Especialistas alertam que ainda falta segurança para os testes com humanos
Vacina contra HIV do macaco pode indicar caminho para humanos
Uma nova vacina foi capaz de proteger uma espécie de macaco contra o equivalente em símios ao vírus HIV, apontando um novo caminho na busca por uma vacina para a proteção de humanos, segundo um estudo.
Pesquisadores americanos dizem que a vacina protegeu 13 entre 24 macacos rhesus (primatas da família Cercopithecidae que habitam as florestas temperadas da Índia, China e Afeganistão) durante um experimento, eliminando o vírus da imunodeficiência símia (SIV, na sigla em inglês), que equivale para os símios ao HIV.
Macacos não vacinados infectados com o SIV desenvolveram o equivalente a Aids, causando o colapso de seus sistemas imunológicos.
Segundo os cientistas envolvidos, o estudo, publicado na revista Nature, pode "contribuir significativamente" para o desenvolvimento de uma vacina contra o HIV e a Aids.
Experimento
A nova vacina é carregada por um vírus majoritariamente benigno que permanece no organismo a vida toda, o citomegalovírus (CMV).
O CMV é parte da família dos herpesvírus, família de vírus que inclui os vírus da catapora, do herpes simples e genital e do herpes zoster. Por outro lado, o CMV manteria o sistema imunológico permanentemente em estado de alerta contra o HIV.
A vacina estimulou a produção de um tipo de célula sanguínea de defesa chamada Linfócito T Memória. Ela permanece vigilante no corpo muito tempo após o início de uma infecção, oferecendo proteção a longo prazo.
O líder da equipe de pesquisadores, Louis J. Picker, do Vaccine and Gene Therapy Institute, no Estado de Oregon, Estados Unidos, disse que as células T Memória são como soldados em prontidão. Picker disse também que há evidências de que a vacina na verdade erradicou traços do SIV nos macacos, algo que, segundo ele, "é sem precedentes" em pesquisas sobre vacinas contra o HIV.
No experimento, 24 macacos saudáveis receberam uma vacina contendo uma versão geneticamente modificada do rhesus citomegalovírus (CMV).
Ele ofereceu proteção completa contra o SIV em 13 dos animais. Destes, 12 continuaram protegidos um ano mais tarde.
Preocupação
Outros pesquisadores atuando nessa área receberam bem o novo estudo, mas ressaltaram problemas de segurança que teriam de ser resolvidos antes de que um experimento desse tipo pudesse ser feito em humanos, como explica o especialista Andrew McMichael, da Oxford University, na Inglaterra.
- Estou entusiasmado com o trabalho porque ele realmente demonstra que pode ser possível erradicar o vírus HIV a partir de uma resposta imunológica forte. Mas, ao mesmo tempo, estou me perguntando como seria possível adotar essa abordagem em humanos.
O problema seria a segurança em potencial e questões regulamentares associadas com a introdução do CMV em humanos - ainda que a maioria da população já seja portadora do vírus.
- O CMV não é totalmente benigno, ele causa uma série de doenças. Se você está introduzindo nas pessoas algo (o vírus) que não será capaz de eliminar, a possibilidade de ele trazer problemas é um risco muito difícil de administrar.
O cientista Robin Shattock, do Imperial College, em Londres, concordou que a segurança seria essencial.
- O avanço aqui foi usar uma vacina que é administrada por um vírus que permanece ativo, um vírus programado para destruir um vírus patogênico. O difícil vai ser mostrar que ele é seguro e efetivo em humanos.
Picker, líder da pesquisa, respondeu que essas questões vão ser abordadas em estudos futuros. Ele lembrou que as primeiras versões da vacina contra varíola também traziam riscos a humanos.
- Na África subsaariana, 99% das pessoas são CMV positivas e a metade da população no mundo desenvolvido também é. Então sabemos bastante a respeito e (o vírus) é em grande parte não patogênico, exceto em populações vulneráveis, como mulheres grávidas.
Picker disse que o próximo passo é criar um vírus que tem uma habilidade maior de gerar células T memória, mas sem a capacidade de infectar porções vulneráveis da população.
Vacinas contra HIV
Para cientistas, desenvolver uma vacina contra o HIV tem se revelado um grande desafio, mas houve alguns resultados promissores.
Em 2009, pesquisadores na Tailândia publicaram na revista Lancet resultados obtidos com uma vacina experimental contra o HIV que, segundo os cientistas, reduziu o risco de contrair o vírus em um terço.
No ano passado, um estudo trazido pelo New England Journal of Medicine sugeriu que uma droga usada para tratar pacientes portadores do vírus HIV pode oferecer a homossexuais e bissexuais alguma proteção contra o vírus.
Testes feitos com a droga Truvada entre quase 2,5 mil homens sugerem que o medicamento pode reduzir as chances de contágio de homem para homem em 44%.
Um avanço definitivo, no entanto, ainda não ocorreu.
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