Assembleia Legislativa é um dos casos típicos
Política em família é recorrente em MT
No Brasil, a política muitas vezes é considerada um negócio de família. Durante as eleições é muito comum ver candidatos que exploram a imagem e legado políticos de membros da família que já ocuparam mandados e foram, ou ainda são, lideranças políticas. O reflexo disso é visto na lista dos eleitos.
Na Assembleia Legislativa de Mato Grosso, dos 24 deputados estaduais, nove têm algum parentesco com figuras políticas, ou seja, 37,5% dos parlamentares pertencem à chamada "familiocracia". Se forem incluídos na lista os deputados licenciados, o índice aumenta. Dos cinco deputados licenciados, três têm parentes políticos. Desse modo, o número de deputado que dão um empurrãozinho ou são empurrados por parentes chega a 12.
No levantamento é levado em consideração o fato do parlamentar ajudar o agente político ou ser ajudado. No caso do presidente da Assembleia Legislativa, por exemplo, o deputado José Riva ajudou a eleger dois de seus irmãos como prefeitos de cidades do interior. Riva, que está no quinto mandato consecutivo de deputado estadual, ajudou a eleger o irmão Priminho Riva como prefeito de Juara e Paulo Rogério Riva como prefeito de Tabaporã.
Já o deputado Dilmar Dal Bosco é o caso clássico daqueles que "entraram na onda" do parente que já tinha o poder. Dilmar é irmão do deputado estadual Dilcel Dal Bosco, que na eleição passada concorreu ao cargo de vice-governador, na chapa encabeçada pelo ex-prefeito de Cuiabá, Wilson Santos (PSDB). Com uma reeleição dada como garantida para deputado estadual, Dal Bosco investiu na campanha do irmão e conseguiu transferir votos para ele.
Algumas tentativas são sem sucesso, como o caso do deputado Wallace Guimarães. A esposa dele, Jaqueline Guimarães (PHS), foi candidata a deputa federal na eleição 2010, mas sem grande sucesso nas urnas.
A deputada estadual licenciada Teté Bezerra (PMDB) é outra agente política que foi emplacada na vida pública por causa do marido. Esposa do deputado federal e ex-governador de Mato Grosso, Teté já conseguiu se eleger deputada federal e na eleição 2010, enquanto seu marido se reelegeu para a Câmara Federal, ela ficou no Legislativo estadual. Licenciada, ela ocupa cargo de secretária de Estado de Turismo.
Outro caso clássico em Mato Grosso da chamada familiocracia é o da família Campos. Em Várzea Grande, dos últimos 14 prefeitos, seis são da família Campos. Porém, eles não pararam no Executivo municipal. Júlio Campos (1983-1986) e Jayme Campos (1991-1994) foram governadores de Mato Grosso. Hoje Jayme é senador, com mandato até 2014, e Júlio, depois de passar pelo Tribunal de Contas do Estado, se elegeu deputado federal na eleição 2010.
O espólio dos Campos chega até a terceira geração, com Campos Neto, que hoje é conselheiro (TCE), num outro caso de herança política. Campos Neto foi vereador por Várzea Grande e chegou à Assembleia Legislativa até ganhar o cargo de conselheiro, dado por seu próprio pai, Ary Leite de Campos.
Dos oito deputados federais, seis têm parente na política
Dos oito deputados federais de Mato Grosso, seis têm algum laço familiar com agentes políticos. Isso significa que Mato Grosso tem o alto índice de 75% de deputados com ligações familiares políticas.
A contagem considera os parlamentares que estão hoje ocupando o cargo, caso do suplente Nery Geller (PP). Produtor rural, o irmão do deputado é prefeito da cidade do norte do Estado, Milton Geller.
Se forem considerados os deputados federais licenciados, o número aumenta. Atual secretário de Saúde do governo do Estado, o deputado federal de quarto mandato consecutivo Pedro Henry (PP) tem base eleitoral na cidade de Cáceres. Lá já ajudou a emplacar o irmão Ricardo Henry como prefeito da cidade.
Algumas tentativas não foram bem-sucedidas, como as dos deputados Homero Pereira e Wellington Fagundes, ambos do PR. O irmão de Homero, Américo Pereira, foi candidato a vereador na cidade de Alto Araguaia, mas sem sucesso. Já Wellington Fagundes, que está no sexto mandato consecutivo como deputado federal, também não fez a diferença na campanha do filho, João Antônio, que foi candidato a vice-prefeito de Rondonópolis.
Sistema democrático permite poder oligárquico da família
O cientista político João Edisom de Souza explica que o próprio sistema democrático permite situações como estas, em que o poder oligárquico da família permite a eleição dos pares. "A prática não é legítima, pois ser representante de uma família não significa ser representante do povo ou uma liderança da sociedade. Mas a democracia permite atentados contra ela mesma", disse o professor.
Conforme o professor, essa característica de famílias no poder é forte na América Latina. Como exemplo está a presidente Cristina Cristina Kirchner, esposa do ex-presidente, o falecido Néstor Kirchner. "Sem menosprezar ou julgar o trabalho dela à frente do país, ela não chegaria onde chegou sem o marido, que foi presidente", pontuou o cientista. Porém, exemplos não faltam no Brasil, como a família Magalhães, Collor e num exemplo mais regionalizado, os Campos.
Uma das explicações para a necessidade de perpetuar no poder a mesma linhagem está a necessidade dos que estão no poder de fazer sucessores, numa busca pelo poder. Para o professor, uma alternativa de mudar o cenário é o investimento em formação educacional e política.
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