Portugal recebe emissário do regime de Kadafi
O ministro português das Relações Exteriores, Luis Amado, recebeu nesta quarta-feira um emissário líbio, a pedido dele, e em concordância com a chefe da diplomacia europeia, Catherine Ashton, confirmou um assessor. "Luis Amado manteve um encontro informal num hotel de Lisboa com o emissário líbio, para ser informado sobre a situação no país", informou o gabinete do ministro, em nota enviada à AFP.
Portugal é sede desde 1º de janeiro do Conselho de Segurança da ONU, enquanto membro não permanente. O país também foi confirmado na terça-feira para a presidência de um comitê de sanções contra a Líbia, lembrou o governo português. O encontro, com o emissário do regime líbio - o vice-ministro das Relações Exteriores Mohammed Taher Siyala, acontece na véspera de uma reunião sobre a Líbia, em Bruxelas, dos chanceleres europeus e de uma outra, dos países integrantes da Otan.
Na sexta-feira, uma cúpula extraordinária de chefes de Estado e de governo da União Europeia também abordará a situação na Líbia. Antes de se dirigir a Portugal, Taher Siyala, encarregado da cooperação internacional, fez escala em Malta para explicar ao primeiro-ministro da pequena ilha "a posição do governo líbio".
Desde sua chegada ao poder, em 2005, o governo português do primeiro-ministro José Sócrates pôs em prática uma política de aproximação econômica com vários países do Maghreb, entre eles a Líbia. Como parte desta "diplomacia econômica", as trocas comerciais entre os dois países intensificaram. As exportações portuguesas para a Líbia aumentaram 70% entre 2006 e 2010, segundo estatísticas oficiais.
José Sócrates, que em outubro de 2005 havia qualificado Kadafi de "líder carismático", visitou a Líbia quatro vezes. Sua última viagem remonta a setembro passado, durante a qual participou das celebrações do 41º aniversário da revolução líbia. O chefe do governo português, além disso, recebeu Kadafi em Lisboa, em dezembro de 2007, durante uma cúpula entre a União Europeia e a África.
Segundo Sócrates, os países du Maghreb "nos interessam muito do ponto de vista estratégico, independentemente de seus dirigentes", havia afirmado, condenando a repressão à insurreição líbia. Outros emissários do governo líbio "estariam a caminho de Bruxelas", confirmou, por sua vez, em Roma, o chefe da diplomacia italiana, Franco Frattini, após o término de uma sessão da Câmara dos Deputados.
"Dois aviões do regime líbio deixaram, aparentemente, a Líbia em direção à Bruxelas com emissários de Kadafi a bordo, com a intenção de se encontrar com representantes da UE e da Otan amanhã (quinta-feira) e depois de amanhã", informou Frattini. Um avião com um alto dirigente líbio, Abdelrahman al-Zawi, membro do círculo íntimo do líder Muamar Kadafi, aterrissou no Cairo nesta quarta-feira, informaram fontes do aeroporto. O general Zawi é responsável por questões de logística e abastecimento.
Segundo uma fonte da Força Aérea grega, o piloto do Falcon 900 da Libyan Airlines chegou a negar que houvesse autoridades entre os passageiros. "O piloto registrou um plano de voo de Trípoli para o Cairo", indicou a fonte. "A aeronave passou pelo sudoeste da ilha de Creta", antes de aterrissar no Cairo". De acordo com o gabinete do primeiro-ministro grego George Papandreou, Muamar Kadafi telefonou para ele na terça-feira.
Líbios enfrentam repressão e desafiam Kadafi
Impulsionada pela derrocada dos presidentes da Tunísia e do Egito, a população da Líbia iniciou protestos contra o líder Muammar Kadafi, que comanda o país desde 1969. As manifestações começaram a tomar vulto no dia 17 de fevereiro, e, em poucos dias, ao menos a capital Trípoli e as cidades de Benghazi e Tobruk já haviam se tornado palco de confrontos entre manifestantes e o exército.
Os relatos vindos do país não são precisos, mas a onda de protestos nas ruas líbias já é bem mais violenta que as que derrubaram o tunisiano Ben Ali e o egípcio Mubarak. A população tem enfrentado uma dura repressão das forças armadas comandas por Kadafi. Há informações de que aeronáutica líbia teria bombardeado grupos de manifestantes em Trípoli. Estima-se que centenas de pessoas, entre manifestantes e policiais, tenham morrido. Muitas dezenas de milhares já deixaram o país.
Além da repressão, o governo líbio reagiu através dos pronunciamentos de Saif al-Islam , filho de Kadafi, que foi à TV acusar os protestos de um complô para dividir a Líbia, e do próprio Kadafi, que, também pela televisão, esbravejou durante mais de uma hora, xingando os contestadores de suas quatro décadas de governo centralizado e ameaçando-os de morte. Desde então, as aparições televisivas do líder líbio têm sido frequentes, variando de mensagens em que fala do amor da população até discursos em que promete vazar os olhos da oposição.
Não apenas o clamor das ruas, mas também a pressão política cresce contra o coronel. Internamente, um ministro líbio renunciou e pediu que as Forças Armadas se unissem à população. Vários embaixadores líbios também pediram renúncia ou, ao menos, teceram duras críticas à repressão. Além disso, o Conselho de Segurança das Nações Unidas fez reuniões emergenciais, nas quais responsabilizou Kadafi pelas mortes e indicou que a chacina na Líbia pode configurar um crime contra a humanidade. Mais recentemente, o Tribunal Penal Internacional iniciou investigações sobre as ações de Kadafi, contra quem também a Interpol emitiu um alerta internacional.
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