"É quase uma aula prática de saúde. É bem diferente estar aqui e ver de perto", afirmou Carla Kawana Kowolzy, 16 anos, aluna do último ano do ensino médio da Escola Estadual Professora Lais Bertoni Pereira, depois de visitar a uma ala do centro cirúrgico.
Ulisses Domingues da Rosa, 57 anos, é um dos pacientes do hospital que recebeu a visita das crianças em seu quarto. Ele passou por uma cirurgia para a retirada de uma bala disparada durante um assalto no final de março. Feliz com a recuperação, o aposentado contou aos estudantes que a rapidez do atendimento dos socorristas foi um dos fatores que lhe salvou a vida. "Perdi muito sangue, sentia muita sede e medo de morrer. Depois desmaiei e acordei no hospital", falou aos alunos.
Além de visitar os pacientes, os alunos assistiram vídeos e depoimentos de vítimas na sala de reuniões do hospital. Um dos palestrantes é Washington Conceição Moura, 34 anos, que ficou tetraplégico após fraturar o pescoço em uma piscina. Hoje, além de orientador do Centro de Reabilitação do distrito de Sousas, é bicampeão de rúgbi adaptado. "Demorou para cair a ficha. Só depois voltei a estudar e a me integrar a tudo novamente".
A iniciativa denominada Party (Prevent Alcohol and Risk-Related Trauma In Youth) foi criado no Canadá há 20 anos e atualmente é empregada por uma equipe multidisciplinar em Campinas. Além da Empresa Municipal de Desenvolvimento de Campinas (Emdec), autarquia que gerência o trânsito da cidade, são integrantes do grupo a Liga de Trauma do Hospital das Clínicas da Unicamp, o Centro de Referência em Reabilitação da prefeitura, o Corpo de Bombeiros, a Polícia Militar, a secretaria municipal de Saúde e o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu).
Segundo a analista de educação de mobilidade da Emdec, Maria Cristina Ferrari Maciel, o objetivo do projeto é atingir os estudantes que estão prestes a entrar na vida adulta e são grandes multiplicadores de informações. "Esses jovens já começam a fazer escolhas, saem em grupos para o lazer, às vezes a noite e precisam usar capacete, cinto de segurança, não ingerir bebidas alcoólicas e cuidado no deslocamento nas vias públicas", disse.
Até junho, outras cinco escolas vão participar do programa, que será retomado após as férias de inverno quando outras turmas devem agendar visitas ao hospital. Em 2010 participaram do projeto cerca de 500 alunos.
Trauma mata cerca de 40 mil por ano no Brasil
O cirurgião do Hospital de Clínicas, Gustavo Fraga, explica que trauma é um acontecimento não previsto que produz lesão ao indivíduo, como acidentes automobilísticos, agressões, quedas, ferimentos de arma de fogo ou arma branca, queimaduras, entre outros. "Hoje, o trauma é entendido como uma doença e muitas vezes poderia ser evitada", disse o médico, acrescentando que quase 40 mil pessoas morrem por ano vítima de acidentes no Brasil.
"Nosso foco principal não é só álcool, mas celular no trânsito, uso do cinto de segurança e estimular medidas de prevenção para que o trauma não ocorra". De acordo com o cirurgião, cerca de 90% dos traumas poderiam ser evitados se não ocorressem atitudes de imprudência e desrespeitos às leis, como altas velocidades, uso de álcool e de drogas ilícitas.
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