G20 discute reação à alta de commodities em clima de divergência
O G20 é o grupo das principais economias avançadas e em desenvolvimento, do qual o Brasil faz parte.
O aumento dos preços globais das commodities --que, segundo dado divulgado na quinta-feira pelo Banco Mundial, estão 36% mais altos que há um ano-- é apontado como fator de risco à recuperação da economia mundial, mas os países divergem sobre as formas de combater o problema.
Enquanto alguns defendem a regulação do mercado, os grandes exportadores, como o Brasil, são contra. Na quinta-feira, véspera do encontro, o assunto foi tema de uma conversa prévia entre o ministro da Fazenda, Guido Mantega, e a ministra de Economia da França, Christine Lagarde, que têm visões divergentes sobre o tema.
"Somos contra regulação direta impactando o funcionamento dos mercados", disse uma autoridade do governo brasileiro. A fonte afirmou, porém, que o Brasil é contra o controle da oferta ou dos preços, mas não se opõe a estudar o impacto dos mercados de derivativos sobre as commodities.
Segundo a autoridade brasileira, o governo acredita que o nível de liquidez global, "hoje extraordinário" está afetando os preços da commodities.
ESPECULAÇÃO
No discurso que fará no sábado ao Comitê Monetário e Financeiro Internacional (IMFC, na sigla em inglês), órgão que tem o papel de assessorar do conselho de governadores do FMI e recomendar a adoção de políticas, Mantega deverá dizer que o aumento dos preços reflete "uma mistura de fatores cíclicos e financeiros" e que as influências de demanda e oferta são "exacerbadas pela liquidez abundante, apreciação do dólar e falta de regulação dos mercados de derivativos e futuros".
Em entrevista ao "Wall Street Journal", na quinta-feira, Mantega atribuiu a alta dos preços à especulação no mercado de derivativos de commodities e disse que iria instar os países do G20 a adotar restrições sobre derivativos e fundos hedge em nações ricas como maneira de reduzir pressões inflacionárias.
A França, que atualmente preside o G20, defende a implementação de um sistema que "elimine a especulação" no mercado de commodities e permita intervenção em caso de excessos.
"Precisamos de um mecanismo que realmente ajude os produtores a antecipar quedas nos mercados", disse a ministra francesa, antes da conversa com Mantega.
Lagarde negou, porém, que a proposta de seu governo seja a de fixar os preços das commodities. Segundo a ministra, há uma interpretação equivocada sobre a posição francesa. "Essa não é de jeito algum nossa proposta", disse.
"Acho que é uma preocupação de todos nós a volatilidade excessiva dos preços, que torna tanto produtores quanto consumidores vulneráveis a altos e baixos", afirmou Lagarde, ao citar o comunicado conjunto divulgado na quinta-feira após a reunião dos líderes do grupo Bric (Brasil, Rússia, Índia e China), na cidade chinesa de Sanya.
O documento final do encontro na China cita o risco da volatilidade excessiva dos preços das commodities para a recuperação global e faz uma vaga menção de apoio aos esforços internacionais em busca de estabilidade, mas não traz uma posição de consenso entre os países do bloco.
CONTROLE DE CAPITAIS
O outro grande tema da reunião em Washington --que ocorre durante a reunião de primavera no hemisfério norte do FMI e do Banco Mundial-- será o do controle de capitais.
No discurso de sábado, Mantega deverá dizer que o Brasil se opõe à imposição de "códigos de conduta" que tentem restringir, "direta ou indiretamente", as políticas adotadas pelos países para responder ao fluxo de capitais.
O fluxo excessivo de capital estrangeiro é um problema para mercados emergentes, como o Brasil, onde provoca a valorização do real frente ao dólar e acaba reduzindo a competitividade das exportações e aumentando as pressões inflacionárias.
O assunto ganhou destaque na semana passada, quando o FMI divulgou um relatório em que, pela primeira vez em sua história, recomenda o controle de capitais.
Mantega dirá no discurso que o Brasil recebeu bem o fato de o FMI ter reconhecido o controle de capitais como opção para combater o problema. Deverá ressaltar, porém, a preocupação com propostas recentes de criação de um código de conduta sobre o tema.
O ministro deverá dizer que o Brasil "está fazendo e vai continuar a fazer o que considerar necessário e adequado às suas circunstâncias para enfrentar os desafios criados por grandes e voláteis fluxos de capital".
"Ironicamente, alguns dos países que são responsáveis pela crise mais profunda desde a Grande Depressão, e que ainda têm de resolver seus próprios problemas, estão ansiosos para prescrever códigos de conduta para o resto do mundo, inclusive para países que estão sobrecarregados com os efeitos colaterais das medidas adotadas por eles", diz o texto do discurso.
O texto não traz menção a nenhum país em particular, mas parece ser um recado aos Estados Unidos. A política monetária americana é muitas vezes apontada por críticos como um dos fatores que impulsionam a entrada excessiva de capital nos mercados emergentes.
No discurso, o ministro cita preocupações com os riscos associados às políticas adotadas pelos países avançados "para tentar exportar sua saída de situações econômicas difíceis". Mantega diz que o principal gatilho para os problemas econômicos atuais são "políticas monetárias ultraexpansionistas adotadas por alguns países".
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