Afinal, qual é a finalidade da suspensão corporal? Segundo os praticantes da modalidade, pode ser tanto estética quanto religiosa, talvez uma forma de se elevar espiritualmente. Para o público presente no Largo do Paissandú, no entanto, a prática parece mais ligada a uma mera curiosidade mórbida, algo próximo àquela dos circos de bizarrices que proliferaram na Europa e nos EUA no século XIX e início do século XX.
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O Terra teve a oportunidade de acompanhar à demonstração pública realizada no centro velho de São Paulo, parte da Virada Cultural, e conheceu a opinião daqueles que se dispõem a ser, literalmente, içados por ganchos fincados à pele. A vítima - ou sortudo, depende do ponto de vista - da noite foi Roberto Afonso dos Santos, 31 anos, mais conhecido como Morfeu, que pela primeira vez provou a sensação. O fato de estar tremendo muito, algo nítido mesmo a muitos metros de distância, demonstrava a apreensão deste jovem magro e moreno, tatuado da cabeça aos pés, enquanto, estirado em uma maca, tinha sua pele perfurada pelos ganchos que o colocariam no ar.
"A dor é só na hora de passar os ganchos e na hora de subir", afirmou, enquanto mostrava os curativos feitos em seu corpo ensanguentado poucos minutos após debutar na modalidade, "depois é puro êxtase!".
Ronaldo Sampaio, 35, vice-presidente do sindicato dos tatuadores do Estado de São Paulo, foi o responsável pelas perfurações na pele de Morfeu. Segundo ele, seu interesse na prática surgiu há 14 anos, quando passou a pesquisar sobre a suspensão, cujo primeiro relato afirmou ser do ano de 1823. "Na tribo sioux, lá nos EUA, o cara para se tornar guerreiro precisava passar por essa provação". Mais conhecido pela alcunha de Snoopy, Sampaio brada com orgulho o fato de ter sido o primeiro a realizar a prática no Brasil. "Foi em 1999, com Roberto Lagartixa como suspenso".
O preparo para a modalidade é longo. Primeiro, o homem a ser içado é perfurado dentro de uma barraca, a qual a reportagem, apesar da insistência, não pôde ter acesso. Depois, ele, usando apenas uma sunga, é levado a uma maca sobre o palco, e os ajudantes, cerca de cinco, começam a encaixar ganchos à sua pele, que logo são enrolados a cordas de nylon presas a outros ganchos que ficam em uma base encaixada à uma corda principal que será usada para a suspensão. Só na sequência, com o público já ansioso, que um homem a puxa para finalmente colocar o praticante no ar. O processo todo leva quase uma hora.
"É uma parada de outro mundo", procurou explicar Morfeu, que não só ficou suspenso, como, com a pele extremamente esticada, foi balançado para frente e para trás e rodopiado por vários minutos pelos ajudantes de palco - deixando a observação do "esporte" ainda mais agonizante. "É como se você saísse do seu corpo e o visse lá de cima. Faria de novo agora". Tem gosto para tudo.
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