Um estudante de 15 anos, matriculado no 2º ano do ensino médio de um colégio de Curitiba, disse que para superar o bullying teve de mudar a aparência. Ele era magro, baixo e usava óculos. O estudante afirmou que por quatro anos foi vítima de bullying, que começou com vários apelidos até a exclusão dos colegas de sala.
"Ninguém sentava perto de mim, não conseguia fazer grupos de amigos. Uma vez fui impedido até de entrar na sala de aula”, contou.
O jovem disse que teve vontade de reagir como o estudante australiano Casey Heynes, de 15 anos, que bateu no colega Richard Bale, de 13 anos, que o provocava, mas não fez isto. “Ficava recuado, mas sabia que uma agressão não resolveria o problema. Além do mais, para mim não seria suficiente, ele teria de se conscientizar.”
O estudante disse que só contou o problema aos pais, quando levou um tapa dentro da van escolar, após discutir com um colega. “No início o sentimento era de que era uma brincadeira, que iria passar, mas depois veio o medo.”
Para superar o problema e ser respeitado, o aluno começou a nadar para criar massa muscular, abandonou os óculos e mudou o estilo. "Percebi que não poderia continuar do mesmo jeito, estava mal falado. Reclamei na direção, mais não tive retorno."
Atualmente o jovem estuda em outra escola e diz que não é mais vítima de bullying, mas toda vez que presencia algum caso, aconselha a pessoa a denunciar.
Para Gabriela (nome fictício), de 14 anos, estudante da 8ª série, a conscientização é a melhor forma de acabar com o problema. "Diálogo é fundamental e as pessoas têm de entender que bullying não é coisa do passado." A aluna afirmou que quando estava na 4ª série recebia apelidos por ser baixa, por usar óculos e por estar acima do peso. "Bullying é sempre ruim, me incomodava, mas não foi algo intenso."
Vítimas são tímidas
Cléo Fante, especialista em bullying e autora de livros sobre o tema, afirmou que geralmente as vítimas de bullying são tímidas, passivas e têm dificuldade de revidar a agressão como Heynes fez. “É mais fácil usar armas de fogo, facas, até drogas e álcool para criar coragem e reagir. Ou então a vítima costuma guardar até a idade adulta para se vingar.”
Cléo teme que a reação do garoto vire modismo nas escolas. “Não foi a ação correta porque violência gera violência. O caso poderia virar um acerto de contas e ter repercussões mais graves.”
Casey Haynes (no alto) reagiu ao bullying praticado
por Richard Gale (Foto: Reprodução)
Miguel Perosa, especialista em psicologia do adolescente e professor de psicologia da PUC-SP, confirma que a reação é bastante incomum. “Comum é a vítima se diminuir, se acovardar e se sentir diminuída.”
Para Perosa, apesar de a reação de agredir o colega não ser recomendada, a sensação de autoconfiança que trouxe ao garoto é positiva.
A reação ideal, segundo o especialista, seria a de denunciar o caso de bullying à direção da escola. “A criança precisa ser defendida, e o agressor modificado. A escola precisa tomar providências, mas em muitos casos, ignora mesmo após as denúncias.”
A orientadora do Colégio Dom Bosco, em Curitiba, Francisca Maria de Fauw, disse que as escolas precisam investir em campanhas de prevenção. "O papel das escolas é informar, debater." Para ela, a reação de Haynes demonstrava que ele estava no limite.
Entenda o caso
Casey Heynes bateu no colega Richard Bale, que o provocava, para se defender. O vídeo da agressão foi postado na internet e Heynes foi considerado por muitos internautas um "herói".
A briga aconteceu em uma escola australiana. No vídeo, Richard Gale aparece provocando Casey Heynes. Em seguida, dá um soco na cara do colega, que é maior do que ele. Casey reage, agarra Richard e o atira com toda força no chão. O menino teve ferimentos leves.
Em entrevista ao programa Today Tonight, exibido nesta segunda-feira (21) pela emissora australiana Seven Network, Richard diz que o vídeo, que faz sucesso no YouTube, não conta a história toda.
“Ele me provocou primeiro", diz Richard, que é menor e aparentemente bem mais frágil em relação ao colega que ele provocou. “Casey me chamava de ‘idiota da classe’. Eu estava muito bravo e só queria bater nele”, disse o garoto. Segundo Richard, o vídeo de 47 segundos postado na internet não mostra a parte em que Casey o provoca. “Ele me empurrou e saiu correndo.”
Durante a entrevista, Richard chega a chorar, mas não mostra estar muito arrependido em ter provocado o colega de escola que é bem maior do que ele. O menino revelou que também foi vítima de bullying na escola primária. “Não vale a pena praticar o bullying porque você pode acabar se machucando.”
Os pais de Richard também participaram da reportagem exibida na emissora australiana. O pai, Peter Gale, disse que o aconteceu foi “inacreditável.” “Está sendo muito difícil. Tento fazer a coisa certa para ele e ensinar as coisas certas.” Ele disse que a atitude de Richard está fora do caráter de seu filho. Apesar de não tolerar as suas ações, ele acredita que há algo a mais nesta história do que aparenta, e se preocupa por seu filho se tornar alvo de muitas críticas. “Não foi só o Richard, mas o Casey também. Os dois.”
A mãe, Tina Gale, pediu desculpas públicas à família de Casey. "Fiquei chocada ao ver meu filho agredindo o outro menino, e mais chocada ainda ao vê-lo ser jogado no chão. Meu filho podia ter ficado paraplégico."
Vítima do bullying, Casey deu entrevista para o programa "A Current Affair", do Channel Nine, e conta que é vítima de ofensas e agressões dos colegas há mais de três anos. "Me chamavam de gordo e davam tapas na minha nuca", conta o adolescente na entrevista.
No momento mais dramático da entrevista, Casey Heynes diz que pensou em suicídio por conta do bullying. Falando sobre o vídeo popular, ele diz que pensou nos três anos de ofensas e na raiva acumulada, e decidiu se defender como pôde.
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