Oposição egípcia se organiza para preparar mudança de regime
A oposição egípcia deu neste domingo passos decisivos para preparar-se perante uma eventual mudança de regime, com a presença do Prêmio Nobel da Paz Mohamed ElBaradei na cêntrica praça Tahrir, epicentro do protesto.
ElBaradei, muito criticado por sua ausência no começo dos protestos, reivindicou ao presidente egípcio, Hosni Mubarak, que renuncie perante milhares de manifestantes, um dia depois que desafiaram o toque de recolher imposto pelas autoridades.
"Roubaram nossa liberdade", disse o ex-diretor da Agência Internacional de Energia Atômica, e ressaltou que o movimento pela mudança "não tem volta".
ElBaradei se mostrou "orgulhoso de ser egípcio" e considerou que os cidadãos deste país vão "recuperar a liberdade", antes de prever que "este é o começo do fim" para Mubarak.
Os protestos careceram até o momento de uma figura capaz de reanimar as diferentes sensibilidades ideológicas que possa ser apresentada como um candidato capaz de dirigir uma eventual transição.
Por isso, a aparição pública de ElBaradei e o anúncio neste domingo da criação de um comitê para analisar com o Exército o final do regime outorgam uma nova dimensão à capacidade dos opositores de unir-se frente seu inimigo comum.
O dirigente da Irmandade Mulçumana Saad al-Katatni explicou à Agência Efe por telefone que "o comitê poderá manter na segunda-feira uma reunião com responsáveis militares para analisar uma possível mudança de regime no Egito".
Katatni assinalou que esse comitê que reúne diferentes movimentos opositores, quer estudar com o Exército a saída de Mubarak do país, a formação de um Governo transitório e a realização de eleições livres.
O líder opositor Ayman Nour, preso vários anos por sua oposição a Mubarak, explicou, em declarações à televisão "Al Jazeera International", que o comitê estará formado por 10 pessoas e não negociará "em nenhum caso" com Mubarak, só com os militares.
"Criamos este comitê para melhorar a situação da segurança e, sobretudo, para reivindicar que Mubarak deixe o poder", explicou o também dirigente do partido el-Ghad.
Por isso, pediu aos responsáveis das Forças Armadas que "escutem o povo" e obriguem o presidente a sair "de forma pacífica", algo que não se consideraria um golpe de Estado, já que é "seu dever constitucional".
Apesar disso, a televisão pública egípcia mostrou neste domingo imagens de Mubarak reunido com a cúpula militar e acompanhado por seu novo vice-presidente, Omar Suleiman, e o ministro de Defesa, general Hussein Tantawi.
Enquanto isso, nem o voo rasante de dois caças-bombardeiros das Forças Armadas sobre a praça Tahrir, que serviu para decretar o começo do toque de recolher às 16h horário local (12h do horário de Brasília), conseguiu amedrontar os milhares de egípcios que se manifestavam.
Pouco antes do começo do toque de recolher, os manifestantes buscavam espaço entre os tanques, enquanto se lançavam garrafas de água e alimentos para agüentar melhor a noite.
"Meu irmão está aqui, minha mulher está aqui, até minha mãe está aqui... Onde eu estaria se não aqui?", se perguntava Monzer Abdelazim, supervisor de uma usina industrial, após tirar uma foto com uma bandeira tunisiana.
Pela primeira vez desde que começaram os protestos na terça-feira passada, vários magistrados egípcios e clérigos da instituição religiosa Al-Azhar se uniram aos manifestantes no centro do Cairo.
Um dos teólogos mais conhecidos do país, o xeque Safwat Higazi, declarou à Agência Efe na praça Tahrir que se uniu aos protestos no Cairo na sexta-feira, após manifestar-se em Suez, e que não parará de marchar "até que Mubarak deixe o poder".
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