Orientação sobre exame de próstata leva a biópsia desnecessária
O PSA, sigla em inglês para antígeno prostático específico, aumenta com a idade, e o que é considerado normal pode variar. No geral, um nível inferior a 4 nanogramas por mililitro é considerado seguro. Porém, mesmo com uma leitura normal, acredita-se que uma elevação de 0,35 nanograma por ano seja alta o bastante para exigir uma biópsia.
Pesquisadores examinaram os registros de 5.519 homens com um nível-base de PSA inferior a 3. Eles acompanharam os participantes por sete anos, com testes anuais e uma biópsia caso o nível passasse de 4.
Eles também analisaram a velocidade do PSA --o ritmo de alterações nas leituras de um ano para o outro. Porém, após ajustar idade, PSA de base e outros fatores, eles encontraram poucas evidências de que as biópsias em homens, cuja velocidade fosse superior a 0,35, realmente ajudavam a identificar o câncer na próstata. E o procedimento foi particularmente inútil para descobrir os tipos mais agressivos de câncer, aqueles mais importantes de tratar.
Os pesquisadores, em artigo para o The Journal of the National Cancer Institute, concluíram que usar a velocidade do PSA para detecção de câncer na próstata é ineficaz, que leva a biópsias desnecessárias e que as referências a essa prática deveriam ser removidas das orientações profissionais e declarações de diretrizes.
Andrew Vickers, o principal autor, fez uma analogia: a altura de um jogador de basquete, segundo ele, é importante para sua habilidade de jogar, e se correlaciona diretamente com o tamanho de seu pé. Porém, uma vez que você conhece sua altura, o tamanho do pé é irrelevante para julgar seu valor como jogador.
Da mesma forma, é fácil demonstrar uma relação estatística entre elevações acentuadas no PSA e o câncer, mas a correlação não traz nenhum dado que já não estivesse disponível pela leitura de PSA, um exame digital e um histórico familiar. A informação, portanto, seria irrelevante para decidir se uma biópsia é necessária.
Nem todos especialistas concordam. Anthony DAmico, professor de oncologia por radiação em Harvard, diz que a metodologia do estudo de Vickers é sólida, mas que os dados coletados eram quase certamente falhos.
Segundo D"Amico, o problema é que muitos fatores sem nenhuma relação com o câncer na próstata podem causar uma rápida elevação no PSA. Atividade sexual, andar de bicicleta ou a cavalo, uma colonoscopia recente, uma infecção na bexiga ou na próstata e até mesmo variações nos procedimentos de testes laboratoriais podem afetar radicalmente as leituras.
Há uma grande chance de que a alta velocidade não seja importante em seu caso, diz ele. Porém, antes de chegar a essa conclusão, você teria um PSA repetido.
Se ainda houver um pico após a eliminação das outras causas possíveis, segundo ele, o próximo passo deve ser uma biópsia.
Vickers, pesquisador do Centro de Câncer Memorial Sloan-Kettering, em Nova York, concorda que o câncer na próstata é apenas uma das muitas razões para um PSA elevado.
Um médico vê o PSA elevado e se pergunta: Isso se deve a um câncer ou a outra razão?, diz ele. Bem, a ideia era que a velocidade do PSA o ajudasse a resolver essa dúvida que medir o ritmo da mudança seria decisivo.
Entretanto, na prática isso não funciona, segundo Vickers. Se ele houvesse aplicado rigidamente os direcionamentos aos homens de seu estudo, um em cada sete participantes teria realizado uma biópsia. Isso significaria que milhões de americanos precisariam de biópsias, disse ele, com quase nenhuma revelando câncer.
Vickers e seus colegas reconhecem que pode haver métodos mais eficientes de calcular a velocidade do PSA, levando a previsões mais precisas, e que alguns efeitos poderiam ter sido observados se os pacientes fossem acompanhados por mais de sete anos.
Porém, no atual contexto, ele é absolutamente contra biópsias baseadas apenas na velocidade.
Se o seu PSA está no intervalo normal, não se deve fazer biópsia, diz ele.
Alterações ou picos no PSA não são preocupantes se o nível ainda estiver dentro do normal.
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