Calça desfilada na apresentação de Akris durante a semana de moda de Paris
Foto: Getty Images
Deve haver um consenso na agenda dos desfiles. Cada dia parece dedicado a um tema ou a um tipo de roupa. Depois dos barrados e flaps (como estão chamando os pedaços que desabotoam por aqui) horizontais e dos zípers, hoje foi o dia da calça na semana de moda de Paris. Não que ela tenha altas novidades para contar: pelo contrario, é neutra o suficiente para completar as partes de cima, e indispensável para equilibrar a figura e substituir as meias, que quase sumiram nestas coleções.
Andrew GN deu a partida neste conceito, com um belo desfile de...blusas. Inspirado na arquitetura dos anos 1920 e 1930, ele assinou cada modelo mais rico e bonito que o outro, com detalhes de pregueados, plissados e bordados nas golas e mangas. Algumas camisas brancas são mais longas nas costas, dentro do conceito camisa/casaca frequente nesta semana. E as calças? Tipo quase nada - pretas, justas, com fecho na barra e só. Cós na cintura, cinto fininho. Dá até medo pensar nelas no corpo brasileiro, bem mais curvilíneo que das francesas e modelos. Em Celine a calça, desta vez sempre em couro, também é neutralizada pelos casacos retos, com barras horizontais em texturas mais coloridas, menos rústicas. Por exemplo, o couro em tom natural, com faixas alaranjadas, de look verniz. Há casacos de pele com corte de sobretudo, casacos mais curtos, com fechos, em aspecto meio gasto, e sempre as calças quase discretas. Quase, porque apareceu uma que lembrou o modelo Calhambeque, lançado por Roberto Carlos e sua turma da Jovem Guarda (de tão antigo, isto vai virar indumentária em vez de moda) nos anos 60. Porque é calça com metade de cada cor, também no jogo de natural e brilhante. Como se fosse utilizado direito e avesso do couro. Interessante o jeito das modelos de levarem as bolsas, pareciam capacetes de moto, debaixo dos braços.
Hermès foi menos glamurosa do que sob o comando de Jean-Paul Gaultier, mais coerente com seu possível público de senhoras elegantes e clássicas. Porque quase todos os looks têm cortes soltos, generosos, feitos nos couros bem tratados, que caem como tecidos espessos.
O jogo de calça e casaco se repete, desde a abertura em brancos off, sempre com malhas de capuz por baixo, provavelmente de cashmere, até o final dos cáftans vermelhos. Nem sempre são calças estreitinhas, como em Andrew GN e Celine. Até nisso, devem agradar a quem não tem 20 anos nem manequim 38 - são calças largas e pregueadas, obrigatoriamente usadas com botas nos mesmos tons.
Da cintura para cima, ou sobre as calças, destaque para um casaco com listras (adivinhem? Horizontais!) atravessadas em mangas largas e na frente, lembrando tecido de cobertor. Tinha até a bolsa no mesmo material, com franjas. Foi um sinal de algo índio americano no estilo, confirmado pela estampa de lenço com cocares de uma blusa com calça baggy preta. Nem tudo foi senhorial. Mais jovem, um top preto, com debruns finos de couro, com slim também de couro ou os dois looks de cashmere, um coral e outro verde-menta, com calças sanfonadas na barra e túnica longa, como joggings de luxo. Mas o vermelho, presença constante nesta semana, veio feioso, em terno de calça larga e curta e paletozinho ajustado.
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