A endocrinologista representante da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia Rosana Bento Radominski defendeu nesta segunda-feira, no Senado, a manutenção de medicamentos inibidores de apetite no mercado. Para ela, não se pode generalizar as conclusões do estudo da Abott (laboratório que fabrica os remédios), "que foi realizado a partir de uma população de risco" (pacientes obesos com antecedentes cardiovasculares ou diabetes, conforme observou o próprio diretor-presidente da Anvisa). As informações são da Agência Senado.
A endocrinologista disse que "não há necessidade de proibição, sendo mais recomendável um maior controle sobre o uso dessas medicações, para que sejam utilizadas corretamente e quando realmente forem necessárias". "A obesidade é uma doença e precisa ser tratada", disse ela. "Não existem medicamentos sem nenhum efeito adverso, sendo necessário contrabalançar riscos e benefícios".
Anvisa quer banir os medicamentos
Também no Senado, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) defendeu nesta segunda-feira a proibição da venda dos medicamentos à base de anfepramona, femproporex e mazindol (que são anorexígenos anfetamínicos). Seu diretor-presidente, Dirceu Barbano, disse que os medicamentos foram banidos ou tiveram seu uso restrito em diversos países - em alguns casos, ainda nos anos 70. De acordo com ele, apenas 30% dos tratados com sibutramina perderam pelo menos 5% do peso após três meses (dado que se refere à eficácia da substância), além de registrar um aumento de 16% no risco cardiovascular desses pacientes.
"Se o laboratório que registrou o produto optou pela sua retirada, como fica a situação das agências reguladoras? Seremos menos rigorosos que a própria Abott?", disse o representante da Anisa. A empresa decidiu retirar seu medicamento à base de sibutramina após realizar um estudo feito a pedido das autoridades europeias. O levantamento, que visava avaliar os efeitos sobre pacientes obesos com antecedentes cardiovasculares ou diabetes, durou seis anos e envolveu cerca de dez mil pacientes.
Barbano disse que "produtos como esses só podem permanecer no mercado se a autoridade sanitária garantir sua segurança e saúde, mas, até o momento, não recebemos contestações robustas e substanciais mostrando que tais medicamentos são seguros e eficazes".
Médico sanitário cita comércio
Crítico do uso dessas substâncias, o médico sanitarista José Ruben Bonfim, representante do Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec) e coordenador-executivo da Sociedade Brasileira de Vigilância de Medicamentos (Sobravime), afirmou que o Brasil "não pode ser o último país do mundo a bani-los". Segundo ele, uma das principais razões para "a defesa aguerrida" dos anfetamínicos e da subtramina são os interesses da indústria que os fabrica no Brasil.
"Isso explica porque esses medicamentos, que não estão em outras partes do mundo, apresentam um consumo crescente por aqui", disse. José Ruben Bonfim afirmou ainda que uma "parte expressiva" dos medicamentos à base de sibutramina ou anfetaminas é produzida pelas farmácias de manipulação. De acordo com o diretor-presidente da Anvisa, há estimativas de que o Brasil seria o terceiro maior consumidor desses medicamentos no mundo.
Segundo dados da Anvisa, no Brasil são consumidos anualmente 58 t de produtos a base de anfetamina e outras 24 t de sibutramina, valores considerados altos.
Com informações da Agência Brasil.
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