Mercado fica cético com atuação da Venezuela e petróleo dispara
No New York Mercantile Exchange (Nymex), o barril de West Texas Intermediate (designação do "light sweet crude" negociado nos EUA) para entrega em abril fechou em US$ 104,42, em alta de US$ 2,51 em relação à quinta-feira.
Os preços do WTI dispararam cerca de US$ 18 (mais de 21%) nas duas últimas semanas e alcançaram durante a sessão US$ 104,60, seu nível mais alto desde 29 de setembro de 2008.
No Intercontinental Exchange de Londres, o barril de Brent do mar do Norte com igual vencimento ganhou US$ 1,18 no fechamento, alcançando US$ 115,97, embora abaixo de seu teto do final de fevereiro.
"Chegarão novos investidores ao mercado, isto pode levar os preços a 110 dólares e inclusive a 115 (em Nova York) em função dos acontecimentos no Oriente Médio", comentou Rich Ilczyszyn, da Lind-Waldock.
"Não acredito que seja realmente um problema de oferta e demanda, as operações são dirigidas pela emoção", acrescentou. "Com o fim de semana que chega, ninguém quer estar posicionado em baixa. Não se sabe o que vai acontecer. O risco é muito grande".
Outro fator positivo para as cotações foi que nos Estados Unidos, maior consumidor mundial de petróleo, a taxa de desemprego caiu abaixo da barreira dos 9% pela primeira vez desde abril de 2009, graças às contratações no setor privado.
VENEZUELA
As cotações do petróleo chegaram a frear a alta na quinta-feira, após alcançarem seus maiores níveis desde setembro de 2008, depois do anúncio de uma conversa entre o presidente venezuelano Hugo CHávez e o coronel Gaddafi sobre o envio de uma missão de paz à Líbia.
Mas, nesta sexta-feira, "a crise líbia continua pesando em mercados muito voláteis", apontaram os analistas da JBC Energy, segundo os quais a queda dos preços de quinta-feira "refletiu a realização dos lucros mais do que outra coisa", como a proposta venezuelana.
"Inclusive se a oferta venezuelana de mediação ajudou a fazer baixar as cotações na quinta-feira, era difícil crer que realmente pudesse contribuir com uma solução", ironizaram os especialistas do banco SEB.
A Liga Árabe afirmou que estudava a oferta, mas a oposição líbia a rejeitou categoricamente.
Inclusive um dos filhos de Gaddafi, Saif al-Islam, negou a possibilidade de uma mediação internacional proposta por Chávez.
"Respeitamos os venezuelanos, são nossos amigos, mas estão muito longe e não sabem como é a Líbia. Somos capazes de resolver nossos próprios problemas", disse. "Seria como [se um líbio] fosse negociar um acordo no Amazonas", acrescentou.
Enquanto prosseguem os combates na Líbia, a produção de petróleo deste país foi reduzida à medade, a cerca de 800 mil barris diários, segundo a companhia governamental NOC (Libyan National Oil Corporation).
INDÚSTRIA DO PETRÓLEO
Os especialistas do setor destacam, no entanto, a aparente vontade de ambos os grupos de preservar as infraestruturas da indústria de petróleo.
A Líbia, membro da OPEP (Organização de Países Exportadores de Petróleo) exporta normalmente 1,49 milhão de barris diários, a maior parte (85%) para a Europa, segundo a Agência Internacional de Energia.
Olivier Jakob, da Petromatriz, considera, por sua vez, que é preciso acompanhar prioritariamente a situação na Arábia Saudita, onde há chamados na internet para manifestações, e onde eventuais distúrbios teriam um enorme impacto no mercado.
A Arábia Saudita, líder da OPEP, é o maior produtor e exportador de petróleo do mundo. Produz cerca de 8,4 milhões de barris por dia, mas pode, segundo suas autoridades, fornecer ao mercado outros 4 milhões de barris adicionais por dia.
Este país já se comprometeu nesta semana a assegurar a estabilidade do mercado mundial e a compensar eventualmente qualquer falta de petróleo devido à situação na Líbia.
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