Canos velhos, danificados ou perfurados pelas "gambiarras" respondem pelo desperdício de 45% da água produzida nas estações de tratamento
800 km da tubulação têm algum problema
Cerca de 800 km da tubulação de água de Cuiabá precisa receber manutenção ou ser trocada. Os canos estão velhos, danificados e foram perfurados de maneira ilegal pela população nas populares "gambiarras". A situação do sistema faz com que 45% da água produzida nas estações de tratamento sejam desperdiçadas no caminho entre a unidade e as casas. A fragilidade também é responsável por rompimento de tubos e problemas como a falta de pressão na água e abastecimento em alguns bairros.
Conforme dados do Serviço de Saneamento da Capital (Sanecap), os canos representam 30% do que está instalado atualmente, que é 2,8 mil quilômetros. O valor total de todas as intervenções é entre R$ 700 milhões e R$ 1 bilhão, e incluem a expansão, informatização e colocação de hidrômetros na rede. Para este ano, cerca de R$ 30 milhões serão investidos, por meio de financiamentos com bancos privados. O restante do dinheiro está incluso no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) 2, mas ainda não há data confirmada para liberação do recurso de todos os projetos.
As primeiras intervenções serão nas regiões Leste e Sul da cidade, onde há maior número de reclamações por parte da população.
A conclusão de todas as obras está prevista para 2014, mas não vão garantir o abastecimentos contínuo e sim alternado, em intervalos de 24 horas. O diretor da Sanecap, Antônio Carlos Ventura, assegura que para chegar perto do ideal, a companhia precisa ainda construir uma nova estação de captação, já que a produção de água potável tem déficit de 10%.
Atualmente, os técnicos fazem um levantamento da rede atual para fazer os projetos. O trabalho é difícil, pois todo arquivo da Sanecap é em plantas de papel vegetal que foram herdadas da extinta Companhia de Saneamento do Estado de Mato Grosso (Sanemat). Ventura relata que os desenhos não são totalmente confiáveis. "Já houve casos do cano estar em local diferente e nem sequer existir".
Manutenção - As manutenções nos canos são constantes. Nos primeiros 20 dias deste ano, as estações de captação tiveram que parar por 2 vezes e ainda aconteceram rompimento de no mínimo 2 adutoras. Os técnicos precisam correr para atender a demanda e como o sistema não é controlado, os pontos vulneráveis não estão catalogados para o trabalho preventivo. Como as intervenções são emergenciais, o serviço é prejudicado pela pressa, causada pela cobrança dos moradores.
Em alguns casos, o resultado são novos problemas no mesmo ponto, como aconteceu na adutora próxima ao condomínio Belvedere, no Coxipó, e na adutora do Bom Clima, que fica à margem do rio e toda vez que aumenta o volume de água, a correnteza levava os tubos.
O presidente da Sanecap diz que, nestes casos, foi feito um novo projeto de reforço ou mudança de local da tubulação. Mas para isto, alguns bairros ficaram até 10 dias sem abastecimento.
Idade - A Sanecap estima que aproximadamente 300 km de tubulação sejam ainda de cano amianto, que não é mais usado na rede de água do país. Eles têm entre 40 e 60 anos de uso e existem recomendações das organizações de saúde para que a instalação seja restrita, pois cientistas comprovaram que caso inalado, o material pode causar doenças respiratórias, entre elas o câncer de pulmão.
Os bairros Centro, Araés, Dom Aquino, Baú, Lixeira, Poção, Campo Velho, Porto e Cidade Alta possuem os tubos de amianto. Ventura esclarece que as pesquisas não são conclusivas e não há risco de contaminação da população.
Além de passarem pela tubulação de amianto, parte das casas, principalmente as construídas pela antiga Cohab, possui caixas d"água de cimento amianto. O presidente da Sanecap relata que o produto deixou de ser usado não só pelas questões de saúde, como pela resistência, que é inferior ao PVC e ferro, utilizados atualmente.
População - No bairro Altos da Serra, água é artigo de luxo e a maior parte das casas fica até uma semana sem abastecimento. Uma das pessoas atingidas é a feirante Greiciane Conceição dos Santos, 18. Ela conta que a água vem uma vez por semana e precisa ir até a casa da sogra para lavar roupa e tomar banho. Quando o abastecimento acontece, muitas vezes é insuficiente para encher 1 balde.
Greiciane relata que o bairro inteiro paga a taxa mínima, que é R$ 16, mas também não recebe o produto. A comunidade está descrente sobre a solução do problema.
De acordo com dados da Sanecap, 50% das ligações de água de Cuiabá pagam apenas a taxa mínima, o que segundo Ventura contribui para o desperdício.
Hidrômetro - A maior parte dos bairros da região Leste e Sul tem problemas de padronização e parte deles não tem o hidrômetro instalado nas casas. O fato é uma preocupação da Sanecap por interferir na arrecadação da empresa e um dos pontos considerados prioritários para atual gestão.
O atendimento ao público da Sanecap não demonstra a mesma preocupação da diretoria. As pessoas que querem instalar o medidor passam por uma longa espera e ainda pagam mais de R$ 200 em taxas.
No bairro Doutor Fábio, o pintor Nilton Guilherme precisou ir 3 vezes até o local de atendimento, pagar R$ 240, e esperar mais de 20 dias para ser atendido. Ele construiu a casa e solicitou o medidor, mas precisou ter paciência para conseguir mudar com a família.
Guilherme assegura que na primeira visita fez o pedido e alguns dias depois, precisou receber a vistoria dos técnicos, que fizeram o cálculo do material usado. A Sanecap tem as plantas do sistema, mas como não são confiáveis, o profissional precisa ir in loco.
A segunda visita foi para o pagamento do material, que ficou em R$ 100, e mais R$ 140 do asfalto, que precisou ser cortado. A terceira vez que entrou no atendimento foi para cobrar o serviço.
Os profissionais cortaram o asfalto da rua para instalar a ligação legal, que é rara no bairro, já que muitos optam pelas "gambiarras".
A preocupação dos vizinhos é com a colocação do asfalto, que segundo atendimento da Sanecap, acontece 15 dias após a intervenção. O prazo não é respeitado em vários pontos da cidade, que ficam repletos de buracos. Na rua de Guilherme, existem outras 3 intervenções que não foram arrumadas pela companhia há mais de 1 mês.
Vazamento - O desperdício de água não acontece apenas pela "gambiarras", na rua 19, do bairro 3 Barras, o cano está estourado há 1 mês e quando há abastecimento, a água escorre com intensidade sobre o asfalto. Dibegna Cristina, 18, relata que os moradores já ligaram para a companhia, mas ninguém atendeu o pedido de manutenção.
O vazamento revolta os moradores porque parte do bairro não tem fornecimento regular. Duas ruas acima, a aposentada Ana Luiza dos Santos, 50, fica até 4 dias sem água na torneira. Ela diz que a vida é difícil e precisa pagar R$ 30 para ter meia caixa d"água e garantir as necessidades básicas da família.÷ú<1> C: marco M: marco -003-ú<3> Erro ú Erro Erro ú Erro Erro ú Erro Erro ú<4>TX: marco 30/01 19:55 ú<10> H&J: Principal
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