Morador nega versão da Polícia Civil de abastecimento do veículo por acaso
"João Caveira saiu para atender chamada", diz vizinho
O policial civil João Osni Guimarães, o "João Caveira", não se dirigiu na tarde da última segunda-feira ao Posto 2006, na Rodovia dos Imigrantes, para abastecer seu carro, e sim para atender a um chamado. A versão é de um vizinho de Osni, encontrado pelo Diário no bairro Santa Isabel, em Várzea Grande, que presenciou a saída do policial de sua casa e, cerca de 10 minutos após, soube que ele estava morto.
O relato choca-se com o que a Polícia Civil apurou até o momento a respeito da operação frustrada que resultou na morte de Osni, do investigador Edson Leite e do promotor de eventos Gilson Silvio Alves.
"Não daria tempo de abastecer, os vizinhos viram. Nem acreditei quando recebi a notícia. Tinha acabado de sair", explicou o vizinho, que preferiu não se identificar (assim como boa parte das testemunhas). Ele contou que Caveira mal estava saindo de casa desde que fora afastado de operações, mas que tinha recebido um chamado para ir ao posto naquela tarde. A testemunha não soube dizer se o chamado veio de Leite, policial que já estava ferido no local, em busca de ajuda.
Sobre o suposto envolvimento de Caveira com ladrões da casa de Gilson (roubo ocorrido na sexta-feira anterior), o vizinho negou qualquer relação. "Disseram que dois dos meninos que roubaram a casa do Gilson eram parentes do João, mas que eu saiba ele só tinha dois sobrinhos, um empresário e outro que é trabalhador, não teria porque se envolver com essas coisas. Tanto que a família tá abismada com essa história".
A reportagem procurou a advogada Marilene Alves, que assessora juridicamente a família de João Caveira, e ela afirmou que, por enquanto, a orientação para os familiares é de que aguardem a conclusão das investigações para fazer qualquer tipo de comentário à imprensa.
Ela afirmou que já tem noção do que ocorreu na segunda-feira, mas que dizer qualquer coisa agora seria especulação, pois não conhece Gilson e porque Edson Leite "não abordaria uma pessoa assim do nada, pelo que a gente sabe de como ele trabalhava". Ela completou que Caveira tem dois sobrinhos: um é empresário e outro vive em Portugal.
POLICIAIS
Os investigadores Caveira e Leite morreram num acidente na tarde de segunda-feira. Caveira conduzia seu Golf preto pela avenida Filinto Müller, em Várzea Grande, na tentativa, segundo a polícia, de buscar socorro para Leite, que estava baleado no abdômen e na perna. Mecânicos do local relatam que ele estava em alta velocidade e freou por apenas um segundo antes do quebra-molas, o que fez o carro "levantar voo" por cerca de 24 metros e chocar-se quase de lado em um muro do outro lado da pista, o que matou a ambos os policiais. No momento da batida, o medidor de velocidade marcava 165 quilômetros por hora, segundo um dos mecânicos que olhou velocímetro no local.
TIROTEIO
Segundo a polícia, Leite foi baleado no Posto 2006. Ele fora para lá acompanhado do policial Maxwel Pereira para tentar identificar um ladrão de carretas. Gilson estava com a mulher no local e se apavorou com os tiros de advertência dado pelos policiais. Conforme a polícia, Gilson fugiu para um matagal, lutou com Maxwel, conseguiu apanhar sua pistola e acertou-o na perna, além de atingir Edson, que revidou matando-o.
Há testemunhas, entretanto, que afirmam que Gilson sequer entrou em luta corporal com Maxwel, sendo atingido já quando fugia espantado. Segundo a família, ele vinha sendo ameaçado desde sexta-feira, quando sua casa foi roubada. No fim de semana, ele descobrira os ladrões e agredira um deles, que passou a ameaçá-lo até de morte.
A família levantou suspeita de ligação entre os ladrões e João Caveira, que apareceu no Posto e socorreu Edson. Já a polícia diz que, a informação até agora é de que Caveira estava coincidentemente abastecendo naquele momento, mas isso tudo será investigado.
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