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Saúde
Segunda - 25 de Abril de 2011 às 13:57

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A escritora Lisa Appignanesi desconfia das estatísticas que mostram aumento das doenças mentais, em especial entre mulheres.

Para compreender por que elas são mais associadas às doenças mentais do que os homens, a autora mergulhou nos primórdios da psiquiatria. O resultado da busca está em seu último livro, "Tristes, Loucas e Más".

O tema não é novo para essa polonesa radicada na Inglaterra. Diretora do Freud Museum, em Londres, ela já publicou um livro sobre como o pai da psicanálise foi influenciado pelas mulheres.

A obra mais recente, que acaba de ser lançada no Brasil, analisa casos de personalidades famosas como a atriz Marilyn Monroe e a poeta Sylvia Plath.

Appignanesi falou à Folha de sua casa, em Londres. Leia a seguir trechos de sua entrevista.

Lisa Appignanesi - Sim. Desde o começo, as mulheres foram mais associadas à loucura e mais propensas à rotulação e ao confinamento do que os homens.

Até o século 20, elas não eram nem donas dos próprios direitos: eram submissas a seus pais e maridos. Se elas eram julgadas como loucas pelos homens ao redor, então era mais provável que os psiquiatras confirmassem esse diagnóstico.

Por que isso?

Mulheres sempre foram consideradas mais próximas do emocional, do irracional. E foram mais tolhidas, obrigadas a agir de forma socialmente mais aceitável.

A doença mental pode ser alguma forma de rebeldia?

Em alguns casos, as mulheres são confinadas porque não se encaixam nas convenções sociais e não sabem como resolver o conflito. Elas querem agir contra a imposição de cuidar de um pai doente ou de fazer sexo com quem não querem.

A emancipação feminina não mudou esse quadro?

Não. Ter mulheres na área psiquiátrica melhorou muita coisa -pelo menos, elas passaram a entender melhor as pacientes do que os homens. Mas houve um lado perverso: elas ganharam mais poder para rotular e criar categorias psiquiátricas a partir de suas experiências.

Por que as estatísticas ainda apontam mais transtornos mentais em mulheres?

As mulheres tendem a buscar ajuda médica para solucionar os problemas, enquanto os homens vão procurar soluções na violência, na bebida e nas drogas. Mas, à medida que a depressão passou a fazer mais parte da nossa cultura, os homens ficaram mais dispostos a procurar ajuda.

Que transtornos são ditados pela cultura atual?

Depressão é a condição mais diagnosticada. É porque vivemos em uma época em que todos têm expectativa de felicidade, muitas vezes compreendida em termos farmacológicos como um "up".

A venda em massa dos antidepressivos facilitou aos psiquiatras "curar" essa necessidade contemporânea de estarmos "pra cima". Meu livro não culpa os psiquiatras por isso: os pacientes também querem uma cura...

Nós mesmos estamos nos considerando menos normais?

Sim, o conhecimento médico mudou a forma como nós mesmos nos compreendemos. O entendimento que temos de nossas mentes e emoções foi "colonizado" pelo conhecimento médico.

Cada vez mais compreendemos a nós mesmos nos termos dos médicos e cada vez mais sofremos das doenças que eles designam.

Vamos pegar uma personagem como Anna Kariênina, de Tolstói, por exemplo. Ela é triste, mas não tem uma categoria diagnostica ligada a essa tristeza. Hoje falaríamos dela -ou ela mesma se diagnosticaria- como portadora de um desequilíbrio químico chamado depressão.






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