Com as informações repassadas pela testemunha, um travesti que conhecia uma das vítimas, a Polícia Civil começa a identificar uma relação entre os dois homicídios. A delegada vê semelhanças entre as mortes. Ela explica que os assassinatos aconteceram em um intervalo de apenas 11 dias. Além disso, as vitimas são travestis e foram mortas na mesma região da cidade, no bairro CPA 4, e de forma muito violenta.
Até o momento, cinco homens foram interrogados pela polícia. Segundo a delegada, chegou até a delegacia a informação de que os travestis teriam sido mortos por integrantes de um grupo homofóbico da capital, ou seja, assassinados por pessoas que tem ódio de homossexuais.
No entanto, a possibilidade de o crime ter motivação homofóbica foi praticamente descartada com o depoimento do travesti. "Estamos trabalhando, mas foi uma corrente que ainda não prosperou", comentou a delegada. A polícia agora foca a investigação em acerto de contas. Os dois jovens eram usuários de drogas e estavam devendo a um mesmo traficante.
Justiça
Angela Maria de Carvalho, mãe do travesti Alisson Otavio da Cruz, de 20 anos, conhecido como Alicinha, confirma que o filho era usuário de droga e que passava por um momento difícil. “A droga levou meu filho”, comentou a mãe que sempre apoiou a opção sexual dos filhos. Além de Alisson, dona Angela tem mais três filhos gays. “Ele foi morto por preconceito. Agora eu espero a justiça de Deus. Meu filho era uma pessoa boa e não fazia mal a ninguém”, disse a mãe. Ela acredita que filho pode ter sido morto apenas por ser travesti.
As mortes
Alisson foi morto no dia 28 de maio deste ano com requintes de crueldade. O corpo dele foi encontrado no córrego Gumitá, na região da Morada da Serra, na capital. Dona Angela diz que o corpo do filho estava praticamente irreconhecível no Instituto Médico Legal (IML). “Quando vi meu filho, achei que ele tinha sido queimado. Mas não foi. Ele foi jogado no esgoto após ser puxado por um carro. Tinham feito muita crueldade com ele”, comentou a mãe, segurando a foto do filho.
Além de Alisson, morreu assassinado no dia 8 de junho o travesti Maildo dos Santos, de 25 anos. O corpo dele foi encontrado na região que fica aos fundos da chamada Lagoa Encantada, em Cuiabá. A morte foi similar. “Eu desejo justiça. Justiça para meu filho”, espera dona Eulália dos Santos, mãe de Maildo.
Direitos humanos
Após tomarem conhecimento das mortes em Cuiabá, entidades dos direitos humanos começaram a acompanhar os casos para saber se os crimes tiveram motivações homofóbicas. A assessora da Coordenadoria Nacional dos Direitos Humanos, Ana Lúcia da Silva, disse que espera que sejam identificados os criminosos e que eles sejam penalizados conforme a lei. Já a Coordenadora do Centro de Referência de Enfrentamento à Homofobia, Cláudia Cristina Carvalho, quer que a sociedade reconheça que os travestis tem direito à dignidade humana respeitada.
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