A refeição seria endereçada a um preso chamado "Bombado" ou "Bombadão" que cumpre pena na Penitenciária Central do Estado
Polícia encontra marmita "recheada" com 8 celulares
O reeducando R. L., 25, é um dos trabalhadores responsáveis pela entrega de comida nos 2 raios da penitenciária. Ele relata que entre 11h30 e 12h10 faz o trabalho de separação das comidas e em seguida, entrega nas celas. "O motorista falou que tinha uma marmita separada e era para entregar no raio 2, onde ficam 176 presos, para o "Bombadão." Ele afirma que desconfiou, pois nesta aula não são enviadas marmitas e ao ver que se tratava de uma embalagem de alumínio sem comida e somente com celulares, encaminhou a encomenda ao setor de investigação. Em 5 dos 8 aparelhos havia endereçado quais presos receberiam a encomenda: "Nego Bala" (1), "Fer" (1) e "Bebê" (3), além de um saquinho de plástico com 2 chips, endereçado a Thiago.
Motorista - No Centro Integrado de Segurança e Cidadania do Planalto (CISC), o motorista da empresa Boa Esperança Marmitaria, Denis Silva Santos, negou que tenha pedido ao reeducando para fazer a entrega da marmita recheada com celulares e desafia que seja mostrada a imagem do circuito interno. Segundo ele, foi escalado de última hora para fazer a entrega na Penitenciária. "O Vilson (motorista) chegou e me pediu para fazer o Pascoal (Penitenciária), porque tinha trabalho para fazer e em seguida, puxei o caminhão." Denis alega que foi a 1ª vez que fez entrega no estabelecimento desde que entrou na empresa há 15 dias. A rota de ontem, durante o almoço, incluiria delegacias e CISC"s e foi feita por Vilson, outro motorista, que está há mais tempo na empresa. O ajudante de cozinha,Josimil Borges de Arruda, 29, acompanhou Denis na entrega e não quis comentar o assunto. Ele se limitou a dizer que está há 3 dias na função e antes atuava em um frigorífico.
Preparo da marmita - A nutricionista responsável da empresa Boa Esperança Marmitaria, Mariângela Gonçalves, diz que todo o preparo da comida é monitorado e acredita que a encomenda não tenha sido feita junto com as marmitas normais e os hot boxes - caixas térmicas de polietileno com cubas de inox dentro, onde são armazenadas as comidas. "Ao todo fazemos 200 marmitas por período, é muito corrido, cheio de horário e estamos sempre vistoriando nos setores. São 80 trabalhadores por turno." Segundo Mariângela, os motoristas trocaram a rota sem avisá-la.
Ação - Até o fechamento desta edição (19h30), o delegado Jefferson Dias Chaves, não havia finalizado o colhimento dos depoimentos para instauração do inquérito. O motorista Denis e o ajudante de cozinha, Josimil, serão indiciados inicialmente, no artigo 349-A do Código Penal, que caracteriza crime, o ato de "ingressar, promover, intermediar, auxiliar ou facilitar a entrada de aparelho telefônico de comunicação móvel, de rádio ou similar, sem autorização legal, em estabelecimento prisional". A pena prevista para este crime é de 3 meses a 1 ano de prisão.
Monitoramento - O diretor da PCE, Jean Carlos Gonçalves, diz que as denúncias se confirmaram a partir do momento que foi encontrada a trouxinha de maconha na semana passada no fundo de um hot box. E desde então, o motorista passou a ser investigado. Jean afirma que o motorista Denis, responsável pela entrega de ontem, já esteve em outro momento na Penitenciária. Além dele, há outros funcionários suspeitos. O diretor explica que ao lado do porto principal, dentro da Penitenciária, policiais militares são responsáveis pela abertura do lacre das portas do caminhão.
O superintendente de Gestão Penitenciária da Secretaria de Estado de Justiça e Direitos Humanos (Sejudh), major Héctor Péricles de Castro, diz que monitorar 1.950 presos na PCE não é tarefa fácil e ações de fiscalização serão intensificadas. Ele afirma que se for constatado que "a empresa é conivente, será indiciada".
Para o presidente do Sindicato dos Agentes Carcerários do Mato Grosso, João Batista, é preciso pelo menos dobrar o número de agentes carcerários para filtrar as entradas na PCE. "Toda vez que essa comida chega tinha que ser revistada minuciosamente e para isso, tem que ter efetivo maior." Ele contabiliza que são apenas 20 agentes, por turno, para cuidar de toda a unidade.
Outro lado - O proprietário da empresa Boa Esperança Marmita, Rodrigo Peres, ainda não identificou quem foi o responsável pelo preparo da marmita com celulares. Segundo ele, o motorista Vilson, que faria a entrega do almoço na Penitenciária Central, e o ajudante Josemil foram os funcionários responsáveis pelo carregamento do caminhão. Também afirma que a troca de rota entre os motoristas não foi comunicada aos supervisores. Ele afirma, que após o carregamento do veículo, as portas são lacradas pelo motorista e abertas somente no local sob a vistoria de policiais. "Eu quero averiguar, porque se estiver errado, a empresa não se responsabiliza. Desde 2008 estamos prestando serviço e nunca aconteceu isso." A empresa fornece café da manhã, almoço e jantar também para o Centro de Ressocialização de Cuiabá, Cadeia de Santo Antônio do Leverger, Cadeia de Várzea Grande, delegacias e CISC"s. Em média, são fornecidas 3,8 mil refeições por dia.
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