Alta do etanol derruba consumo em 40%
Os dados, referentes a 60% do mercado, são do Sindicom (sindicato dos distribuidores de combustíveis).
A menor demanda também chegou aos postos de combustíveis. Segundo o presidente do Sincopetro (sindicato dos postos de São Paulo), José Alberto Gouveia, entre 36% e 40% do consumo de etanol passou para a gasolina na última semana.
A retração em março ocorre após relativa estabilidade em fevereiro. Em janeiro, as vendas de etanol caíram 26% ante dezembro, mas o menor volume foi insuficiente para equilibrar o mercado.
Os preços continuaram a subir em março e o valor médio do litro atingiu R$ 2,07 na semana encerrada no último sábado, alta de 9% ante fevereiro, segundo a ANP (Agência Nacional do Petróleo).
Do início da entressafra, em novembro, até a semana passada, os preços do álcool subiram 22% no país. Em São Paulo, berço do setor, o consumidor já encontra o litro a R$ 2,30 em alguns postos.
REAÇÃO TARDIA
Nos períodos de entressafra, marcados por queda na oferta de álcool, a demanda historicamente cai. Neste ano, a reação foi mais tardia.
Para o consumidor, compensa abastecer com álcool se o seu preço for igual ou inferior a 70% do valor da gasolina. "Na maior parte dos Estados, essa relação foi ultrapassada e o consumo se manteve aquecido, o que surpreendeu", diz Alívio Vaz, presidente do Sindicom.
A Unica (associação dos produtores) afirma que o movimento atípico deve-se ao aumento do poder aquisitivo. "Todos erraram em planejamento de demanda. A economia está em outro patamar, e a reação à menor oferta foi, de fato, tardia", diz Antonio de Pádua Rodrigues, diretor da associação.
Com a recente queda na demanda, a consultoria Datagro quase dobrou a sua estimativa para os estoques de etanol no prazo de um mês. Agora, a previsão é de 1 bilhão de litros, equivalentes a 20 dias de consumo.
No entanto, os preços devem continuar altos até maio. "Os preços só vão voltar com a combinação de redução da demanda e oferta da nova safra", diz Pádua. A partir da segunda quinzena de abril, segundo ele, cerca de 50% a 60% das usinas estarão em produção.
O fato é que desde a crise de 2008 houve poucos investimentos em aumento de capacidade e a oferta de álcool não acompanha o ritmo de crescimento da demanda.
Na última safra, a oferta aumentou 2,7 bilhões de litros. "Mas isso ficou muito aquém da demanda", diz Pádua. "Não conseguimos responder à velocidade da demanda com a mesma agilidade", completa o secretário de Agroenergia do Ministério da Agricultura, Manoel Bertone.
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