Farc sequestram 2 em meio a libertação de reféns; Santos critica
O presidente da Colômbia, Juan Manuel Santos, criticou nesta quinta-feira as Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia), que sequestraram dois trabalhadores em meio às operações de libertação de cinco reféns nesta semana, e disse que chegou a pensar em cancelar a missão de resgate, que conta com ajuda do governo brasileiro.
Santos disse que a guerrilha trabalha com uma "dupla moral". "Estive tentado a suspender as libertações dos sequestrados porque é totalmente inaceitável que as Farc, de um lado, estejam libertando reféns como um gesto de generosidade e do outro, capturem mais pessoas. Isto é totalmente inaceitável", afirmou.
"Exigimos a liberdade de todos os sequestrados e rejeitamos esta dupla moral: por um lado, libertando com estardalhaço e, por outro lado, continuando a sequestrar", acrescentou.
O presidente fez alusão ao sequestro de dois trabalhadores de uma empresa de papelão na região de El Tambo, departamento (Estado) do Cauca (sul), ocorrido na noite anterior ao início das operações de libertação.
As Farc libertaram na quarta-feira o vereador Marcos Vaquero, de 33 anos, refém há 19 meses. Está prevista a libertação na sexta-feira do vereador Armando Acuña, de 48 anos, do Partido Conservador, e do fuzileiro naval Henry López, de 25 anos; e no domingo, o major da polícia Guillermo Solórzano, de 34 anos, e o cabo do Exército Salin Sanmiguel, de 25, em Tolima (centro).
LIBERTAÇÃO
O vereador Marcos Vaquero, libertado na tarde de ontem (9) revelou detalhes dos 19 meses em poder da guerrilha em sua primeira entrevista coletiva após a saída da selva colombiana.
Em suas primeiras declarações Vaquero anunciou que iniciará uma campanha para pedir à guerrilha que liberte todos os sequestrados e indicou que passou grande parte do tempo na companhia de apenas um gato enquanto esteve no cativeiro.
"Foi meu companheiro de cativeiro, com ele eu falava; o mais difícil é não ter com quem conversar, não ter acesso sequer a alguém para me escutar. Isso é muito triste, muito doloroso, muito tortuoso", manifestou sobre sua dramática experiência.
Ele explicou que "caminhou muito" nos dias prévios a sua entrega e que sentiu "uma imensa alegria" ao reencontrar-se com sua família e ver seus filhos, de dez e dois anos.
O filho mais novo estava com apenas cinco meses quando o vereador foi sequestrado.
"É muito triste, duro". "Vamos fazer uma manifestação para exigir das Farc que libertem estas pessoas, para que libertem os detidos, é muito duro, doloroso e triste, pessoas que estão na selva e que não têm notícias de suas famílias".
Além disso, confessou ter corrido perigos: "às vezes passavam aviões (...), atiravam nos locais onde estávamos dormindo e começávamos a caminhar", garantiu, e confirmou que não sofreu de problemas de saúde durante seu cativeiro.
RETORNO
Vaquero se reencontrou com a mulher, os dois filhos e demais membros de sua família após a chegada ao Aeroporto Vanguardia de Villavicencio, a bordo de um helicóptero do Exército brasileiro.
Cerca de 30 familiares aguardavam sua chegada desde o início da tarde e haviam informado que a recepção incluiria um jantar com comida típica e música da região.
Inicialmente prevista para as 14h locais (17h em Brasília), a aterrissagem do helicóptero brasileiro no aeroporto do interior da Colômbia foi atrasada.
A operação durou mais de seis horas, desde que o helicóptero brasileiro partiu de Villavicencio em direção ao reduto das Farc na selva colombiana e retornou ao aeroporto.
RESGATE
Mais cedo o Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV), no entanto, confirmou o sucesso da operação de resgate do primeiro de cinco reféns que a guerrilha colombiana deve libertar até domingo, agradecendo ainda o apoio do governo do Brasil na missão humanitária.
"Um helicóptero posto à disposição pelo governo do Brasil e devidamente identificado com o emblema da Cruz Vermelha está transferindo Marcos Vaquero à cidade de Villavicencio, onde se reunirá com sua família após um ano e sete meses de separação", afirmou o CICV em comunicado oficial.
O documento revela que Vaquero, sequestrado em junho de 2009, foi entregue pelas Farc a uma missão composta por delegados do CICV, soldados brasileiros e a ex-senadora Piedad Córdoba "em uma área rural do departamento [Estado] de Meta", cuja capital é Villavicencio.
Além disso, o CICV "agradece o apoio logístico recebido do governo do Brasil, assim como as contribuições do governo da Colômbia, da ex-senadora Piedad Córdoba e das Farc-EP na realização desta missão humanitária".
A irmã do vereador, Lucía Vaquero, disse que durante o voo a Villavicencio ele comunicou por telefone com a mulher, Olga. "Ele lhe disse que estava bem de saúde, muito feliz e ansioso para ver a seus bebês", disse, referindo-se aos filhos Samir, 2, e Emmanuel, 10.
OPERAÇÕES
Após o resgate do vereador, a missão humanitária liderada por Córdoba irá de novo à selva resgatar o vereador Armando Acuña, do município de Garzón, e o soldado da Marinha Henry López.
A última etapa da missão, no domingo, será a cidade de Ibagué, de onde os helicópteros brasileiros partirão para receber o major da polícia Guillermo Solórzano e o suboficial do Exército Salín Antonio Sanmiguel.
Nas três regiões, as Forças Armadas suspenderão suas operações durante 36 horas, incluindo os sobrevoos, de forma a cumprir um protocolo de segurança firmado com o Comitê Internacional da Cruz Vermelha.
Depois da libertação, a guerrilha manterá cerca de 15 militares como reféns. Córdoba, que teve o mandato cassado no ano passado por suspeita de ligação com a guerrilha, disse que os demais reféns poderão ser libertados até junho.
A negociação em torno deles gerou a expectativa de um processo de paz entre o governo e as Farc, mas o presidente Juan Manuel Santos já alertou que a devolução dos prisioneiros é apenas uma das exigências que o grupo armado teria de cumprir.
"Isso não basta. Os colombianos exigimos, demandamos a imediata libertação de todos os sequestrados. Para começar a pensar na possibilidade de diálogo são necessários fatos contundentes: renúncia ao terrorismo, ao sequestro, ao narcotráfico, à extorsão e à intimidação", disse Santos na segunda-feira à noite.
O Brasil, que no começo de 2009 e no ano passado participou da entrega de outros reféns, aceitou servir como facilitador com os helicópteros e as tripulações para receber três militares e dois políticos depois que a guerrilha aceitou as garantias de segurança oferecidas pelo governo.
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