A delegada Fabiana Sarmento de Sena, do DHPP, acredita que isso seja reflexo da emancipação feminina. “As mulheres conseguem trabalhar fora, sustentar a casa, sustentar os filhos, estudar. Isso, em alguns homens, causa rejeição”, diz.
Uma das últimas vítimas foi a jovem Vanessa Duarte, de 25 anos. No dia 12 de fevereiro, Vanessa saiu de casa para se encontrar com duas amigas e desapareceu. Vinte e quatro horas depois, ela foi encontrada morta com marcas de violência sexual, em um matagal próximo a uma estrada entre as cidades de Vargem Grande e Cotia, na Grande São Paulo. Um crime brutal e misterioso.
“Eu chegava no meu serviço, ligava o computador. A primeira coisa que eu ia fazer era dar bom dia para ela”, conta a irmã gêmea de Vanessa, Valéria.
Outra vítima é Magna Roncati, de 32 anos. Ela foi encontrada morta dentro de uma mala, na represa de Mairiporã, na Grande São Paulo. O crime aconteceu em janeiro.
“Ele foi infeliz porque a mala boiou, a mala subiu. Achamos o nome da vítima da mala e conseguimos identificar a vítima e a família. Foi aí que veio a primeira suspeita”, disse o delegado Antonio José Pereira. O suspeito era namorado de Magna.
Nesta semana, ele foi preso dentro de um ônibus enquanto viajava de Fortaleza para São Paulo. Em depoimento à polícia, ele declarou ter matado a dançarina por legítima defesa, mas a família de Magna afirma que o rapaz era ciumento e agressivo.
“Ela apareceu aqui em casa, eu falei para ela que eu estava muito preocupada com ela e ela falou: ‘Por que essa preocupação? Porque eu tenho medo dele te matar”, relembra a mãe de Magna, Maria Aparecida Nascimento Soares.
O suspeito não agiu sozinho. Um amigo ajudou a transportar o corpo de Magna até a represa. Sem saber que estava sendo gravado, ele assumiu a participação no crime. Perguntado pelo delegado por ajudou, ele respondeu: “É que nem eu falei, ele já fez tanto favor, tantas coisas pra mim, que aconteceu, que na hora eu não neguei”, disse.
Dentro de casa
O levantamento da polícia de São Paulo aponta ainda um dado que assusta: a maioria dos crimes contra as mulheres acontece dentro de casa e o assassino é o companheiro.
Foi o que aconteceu com a nutricionista Raíssa Nogueira, de 31 anos. Em 2009, ela foi morta dentro de casa pelo marido. Eles estavam casados há sete anos e tinham uma filha.
“Parecia que estava tudo bem entre eles, assim, aparentemente, né? Acho que ele já estava preparando o crime”, contou a mãe de Raíssa, Juraci Aparecida Nogueira.
Segundo a polícia, o marido tinha uma amante e teria matado a mulher para ficar com o dinheiro do seguro de vida. “Ele falou: ‘Não, sogra, eu não vou me separar da Raíssa. Eu não vou me separar nem da outra nem da Raíssa. A Raíssa, só morta’”, relembrou a mãe.
Com 40 anos de profissão, o delegado Marco Antônio Desgualdo acredita que o estudo do DHPP possa indicar novos caminhos para proteger a mulher de tanta violência. A estratégia pode servir tanto para a cidade de São Paulo como para o Brasil.
“Isso faz com que a impulsividade seja controlada, porque, se ele tiver vontade de fazer, ele também tem que ter a consciência, mesmo diante do impulso, de que ele vai ser punido”, afirma o delegado.
As investigações sobre a morte de Vanessa Duarte continuam. A polícia já tem um suspeito e decretou a prisão preventiva dele. O homem teria agido com a ajuda de outra pessoa, que ainda não foi identificada.
Luis Anderlei de Oliveira era noivo de Vanessa. Nesta sexta-feira (18), ele cumpriu um triste compromisso. “Eu saí para cancelar bufê, igreja, essas coisas, porque não vai mais acontecer o que a gente tinha planejado”
Como ele, as famílias de Raíssa e Magna não se conformam com tanta brutalidade. “Acabou com a minha família porque ele não matou só a minha filha, matou a mim também”, afirma Maria Aparecida Nascimento, mas de Magna.
“Quantas mães, quantos pais estão chorando porque perderam os seus filhos com requinte de crueldade? Isso tem que acabar!”, desabafa José Francisco Nogueira, pai de Raíssa.
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