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Domingo - 10 de Abril de 2011 às 10:22
Por: Raquel Ferreira

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Crianças e adolescentes costumam chegar estressados na escola e pais temem um acidente no percurso
Crianças e adolescentes costumam chegar estressados na escola e pais temem um acidente no percurso
A precariedade das estradas que ligam 16 comunidades ao Coxipó do Ouro impossibilita que 80% dos 300 alunos da Escola Municipal Rural de Ensino Básico (EMREB) Nossa Senhora da Penha de França assistam aula adequadamente. Dezenas de buracos, quilômetros de atoleiros e 20 pontes danificadas comprometem indiretamente o rendimento de toda comunidade escolar. O problema de infraestrutura já foi comunicado ao Ministério Público do Estado (MPE).
 

O diretor da escola, Ednilson Albino de Carvalho, reclama que nos últimos anos a Prefeitura de Cuiabá não deu manutenção nas vias vicinais e principal, ocasionando a situação de precariedade. "Concordo que choveu muito este ano e isso danifica as estradas, mas não justifica a situação que estamos vivendo. É reflexo do descaso da administração pública com a região".

A escola funciona em 3 períodos e atende estudantes do Ensino Básico, Fundamental e Médio. O diretor explica que a falta de parte da turma prejudica o rendimento como um todo. "O professor precisa passar o ano todo readequando o calendário, o conteúdo programático de forma que os alunos que faltam não fiquem em desvantagem. Mas termina que todos ficam prejudicados".

Ele cita que os alunos contam com transporte escolar rural feito por 1 micro-ônibus, 1 ônibus e 2 kombis, mas os veículos vivem quebrados. Carvalho revela que tiveram situações que o motorista teve que abrigar as crianças em casa por não ter condições de levá-las de volta à residência da família. "O carro atrasa, atola, quebra. Isso acontece todo dia. Hoje mesmo (quarta-feira) não foi possível buscar alunos das comunidades Rio dos Médicos e Batec, gerando um prejuízo no aprendizado de todos".

Além do problema educacional, existe a questão da segurança no transporte e a situação emocional das crianças e adolescentes que costumam chegar estressados na escola. Sem esquecer a preocupação dos pais, que temem um acidente no percurso.

A estrada principal tem 4 pontos graves de alagamento, onde os veículos têm muita dificuldade em passar. As marcas do atoleiro são visível na pista, que contam com vários pedaços de madeiras, usados como calços para permitir a passagem dos carros.

Um dos trechos mais complicados fica em frente à Fazenda Campanário, onde reside o estudante do 4º ano do Ensino Fundamental, Luan da Silva Amorim, 10. Ele revela que muitas vezes fica nervoso dentro do ônibus, que sacode demais. O aluno reclama ainda que, às vezes, precisa faltar às aulas por causa do atoleiro ou porque o transporte quebra no caminho. "Queria que arrumassem pelo menos um pouco a estrada, para eu poder chegar tranquilo na escola".

Mãe de 2 alunos da unidade escolar, a dona de casa Eva Rainha da Silva, 36, foi ao colégio em busca de resposta para a situação das estradas. Ela mora no Balneário Letícia e não fica sossegada enquanto os filhos não chegam em casa. "É uma sensação horrível essa espera, a gente pensa em tudo. Quando demora demais já fico pensando se o carro tombou, atolou, o que?"

Eva comenta ainda que os filhos gostam de ir a aula e estão insatisfeitos com a incerteza se chegarão a tempo de aprender. "Vim conversar com o diretor. Queremos uma solução, porque as crianças têm direito de estudar".

Se estudantes e pais sofrem com a precariedade das estradas, a situação do motorista Antônio de Jesus, 55, não é diferente. Há 6 anos na função, ele busca estudantes da comunidade São Gerônimo e afirma que as estradas chegaram ao limite e não há mais condições de trafegar. "Hoje mesmo não consegui chegar ao destino. Tinham vários carros atolados e não havia como passar. Tive que andar a pé com 6 crianças até um ponto onde outro ônibus foi buscá-las".

O motorista comenta que os buracos são grandes e profundos, que cabem pessoas dentro. Ele mostra no visor da máquina fotográfica registros das crianças no buraco. "Quando não chove eu consigo buscar. Caso contrário, fica impossível. Do jeito que está, possivelmente este foi o último mês que deu para buscar os estudantes".

Assim como o diretor da escola, Antônio acredita que o grande problema é a falta de manutenção nas vias e o descaso do poder público. "Acompanho várias reuniões com a Prefeitura para resolver a situação, mas fica sempre na mesma".

Denúncia - No documento encaminhado ao Ministério Público, a diretoria da escola destaca que seriam necessários consertos das 20 pontes, encascalhamento, manilhamento e patrolagem adequada. Carvalho explica que alguns buracos são tão grandes que é preciso colocar pedras maiores para depois fazer o trabalho de encascalhamento.

O diretor destaca que trata-se de acessibilidade rural. "Da mesma forma que falam em construir rampas nas escolas da cidade, é preciso se preocupar com o acesso dos alunos do campo até os colégios. Isso também é acessibilidade. Precisamos ampliar este conceito".

Carvalho argumenta ainda que acesso e transporte digno é um direito da criança e do adolescente, conforme prevê a Lei. Conforme assessoria do MP, a Prefeitura de Cuiabá se comprometeu em resolver o problema.

Outro lado - A Secretaria Municipal de Infraestrutura (Seminfe) informa que aguarda o término das chuvas para resolver o problema das estradas que dão acesso ao Coxipó do Ouro. Se não chover até amanhã, o serviço de encascalhamento será iniciado ainda esta semana.

Existe ainda o projeto de asfaltamento de alguns bairros da região, mas o prazo para início das obras é de aproximadamente 30 dias.


 





Fonte: A Gazeta

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