumento de 4,2 por cento nas vendas de automóveis e comerciais leves novos no país, para cerca de 3,47 milhões de unidades, no que seria o quinto recorde anual consecutivo. Incluindo ônibus, caminhões e motos, a expectativa sobe para alta de 5,2 por cento, a 5,59 milhões de unidades. Os números foram calculados pela consultoria MB Associados.
Crescer cerca de 5 por cento ao ano é espetacular, são quase 200 mil veículos a mais todo o ano. A previsão agora é que esse crescimento se modere, disse Reze.
Segundo ele, as medidas adotadas pelo Banco Central no início de dezembro para frear o crédito e conter a inflação não devem ter efeito significativo no setor este ano. Até ontem, não teve efeito, o que está demonstrando que o consumidor continua tendo condições de compra. Não houve aumento de juros num nível de assustar, o sistema está funcionando num ritmo tranquilo.
O presidente da Fenabrave afirmou ainda que o setor encerrou dezembro com estoque médio de veículos equivalente a 40 dias de vendas.
CAMINHÕES SEGUEM EM EXPANSÃO
A Fenabrave informou que as vendas de caminhões e ônibus somaram 20.301 unidades em dezembro, alta de 34,4 por cento sobre o mesmo mês em 2009 e aumento de 18,7 por cento ante novembro. No fechado do ano, foram vendidos 185.950 caminhões e ônibus, avanço de 41,15 por cento na relação com 2009.
O mercado de caminhões passou de momento de recuperação para efetivo crescimento. A economia está avançando nas áreas de indústria, agricultura e minério e, por isso, é tranquilo dizer que as vendas de caminhões continuarão crescendo, disse Reze.
As vendas de motocicletas, por sua vez, somaram 197.405 unidades em dezembro, alta de 24,54 por cento sobre novembro e expansão de 25 por cento sobre um ano antes. Em 2010, foram comercializadas 1,8 milhão de motocicletas, aumento anual de 12,1 por cento.
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