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Domingo - 09 de Janeiro de 2011 às 18:43
Por: Ronaldo Couto

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A região do Araguaia é que tem mais terras e potencial turístico a desenvolver no estado
A região do Araguaia é que tem mais terras e potencial turístico a desenvolver no estado

Um artigo escrito pelo advogado Eduardo Gomes de Andrade está circulando neste final de semana no Vale do Araguaia, em que o profissional tece críticas ao fato de nenhum político ou técnico da região não estar presente na equipe do governador Silval Barbosa. Segundo advogado, isso é uma crueldade com a região mais promissora do estado porque tem o maior número de terras abertas e potencial turístico a se explorar.

O articulista acredita que o Araguaia não elegeu ninguém para Assembléia Legislativa devido à qualidade dos candidatos apresentados. Todavia, ele explica que esse não pode ser motivo para o Vale ficar excluído do poder ou distribuição do poder.

O advogado adverte que o governador não pode governar apenas para instituições e para algumas regiões do estado de forma segmentada, e ressalva ainda que isso pode despertar o sentimento separatista do Araguaia, novamente.

A região do Araguaia conta com uma população de 280 mil habitantes em 33 municípios e a principal cidade da região é Barra do Garças, com 56 mil habitantes. Na última eleição, 19 candidatos concorreram a uma vaga de deputado estadual, mas nenhum obteve êxito.

O mais votado entre os 19 foi o ex-deputado Adalto de Freitas, que chegou a ser cogitado para ocupar uma secretaria pelo fato de ser do PMDB. Outro nome que apareceu entre os ‘quase’ secretários foi do empresário Leandro Soares, capitaneado pelo pai, o conselheiro Alencar Soares Filhos, mas também naufragou.


Veja na íntegra o artigo do advogado Eduardo Gomes de Andrade.


De safanões

Silval Barbosa abandona o Vale do Araguaia antes mesmo de efetivamente começar seu segundo governo. O desprezo do governador peemedebista com aquela região se estampa na composição do secretariado e das figuras que fervilham nos escalões subalternos comissionados e que ali chegam pelas mãos dos deputados, senadores, prefeitos, (em tese) partidos (mas na verdade pelo sinal verde de seus caciques) e tantos outros critérios ou falta dos mesmos.

Nada justifica o vácuo do Araguaia no governo estadual. A argumentação de que a região não conseguiu eleger sequer um parlamentar é infundada, porque governo não se faz somente com políticos. Entendo que na eleição de outubro a classe política daquela área não ofereceu boas escolhas ao eleitorado, o que resultou na máxima popular: “Povo é juiz que não erra”. Porém, sei que nos municípios do Intervales – na extensa faixa entre a margem esquerda do Araguaia e a direita do Xingu - existem figuras competentes e bem expressivas em diversos segmentos econômicos e sociais, que poderiam representar os interesses regionais da população que vive entre os dois grandes rios.

Estado continental tem que observar o princípio da representatividade administrativa distrital, sob pena de enfrentar problemas com insatisfação regional, o que sempre resulta em movimentos divisórios. Ninguém melhor que Silval para entender de divisão territorial, pois na década de 1990 partiu dele e por ele foi liderada a tentativa de emancipação do Nortão, onde reside.

Manter o Araguaia ausente do governo é um tapa na cara da unidade territorial mato-grossense. Aquela região precisa se fazer representar em vários setores governamentais, para que suas demandas sejam conduzidas com interesse regional e não fiquem relegadas por falta de quem as faça tramitar com a urgência necessária.

Não me atreveria a sugerir nomes para cargos, mas tomo a liberdade de vestir a camisa do Araguaia e de pedir a Silval que reveja a composição de seus assessores, antes que o Vale do Esquecidos se levante em fúria contra o governo que somente o reconhece em períodos eleitorais.

Não se concebe que acima de Água Boa – seguindo o curso das águas do Araguaia – não haja um hospital regional sequer. Que pacientes de Santa Terezinha, Vila Rica, Santa Cruz do Xingu e São José do Xingu sejam transportados por ambulâncias municipais para tratamento em Palmas, a Capital do Tocantins. Que a região (acima de Água Boa) tenha somente um aeroporto com pista asfaltada, mas que não opera noturno, como é o caso de São Félix do Araguaia, que foi construído pelo governo federal há mais de 12 anos. Que a população ainda dependa de muitas balsas, inclusive para atravessar rumo a Goiás e Tocantins. Que o mosaico fundiário seja vergonhosa balbúrdia agrária tanto no campo quanto em cidades.

O Araguaia optou por não ter voz subserviente na Assembléia Legislativa. A região não tem representante parlamentar, mas isso não lhe rouba a condição de importante celeiro de produção de carne e grãos, de leite e lácteos; de álcool e biodiesel; de paraíso turístico ainda pouco explorado; de berço de povos indígenas que vivem em áreas intocáveis; de pátria de milhares de brasileiros e cidadãos de todas as parte do mundo, que ali escrevem no trabalho cotidiano importante página da construção de uma sociedade mais justa, fraterna e feliz.

Silval não é governador somente de seus companheiros e importantes aliados políticos. Não é governador somente da Assembléia Legislativa. Não é governador somente das relações institucionais. Não é governador somente do poder nacional representado pelo vice-presidente e seu correligionário Michel Temer. Não é governador somente da Fecomércio. Não é governador somente da Famato. Não é governador somente da Fiemt. Não é governador somente para agradar a cuiabania. Não é governador somente para fatiar o poder com os que gravitam em seu entorno. Silval da Cunha Barbosa, o menino pobre do Paraná que foi adotado por Mato Grosso é governador de todos, sem exceção, o que o faz de igual modo governante do Vale do Araguaia.

Não moro e nunca morei no Araguaia, mas não poderia me calar diante da injustiça que aquela região sofre com Silval, tanto quanto sofreu com seu antecessor Blairo Maggi. Na condição de eleitor de Silval e o tratando de igual para igual faço esta cobrança pública. Espero que o governador tenha entendimento e sensibilidade suficiente para saber que Mato Grosso é um torrão muito especial onde não há lugar para guetos e bolsões na condução da administração pública estadual nem para a prática da pseudo-xenofobia – essa sim, perigosa chama capaz de incendiar corações com o sentimento divisionista em resposta aos safanões que toma do poder palaciano.

Eduardo Gomes de Andrade é advogado e blogueiro
 






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