Moradores são contra a revitalização do movimentado ponto de prostituição de Várzea Grande
“Aqui virou um verdadeiro cabaré”, desabafa moradora
A polêmica envolvendo a região do Zero Quilômetro parece estar longe do fim. Moradores locais revelaram ao MidiaNews que são contra a proposta de revitalização da tradicional zona de prostituição em Várzea Grande, proposta pelo Comando Regional II da Polícia Militar.
Moradores denunciam abusos que sofrem dentro de casa. A comerciante Denizia Costa, contou, em entrevista, um pouco da rotina de agressões verbais e ameaças que a família sofre por parte dos "profissionais do sexo" que se instalaram na esquina de sua residência.
"É um absurdo quererem legalizar essa falta de vergonha. Estamos reféns dentro de casa, quando passamos na rua temos que ficar de cabeça baixa. Se por acaso eles [travestis e prostitutas] acharem que estamos olhando, gritam, jogam pedras, cospem. Perguntam se nunca a gente nunca os viram, tudo de forma bem grossa e ríspida", contou a moradora.
A família de Denizia é grande, são cinco menores de idade, dois adolescentes de 15 e 14 anos e três crianças, com onze, dez e nove anos. A principal queixa da comerciante é sobre a privação de liberdade que os filhos são submetidos desde que se mudaram para a região.
"Meus filhos e sobrinhos não podem nem sair na rua para brincar. Durante o dia são prostitutas e na noite os travestis que tomaram das ruas e ainda nos agridem. Acabamos ficando refém dessa situação horrível. É um péssimo exemplo para as crianças", esbravejou Denizia.
Denizia e o esposo possuem um trailer que serve refeições na avenida da Feb, a mudança para a localidade foi pensando na facilidade para manter o comércio. A comerciante contou que os abusos sofridos não têm limites.
"Eles ficam andando na porta de nossa casa, se pedimos para eles saírem ficam agressivos e dizem que estão ‘trabalhando". Ainda tem a cara de pau de pedir água em nossas casas para se lavarem após os programas que eles fazem", revelou.
Verdadeiro cabaré
Uma moradora da região há mais de 37 anos, que não quis ser identificada por medo de retaliação, se aproximou durante a reportagem e foi enfática no comentário. "Aqui virou um verdadeiro cabaré, está cada dia pior. Esses dias uma prostituta ficou totalmente pelada sentada em uma cadeira de plástico na esquina de um motel. Como que vão querer legalizar uma falta de respeito desta, é um absurdo, devem tirar eles daqui. Quer dizer que essa falta de vergonha é mais importante que as famílias de bem que moram no local?", questionou a moradora, com indignação.
Camisinhas na rua
A aposentada Joana Zuleica Paes, de 85 anos, disse que não aguenta mais queimar as camisinhas que aparecem na porta de sua casa. "Todos os dias é a mesma coisa, são dezenas de camisinhas que aparecem jogadas na rua, na esquina de minha casa. Tenho que queimar, porque é uma vergonha e falta de higiene deixar essas coisas na porta da minha casa", revelou Dona Zuleica, como é conhecida.
A idosa, que mora no local há mais de 20 anos, disse que já perdeu a conta de quantas vezes flagrou cenas de sexo explícito em baixo da árvore na esquina de sua casa.
"Nem sei mais quantas vezes vi homens "engatados" nessas bichas que fazem pontos por aqui. Meu vizinho queria cortar a minha árvore para que isso parasse, mas eu não permito, íamos ficar passando calor, a polícia que deve tirar eles [travestis e prostitutas] daqui", disse.
Roubos e furtos
O empresário Eduardo Pereira Lima acredita que pior que a infestação da prostituição são os constantes roubos e furtos que ocorrem na região. Morador da região do Zero Quilômetro há 27 anos, Lima investiu em segurança e mesmo assim não ficou livre da ação dos marginais.
"A ação dos bandidos é bem pior que a prostituição. Coloquei cerca elétrica, faróis para iluminação, alarme, filmadoras e mesmo assim os crimes continuam. Minha casa já foi assaltada pelo menos seis vezes. Uma vez colocaram todos os eletrônicos no meu carro e roubaram, só consegui recuperar o automóvel. Bandidos esperam a hora que estamos entrando em casa e entram em ação. Tem revitalizar o local para segurança aos moradores que pagam os impostos e não para proteger a prostituição", opinou Lima.
Revitalização
A revitalização da região é pauta de discussões desde 2008. O assunto foi retomado no início de 2011, após o retorno do coronel Pery Taborelly ao comando do Batalhão da Polícia Militar de Várzea Grande.
Além da revitalização, que visa limpar os terrenos baldios, reforçar a iluminação e fazer pinturas nos muros que façam homenagens à cultura mato-grossense, será proposto um código de conduta aos profissionais do sexo que atuam na localidade, sejam mulheres ou travestis.
De acordo com o código, travestis e prostitutas devem estar vestidos e se manter longe das vias de acesso ao bairro Jardim Potiguar, que são as avenidas Brasília, Ulisses Pompeo e São Caetano, onde há grande fluxo de crianças e adolescentes.
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