A banda paulista de indie-rock Twinpines lançará um EP de quatro músicas chamado Beige. Cantado no idioma ianque, o nome do CD quer dizer bege, a cor. Até aí, um lançamento "normal", se não tratasse de um disco em homenagem ao público gay. Mas o grupo não comenta se é uma brincadeira com a gíria desse universo: "tô bege", dita como reação quando alguém conta algo surpreendente. O lançamento, previsto para este semestre, é um investimento da Secretaria Estadual de Cultura voltado ao público LGBT (lésbicas, gays, bissexuais, transgêneros e travestis).
A produção tem a assinatura de Rafael Crespo, ex-guitarrista do Planet Hemp, que entrou em estúdio com o trio agora em abril para gravar, e deve demorar um mês ou pouco mais até a mixagem e pós-produção. O primeiro single chama-se Love Hill, uma música que teria a participação da drag queen Claudia Wonder, que morreu, aos 55 anos, de criptococose (a chamada doença do pombo) em novembro de 2010. É a ela que dedicam todo o álbum.
A ideia partiu de Bruno Monstro, guitarrista e backing vocal, assumidamente gay. "Foi ele quem pesquisou e descobriu que a secretaria de Cultura tinha um edital para contemplar um projeto cujo tema envolvido seria o LGBT. Bruno disse que sempre teve uma ideia de fazer algo que, de uma maneira, fosse não só um protesto, mas uma homenagem. Ele, enquanto gay, queria usar sua arte para falar o que vive", explica o baterista Magoo Felix. "Ele veio perguntar o que a gente achava porque era um projeto em que ele se assumiria gay, e nós - os outros dois caras da banda - não somos. A gente achou muito legal, apesar de não sentirmos isso na pele".
As composições foram feitas pelo próprio Bruno, sob supervisão dos outros membros do grupo. Cada uma, explica Magoo, fala de um cara que quer arrumar um namorado e se assumir diante das pessoas. "Uma conta como ele gostaria de ser livre, outra retrata como o cara pode se assumir para a família dele, cada uma fala de um universo", entrega. "Love Hill, o primeiro single, fala de um possível namorado, de uma pessoa que alguém amou e não foi correspondida. "As composições têm a ver com o fato de se assumir ou simplesmente como ele gostaria que as coisas fossem (diferentes)", detalha. Todas envolvem questões homoafetivas, de maneira poética, não necessariamente um protesto.
"Eu tive um tio que, com 60 anos, não se assumiu. Ele morreu e não teve a oportunidade porque vivia em outro tempo. Esse disco é uma forma de homenageá-lo. Eu convivo com isso e sempre transitei bem entre os universos gay e hétero". Magoo diz ser supernormal participar desse projeto e tentar passar às pessoas que, mesmo não sendo, convive muito bem com as duas vertentes. "A orientação sexual não faz o caráter de uma pessoa, mas o que ela representa. Isso está estereotipado demais: tentar classificar uma pessoa pelo que ela sente em relação a outra", comenta.
Rafael Laguna (o cérebro por trás dos paulistas do Capim Maluco), Vini (baixista do Ecos Falsos), Fernando Fernandes e Gabriela Gonzalez (Some Community), Tatu (Ladyfingers), Daniel Peixoto (ex-Montage) e o cantor Thiago Pethit estão entre os convidados do disco. A capa vai ser assinada pelo artista plástico e grafiteiro paulista Ciro Schuneman. "É muito mais fácil para as pessoas saberem de um gay que resolveu se assumir em um projeto como este do que um cara hétero entrar em um lance desse e assumir uma bandeira. É uma forma de mostrar que não tem de haver diferença. Todo mundo pode ouvir a música numa boa", recomenda.
O baterista diz ser difícil uma rotulação do estilo musical, mas afirma que transitam entre o épico anos 1990, como grunge e indie - bandas americanas de rock alternativo são inspiração. Formado em 2003, o Twinpines é formado por duas guitarras e bateria. Além de Magoo Felix (baterista), é composto por Leonardo Scriptore (vocalista e guitarrista) e Bruno Monstro (guitarra).
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