Relação entre uso do aparelho e doença continua incerta
O que os pesquisadores estão dizendo é que não sabem se a radiação de celulares causa câncer. É um juízo simples, mas nossos cérebros sedentos por certezas têm dificuldade em processá-lo.
Os mais hipocondríacos destacarão o fato de que, até anteontem, a OMS negava relação entre celulares e cânceres. Deixou de fazê-lo.
Os mais tranquilos podem apoiar-se na ideia de que a mudança no status ocorre sem que nenhuma evidência nova tenha sido descoberta.
O que especialistas do Iarc dizem ter encontrado ao revisar a literatura foi "evidência limitada de carcinogenicidade" entre usuários para glioma e neuroma acústico e "evidência inadequada" para outros tipos de câncer.
No jargão da estatística, "evidência limitada" significa que foi observada associação positiva entre os elementos, que pode dever-se a relação de causa e efeito, mas também ser fruto de acaso ou outro elemento de confusão. Esses trabalhos pedem mais estudos que permitam uma conclusão. Já a "evidência inadequada" é a senha para "não temos a menor ideia".
É mais do que razoável que os especialistas não tenham ideia. Cânceres costumam ser o resultado de predisposições genéticas combinadas a fatores ambientais. Em muitos casos, exigem anos de exposição ao agente agressor antes de se manifestar.
E, se ligar um fator de risco conhecido a um tumor específico já não é simples, mais complicado é descobrir novos agentes carcinógenos. Cada paciente costuma trazer uma história de décadas de exposição a todos os ingredientes da vida moderna.
Descobrir os relevantes e extrair evidências que provem o vínculo não é trivial.
Até que surjam estudos conclusivos, temos de conviver com a incerteza, o que é tortura para nossos cérebros obsessivos por controle.
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