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Internacional
Quinta - 13 de Janeiro de 2011 às 21:28

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Para complicar a situação de devastação do Haiti, o país tem políticos e candidatos presidenciais nem sempre responsáveis e enorme risco de instabilidade.

A avaliação é de Albert Ramdin, subsecretário-geral da OEA (Organização dos Estados Americanos) e responsável pela força-tarefa do órgão para o Haiti. Ele disse a Folha ver com grande preocupação a chance de nova onda de violência no país.

Ramdin falava sobre a oficialização, em breve, da análise de uma comissão da OEA sobre o primeiro turno da eleição presidencial do país, sob suspeita de fraudes.

Trechos vazados `a imprensa indicam que a OEA vai sugerir que o candidato do governo `a Presidência seja retirado do segundo turno. O governo atual já deu mostras de resistência ao dificultar a entrega do relatório _isso depois de o presidente René Preval insistir em ser o primeiro a ver os resultados.

"Espero que políticos e candidatos entendam que há uma enorme responsabilidade agora para responder de forma muito calma ao relatório. Isso significa não convocar protestos nem apoiar nenhum tipo de ação violenta. Senão, vamos ter uma situação muito difícil", afirmou Ramdin, que falou com exclusividade `a reportagem por telefone de Washington.

FOLHA- O sr. confia em que o governo haitiano desta vez "tomará a decisão correta", como afirmou, apesar de o país praticamente não ter tido alterância de poder sem violência?

ALBERT RAMDIN - Não posso falar sobre o conteúdo do relatório [da OEA sobre analise do primeiro turno] porque não o li. O que vimos na imprensa foram pedaços de recomendações, não o texto final. Mas estou certo de que o governo haitiano tomará a decisão certa porque temos que prevenir novo surto de violência e instabilidade política. O Haiti tem muitos outros problemas que precisa abordar, e o governo sabe disso. É preciso haver clareza sobre a eleição para que possamos ir ao segundo turno. Precisamos de um presidente eleito constitucionalmente para que ele possa começar a trabalhar nos prolemas reais do Haiti, promover crescimento econômico, a volta dos 1,7 milhões de pessoas que estão vivendo em tendas, a questão da cólera. Há tanto a ser feito. Há uma enorme responsabilidade sobre as autoridades haitianas neste momento.

Mas o sr. crê que seguirão as recomendações da OEA?

O primeiro-ministro disse que o governo aceitaria as recomendações. Tudo o que posso esperar é que vejam a necessidade de tomar a decisão correta, em nome da estabilidade política. E que possamos ir ao segundo turno.

O quão preocupado o sr. está com a chance de mais violência?

Estou preocupado, sim, devido ao que já vimos no passado. Tivemos mortes, insegurança, e não queremos ver isso acontecer de novo. Infelizmente, alguns dos líderes políticos e dos candidatos presidenciais não se comportaram de forma responsável. Espero que todos entendam, principalmente os candidatos, que há uma enorme responsabilidade sobre eles agora para responder de forma muito calma ao relatório. Isso significa não convocar protestos nem apoiar nenhum tipo de ação violenta. Senão, vamos ter uma situação muito difícil.

Os três principais candidatos à Presidência já foram contatados?

Falamos muito com eles durante o processo de avaliação dos resultados da eleição. Estavam informados do processo. Não sei se podemos dizer que estão todos prontos a aceitar os resultados. Vamos ter que ver nos próximos dias, quando o relatório for publicado, como vão responder.

O sr. discorda dos pedidos de anulação da eleição?

Tivemos que ser realistas e escolher a menos pior das opções. É preciso pensar se organizar novas eleições não criaria ainda mais instabilidade, pois as pessoas passariam ainda mais tempo sem um governo constitucionalmente constituído funcionando. Não nos saimos bem com um governo provisional [no passado]. Obter clareza no primeiro turno das eleições e nos movermos para um segundo turno é a melhor opção.

O sr. ainda acha possível ter um segundo turno no mês que vem?

Se o governo der uma resposta rápida ao relatório as preparações podem começar e podemos ter o segundo turno no final de fevereiro, sim.

Há muitas críticas à comissão de reconstrução do Haiti pós-terremoto. É hora de uma revisão?

Acho que o esforço da comunidade internacional tem sido de alto nível, mas precisa ser intensificado. Precisa ser mais eficiente. O foco nos próximos meses não pode ser só em projetos de longo prazo, temos que focar em alívio imediato `a população também. Precisamos trabalhar em moradias temporárias, atendimento médico, na rede sanitária, nas cidades de tenda. Não podemos ficar atentando só para grandes planos para o futuro, infraestrutura, educação, enquanto as pessoas continuam tentando superar dificuldades imediatas e sobreviver de um dia para o outro. Temos que aliviar o sofrimento dos moradores das cidades de tendas e dos que estão sofrendo com a cólera.

Sobre a cólera, como está a situação agora?

A cólera vai ser um desafio para o Haiti por muitos anos ainda. Temos milhares de doentes e gente em hospitais. Precisamos de mais ajuda. É uma vergonha que dos solicitados US$ 164 milhões para assistência `a doença só tenhamos recebido algo entre US$ 30 milhões e US$ 40 milhões. A comunidade internacional tem que agir mais.

Como o sr. vê a saída do brasileiro Ricardo Seintefus, que chefiava a missão da OEA no Haiti, do posto após dar declarações críticas `a Minustah, `as ONGs e a outras ações internacionais no país?

Seintefus não foi afastado, ele está de licença. Alguns dos comentários que ele fez foram muito infelizes nas atuais circunstâncias, enquanto a comunidade internacional está tentando ajudar no processo de paz. Enquanto pessoalmente ou academicamente podemos concordar com algumas das afirmações políticas e econômicas, é muito difícil manter essa posição enquanto funcionário da missão internacional. Mas essa não é a razão principal da saída dele. Ele tinha me dito há meses que não queria ser renovado no Haiti, e eu havia prometido que faríamos isso até dezembro. Foi uma coincidência de fatores.

Uma das coisas que ele disse é que seria preciso rever a ação da Minustah, já que o Haiti não está em guerra civil. O sr. concorda?

O mandato da Minustah é de manutenção de paz. O papel mudou lentamente desde que chegaram de manter lei e ordem para uma atuação mais de apoio. É uma decisão dos países membros da ONU de manter ou não a missão. Mas a Minustah teve um papel muito importante nos últimos anos. Se não estivesse lá durante o terremoto, a devastação e o número de mortos teriam sido muito maiores. Durante a eleição também é importante sua presença.
Vemos muitas críticas a Minustah, algumas justas e outras injustas.
No fim das contas temos que reconhecer a autoridade dos haitianos em dizer se querem ou não a presença da Minustah lá.






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