Otan ameaça intervir se Gaddafi não acabar com violência
A Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte) aumentou nesta segunda-feira a pressão internacional sobre o ditador líbio, Muammar Gaddafi. O secretário-geral da aliança, Anders Fogh Rasmussen, exigiu uma transição rumo à democracia e advertiu que pode haver reação militar se Gaddafi continuar usando a força para conter a revolta popular.
"Se Gaddafi e suas forças militares continuarem atacando sistematicamente a população, não posso imaginar que a comunidade internacional fique somente olhando", disse Rasmussen, acrescentando: "Muita gente pelo mundo se verá tentada a dizer: "façamos algo para deter este massacre"".
Rasmussen ressaltou, contudo, que a aliança não tem prevista nenhuma ação militar e só agira se for solicitada e contar com um mandato apropriado da ONU (Organização das Nações Unidas).
"A Otan não tem intenção de intervir, mas como organização de segurança nossa obrigação é fazer um planejamento prudente para qualquer eventualidade", explicou Rasmussen em entrevista coletiva.
Os analistas da Otan estão elaborando planos sobre possíveis cenários da revolta --o que inclui uma intervenção militar.
"Temos de estar prontos para agir rapidamente", afirmou Rasmussen.
Sem querer antecipar possíveis eventos, o secretário-geral da Otan deixou claro que a comunidade internacional não permanecerá impassível se os ataques do regime de Gaddafi contra a população continuarem.
Outra opção é aplicar uma zona de exclusão aérea sobre a Líbia, ideia que alguns países tentam levar adiante para impedir os bombardeios da Força Aérea leal a Gaddafi.
A Otan já realizou duas missões de exclusão aérea na década de 1990, uma durante a guerra da Bósnia-Herzegovina e outra no conflito do Kosovo.
Rasmussen afirmou que essa ação requer um "amplo leque de recursos militares" e lembrou que a resolução sobre a Líbia aprovada por enquanto pelo Conselho de Segurança da ONU não prevê o uso da força.
Mais cedo, o Ministério de Relações Exteriores da França afirmou que a Liga Árabe é favorável à criação da zona de exclusão aérea na Líbia. O apoio da Liga, sempre muito resistente a qualquer tipo de intervenção, pode acabar com as reservas de alguns dos países membros do Conselho na hora de adotar a medida.
CONFRONTOS
Nesta segunda-feira, as forças do governo atacaram a cidade petrolífera de Ras Lanuf e combateram as tropas rebeldes em Bin Zawad e Zawiya.
Um jato desferiu um ataque aéreo nas imediações ao leste da cidade de Ras Lanuf, dominada pelos rebeldes, 600 quilômetros a leste da capital Trípoli na segunda-feira, afirmaram testemunhas.
"Havia uma aeronave, ela disparou dois foguetes, não houve mortes", disse à Reuters Mokhtar Dobrug, combatente rebelde que testemunhou o ataque. O ataque ocorreu em um dos dois postos de fiscalização da cidade.
O ataque seguiu o padrão de boa parte dos confrontos recentes, que têm sido erráticos e inconstantes, com pequenos grupos se enfrentando, no estilo de guerrilhas. Os ataques aéreos têm sido vacilantes e os bombardeios, em geral, imprecisos. Em algumas áreas, o domínio em terra vai e vem sem um resultado conclusivo.
Mas a resistência das tropas de Gaddafi diante dos protestos iniciados em meados de fevereiro e a capacidade de lançar contra-ataques aumentaram a perspectiva de que o país se dirige a um confronto prolongado.
"Está claro que o governo tem a percepção de que a vantagem do momento está ao seu lado", disse o analista militar Shashank Joshi, pesquisador associado do Royal United Services Institute, do Reino Unido.
"As forças do governo têm uma mobilidade maior do que os rebeldes graças ao transporte aéreo e uma quantidade considerável de transporte rodoviário."
"Isso é ofuscado pelo fato de que observamos uma capacidade de luta extremamente precária das forças de governo, e o combate razoavelmente competente dos rebeldes."
ZAWYIA
Uma organização de oposição disse que as forças leais ao ditador lançaram também uma nova ofensiva em Zawiya, um dos redutos rebeldes a apenas 50 km oeste da capital.
Não foi possível verificar de maneira independente o relato, já que o contato com os moradores da cidade é prejudicado pelos ataques.
O grupo Solidariedade Direitos Humanos na Líbia, que tem estado em contacto com os rebeldes, relataram que houve intensos combates em Zawiya na manhã de segunda-feira.
Em um comunicado enviado por email, o grupo disse que os rebeldes conseguiram capturar soldados pró-Gaddafi, que admitiram que foram instruídos a retomar a cidade até quarta-feira.
Um jornalista que estava perto da cidade nesta segunda-feira disse ter ouvido disparos de artilharia e visto fumaça subindo acima de Zawiya.
A televisão estatal mostrou imagens identificadas como uma base militar em Zawiya que havia sido recapturada por rebeldes na sexta-feira (4), mas não deu explicações;
Funcionários do Ministério de Relações Exteriores disseram a jornalistas estrangeiros em Trípoli que uma visita seria organizada pelo país e que eles poderiam ir a qualquer local para relatar os acontecimentos.
Os repórteres, contudo, foram impedidos de entrar em Zawiya e em outras cidades perto da capital sem escolta oficial. Horas depois do horário previsto para partida, eles aguardavam a viagem organizada pelo governo.
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