No outro lado do mundo, a primeira dificuldade foi a língua do país. A vida no Japão se complicou ainda mais pela falta de apoio da família da esposa. “Eu fiquei muito angustiado. Chegou o momento de querer pegar o avião para vir embora, mas não tinha condições”, disse o aposentado.
Nem mesmo a chegada de um filho aliviou a tensão. Até que um ano depois, com incentivo da mulher, ele voltou para o Brasil em busca de formação profissional. Nem imaginava que esse retorno seria o fim do casamento.
O tempo em que viveu no Japão José quer apagar da memória, mas as lembranças ainda são muito fortes, porque lá está o único o filho dele, que mora com a ex-mulher. Desde que voltou para o Brasil, ele não tem notícias do menino.
Do filho, hoje com 9 anos, José tem apenas fotos e doces lembranças. “Quando saí do Japão eu o deixei com seis meses de nascido. A partir desses 6 meses até hoje, com 9 anos, aqui no Brasil não sei se está vivo ou morto”, comentou.
José Gomes conta que consultou um advogado, mas sem dinheiro o processo não foi adiante. Desde então, ele se agarra a uma esperança que não diminui com os anos de angústia. “A saudade é grande e constante. É muita saudade. Enquanto eu não ver meu filho, eu não sossego”, afirma o aposentado.
Nos deixem em paz, disse família no Japão
No Japão, o correspondente Roberto Kovalick tentou fazer contato com a ex-mulher de José. As esperanças são poucas para o brasileiro de rever o filho. A equipe de reportagem tentou falar com a ex-mulher de José, mas a família dela não quis conversa.
A família mora na cidade Toyama, no oeste do Japão, uma região onde vivem muitos brasileiros. A repórter Sílvia Kikuchi, da IPC-TV, afiliada da TV Globo no Japão, conversou por telefone com a avó do menino. Ela informou que a filha e o neto se mudaram para a mesma província, mas não quis dar o novo endereço. Sílvia insistiu dizendo que o pai queria rever o filho. Pediu ao menos uma foto, mas a avó foi inflexível. Encerrou a conversa dizendo: “Nos deixem em paz”, e desligou o telefone.
A esperança para José é que ele não está sozinho. Há dezenas de estrangeiros na mesma situação, entre eles 136 americanos que eram casados com japonesas. O Japão não é signatário da Convenção de Haia, de 1980, que impede que os filhos sejam levados ou mantidos à força no país de origem de um dos pais. E os tribunais japoneses quase sempre dão a custódia à mãe, raramente ao pai, ainda mais se for estrangeiro.
A pressão dos Estados Unidos e de outros países fez o governo japonês dizer no ano passado que pretende assinar a Convenção de Haia, mas não informou quando. Resta esperar que essa mobilização internacional dê resultado rápido.
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