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Nacional
Domingo - 16 de Janeiro de 2011 às 22:58

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Na madrugada da última quarta-feira (12), os bombeiros de Nova Friburgo, na Região Serrana do Rio de Janeiro, começaram a atender às primeiras chamadas de emergência. Durante as cinco horas em que a rede telefônica da cidade resistiu ao temporal, os bombeiros receberam cerca de 500 ligações pedindo ajuda.

O pelotão do tenente Francisco Risso retornava ao quartel depois de atender a um dos chamados quando viu um desmoronamento de casas no centro da cidade. Esse pelotão foi o primeiro a chegar para o difícil resgate da família do pequeno Nicolas, o bebê que completa sete meses neste domingo (16) que passou cerca de 15 horas soterrado e sobreviveu sem nenhum arranhão. Os bombeiros sabiam que, durante a operação, havia o risco de um novo desabamento – o que acabou acontecendo.

“De repente, um desabamento secundário aconteceu. Foi uma coisa instantânea, a montanha de terra desceu, só deu tempo de correr e pela mão de Deus alguns conseguiram se salvar. Infelizmente, não foi a sorte dos companheiros que acabaram por falecer”, lamenta o tenente Risso.

Três bombeiros morreram. Os soldados Victor Lembo e Flávio Freitas tinham entrado na corporação em 2008. Lembo era solteiro e morreu aos 29 anos. Casado, o soldado Freitas tinha 24 anos de idade.

“Eu convivi com eles, e o Corpo de Bombeiros acaba sendo nossa família. A gente não é só bombeiro. A afinidade e a caserna, às vezes, emocionam, porque eram bons meninos”, diz, emocionado, o comandante João Paulo Mori.

O terceiro sargento Marcos Antônio Verly deixou mulher e um filho. A esposa conta que não queria que ele fosse trabalhar durante a madrugada.

A gente viveu os extremos, da tristeza e da felicidade. Mas essa é a nossa missão, sacerdócio, a vida do bombeiro é essa"
Itamar Oliveira, comandante do Corpo de Bombeiros

“Eu falei com ele para esperar o dia amanhecer. Ele disse: ‘Não se preocupa, que eu vou para o quartel. Não vou ficar na rua, vou para o quartel’. Só que ele não foi para o quartel, foi direto fazer o resgate”, conta.

O tenente Risso sobreviveu ao desmoronamento, que ocorreu dois dias antes de seu aniversário de 25 anos. “Perder os três companheiros que estavam trabalhando junto e a gente ter tido a sorte de sobreviver, é só pela interferência de Deus realmente”, relata.

“Eu tive a graça de o meu filho estar vivo, mas essas mães que perderam seus filhos na mesma profissão dele, que quando sai de casa, a gente fica desesperada, ainda mais nessa situação em que a cidade acabou”, diz Fátima Risso, mãe do tenente Risso.

Campo do Coelho
Um grupo sai do centro de Nova Friburgo e vai até o bairro de Campo do Coelho monitorando os estragos. Quando chegam, descobrem que não tem ninguém mais que possa ser salvo. A escola agora é um necrotério, e a remoção dos corpos se mostra uma tarefa difícil.

Mesmo com o reforço de militares e integrantes da Força Nacional de Segurança, os bombeiros precisam improvisar. A quadra de outra escola na região foi transformada em base de operações. As equipes estão se organizando para sair para as chamadas. São equipes mistas, formadas por integrantes do Exército, Corpo de Bombeiros e também por voluntários que vão servir de guias para identificar as localidades de difícil acesso.

A busca, agora, é por corpos soterrados. “É muito pouco provável que haja vida ainda. São quatro dias, o cheiro já está bem forte. Então, possivelmente, só um milagre”, Renato Rodrigues, parente de vítima.

Milagre
Para as famílias, algumas cenas parecem mesmo milagre, mas, na verdade, é resultado do trabalho incessante dos bombeiros. Quando chove forte em Friburgo, uma corredeira de lama se forma em uma rua. Voluntários correm para tentar ajudar os bombeiros que estão do outro lado da enxurrada. Tentam improvisar uma ponte, mas não conseguem. O jeito é tentar uma corrente humana.

Os bombeiros acabam de resgatar um bebezinho, a pequena Ana Julia. “É minha sobrinha de três meses. A gente estava em casa, só que começou a chover muito forte, não teve como a gente sair”, diz a tia da criança.

Uma segunda equipe já tinha resgatado a tia de Ana Júlia, que agora, graças aos bombeiros, pode descansar nos braços da mãe.

“A gente viveu os extremos, da tristeza e da felicidade. Mas essa é a nossa missão, sacerdócio, a vida do bombeiro é essa”, Itamar Oliveira, comandante do Corpo de Bombeiros do Rio.
 






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