Erros médicos levam cirurgiões a pensar em suicídio
O medo de perder o emprego contribui para a relutância dos médicos em procurar tratamento, segundo o estudo, que envolveu quase 8.000 cirurgiões.
Cerca de 6% afirmou ter tido pensamentos suicidas recentemente; o índice foi de 16% entre os que haviam cometido um erro médico há pouco tempo.
Apenas um quarto dos médicos com pensamentos suicidas afirmou que procuraria ajuda. Na população em geral, 3% têm pensamentos suicidas e, desses, 44% procuram tratamento, segundo outras pesquisas.
"Cirurgiões relataram muita preocupação sobre repercussões que afetassem sua permissão para exercer a medicina e muitos admitiriam se automedicar com antidepressivos", afirmou o autor do estudo, Tait Shanafelt, da Clínica Mayo.
O médico americano Robert Lehmberg, 63, do Estado de Arkansas, afirmou que foi necessário o incentivo de amigos para que ele finalmente buscasse tratamento para depressão e pensamentos suicidas há alguns anos. Apesar de ter tido medo de perder a licença médica e fica estigmatizado, nada disso aconteceu. Remédios e terapia ajudaram a resolver o problema.
O longo expediente de trabalho em uma clínica de cirurgia plástica em Little Rock --de 60 a 80 horas por semana-- contribuiu para a depressão, mas Lehmberg lembra que ele tentava sempre evitar erros médicos.
"Cirurgiões aprendem que o paciente é responsabilidade deles, ponto final. Se algo dá errado, os cirurgiões que eu conheço levam muito para o lado pessoal", disse Lehmberg, que agora trabalha em uma clínica de cuidados paliativos, ajudando a minimizar o sofrimento de pacientes terminais.
O estudo foi publicado na revista "Archives of Surgery" e encomendado pelo American College of Surgeons. As perguntas foram respondidas por e-mail, de forma anônima.
Os cirurgiões eram indagados sobre se haviam tido pensamentos suicidas no último ano. Não havia questões sobre tentativas de suicídio mas os autores afirmam que até 50% das pessoas que pensam em se matar acabam tentando.
A pesquisa não perguntou o motivo dos pensamentos, mas sugere que depressão, estresse e erros médicos contribuem. Outros fatores associados são ser
solteiro, divorciado e sem filhos.
Os médicos trabalham em média 60 horas por semana e 40% relatam estresse extremo com o trabalho ("burnout") e 30% dizem ter sintomas de depressão. A maioria afirma que o trabalho permite pouco tempo para vida pessoal e em família.
Poucos dos que trabalhavam menos de 40 horas semanais tiveram pensamentos suicidas.
As autoras Kelly McCoy e Sally Carty, cirurigãs da Universidade de Pittsburgh, afirmam que essas questão são ignoradas com frequência.
Os cirurgiões têm expedientes longos e irregulares, num ambiente que valoriza a resiliência e a autonegligência, e tende a interpretar imperfeições como falhas, afirmam as autoras.
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