Alisson foi morto por estrangulamento com uma corda e teve o corpo jogado no córrego Gumitá em Cuiabá
Mãe revela que perdeu o filho para o mundo das drogas
"A droga me venceu. Perdi meu filho amado para o vício". Esse desabafo é da servidora pública Ângela Maria de Carvalho, de 45 anos. Ela é mãe do travesti Alisson Otávio Carvalho da Cruz, de 20 anos, que foi encontrado estrangulado com uma corda no pescoço, no Córrego Gumitá, na manhã de sábado (28).
O desespero da mãe parece não ter fim. Ângela revelou, em entrevista ao MidiaNews, que além de sofrer pela morte do filho, a pior dor é saber a forma cruel que ele foi brutalmente assassinado.
"Mataram ele da pior forma possível, nem com animal é aceitável uma maldade daquelas. Meu filho estava com os pés e mãos amarrados, com uma corda no pescoço. Jogaram ele no esgoto, era para eu não encontrar o corpo. Arrastaram ele no asfalto, destruíram o rosto dele, ele tinha um rosto lindo. Ele lutou antes de morrer os braços estavam machucados de tanto que ele tentou se soltar. Quando fui fazer o reconhecimento passei mal, vendo o estado que ele estava", desabafou a servidora.
A mãe de Allison informou que havia mais de dez dias que não via o filho, que saia de casa para usar drogas. A família é moradora do bairro Doutor Fábio. "Tinha dez dias que eu não via ele, eu já não dormia mais. Todos os dias eu vivia procurando por ele, que fugia de mim na rua", disse.
Allison cumpriu pena por tráfico de drogas no presídio Carumbé. Ele ficou na carceragem por cerca de dois anos e deixou o presídio há pouco mais de dois meses. "Parece que ele saiu da cadeia para morrer. Eu sei que na cadeia davam drogas para meu filho usar, ele me contou isso. Foi na cadeia que ele se viciou mais ainda. Quando ele foi preso ainda pensei que lá não teria droga, achei que ia servir como uma reabilitação. Mas acabou de levar meu filho para o buraco", revelou.
História
Homossexual assumido, a história de Allison se confunde com a de tantas outras que acabam de forma trágica. O jovem saiu de casa muito cedo, aos 16 anos, época que segundo a mãe teria começado a se drogar. "Meu filho sempre foi jeitoso para cuidar de cabelos, e começou a trabalhar em salões. Ele estudava, trabalhava e foi morar sozinho, uma vida normal, sempre tive orgulho dele. Ele alugou uma kit net em Várzea Grande, logo depois começou a se envolver com drogas, não ia mais trabalhar e acabou preso", relembrou.
A única vontade de Angela é que a justiça seja feita. A mãe disse que espera que os criminosos sejam presos e que paguem pelo assassinato. "Eu sou pobre, não temos recursos financeiros. Mas vou fazer o que estiver ao meu alcance para que essas pessoas paguem pela maldade que fizeram com meu filho. Se tivessem matado ele com um tiro eu não estaria sofrendo tanto, só Deus para me confortar".
Pressentimento
A servidora revelou que teve um pressentimento sobre a morte do filho ainda na manhã de sábado. "Amanheceu um dia frio, triste, comentei com meu marido que queria que o Alisson estivesse em casa, quentinho do meu lado. Pouco tempo depois me avisaram que tinham encontrado ele morto", lamentou.
Sobre possíveis ameaças relacionadas a dividas de drogas, a mãe não sabe informar se o filho teria algum desafeto na região. "Todos aqui gostavam muito dele, ele sempre foi educado e respeitava as pessoas. Se ele tinha divida de droga ou rixa com alguém eu não sei. Quando começa a se drogar ele sumia de casa".
Ângela é mãe de mais três filhos e busca forças nos netos para retomar a rotina familiar e no trabalho, na Creche Menino Jesus. "Eu tenho que voltar para o trabalho, me ocupar para não enlouquecer. Meus netinhos estão me apoiando e neles ainda vejo algum motivo para continuar vivendo", contou.
Morte trágica
Segundo informações da Polícia Civil, Allisson teria sido morto por estrangulamento e arrastado durante vários metros, até ser jogado no córrego Gumitá, no bairro Três Lagoas, na periferia de Cuiabá.
O cadáver foi localizado, no final da manhã de sábado, num local de difícil acesso. O Corpo de Bombeiros foi acionado para resgatar o cadáver. O assassinato está sendo investigado pela Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), cujos policiais plantonistas estiveram no local.
Segundo os policiais, Alisson foi morto com a corda apertada no pescoço pelos criminosos, o que provocou a morte por estrangulamento. Não satisfeitos, ainda arrastaram o corpo por dezenas de metros, até jogá-lo no córrego.
O delegado André Renato Gonçalves, de plantão na DHPP, esteve no local iniciando as investigações. Os policiais disseram que Alisson estava com roupas femininas, o que levou a Polícia a concluir que se tratava de um travesti.
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