Com as famílias, também foi retirada a irmã do extrativista Ribeiro da Silva, Claudelice Silva dos Santos, de 29 anos. Ao todo, são dez pessoas, cinco adultos e cinco crianças. Todas foram retiradas pela Força Nacional e agentes federais e levadas para um local desconhecido em Marabá (PA), por medida de segurança.
"Estamos bem agora, apesar do susto. A tocaia não foi direta para mim. Fizeram duas tocaias para pegar os dois agricultores que ainda vivem no assentamento. Não posso falar onde estou, mas acompanhei a retirada deles do assentamento", disse Claudelice, em entrevista exclusiva ao G1 neste sábado.
Há duas semanas, no início do mês, a reportagem do G1 acompanhou Claudelice em um visita ao local onde vivia o irmão José Claudio Ribeiro e a cunhada Maria do Espírito Santo. "Esta castanheira era a árvore símbolo da luta de meu irmão. Pense se não é um crime derrubar uma árvore desse tamanho e vender a madeira por R$ 50. Imagine se não é para defender essa árvore. Toda vez que venho aqui eu fico emocionada, pois lembro de meu irmão e da luta dele para defender a floresta", disse Claudelice na ocasião. (Veja o vídeo inédito acima.)
A ação da Força Nacional faz parte da Operação Defesa da Vida, montada pelo governo federal para combater os conflitos agrários no Pará. A ação também foi montada em Rondônia e no Amazonas. Segundo o Núcleo de Defesa dos Direitos Humanos do Estado do Pará, o caso do grupo será analisado em detalhes na próxima segunda-feira (20). Até lá, a Força Nacional de Segurança Pública será responsável pela segurança dos ameaçados.
A reportagem do G1 esteve com o agricultor José Martins, 57 anos, no início deste mês, logo depois de ele sofrer as primeiras ameaças de morte e de ter quatro construções em sua propriedade queimadas por fazendeiros da região (veja vídeo inédito ao lado). Ele já havia sinalizado que deixaria o assentamento, deixando para trás seus múltiplos pequenos cultivos. "O camarada ameaçado vive com medo. É melhor a vida da gente do que a terra. Já queimaram minha casa uma vez e prometeram voltar", disse, na ocasião.
Martins afirmou que deixou o assentamento com dor no coração. "Derrubei muita gota de suor para plantar tudo isso aqui, mas tenho certeza que Deus vai me proteger e dar uma outra terra para eu cuidar", disse neste sábado.
Denúncia contra policiais
Um dos escoltados pela Força Nacional já havia denunciado ao G1 que tinha sofrido ameaças de morte por parte de policiais civis e militares. O agricultor, que pediu para não ser identificado, chegou a viajar até Brasília para relatar as ameaças para o Ministério dos Direitos Humanos e do Meio Ambiente.
O secretário de Segurança Pública do Pará, Luiz Fernandes Rocha, disse que tomou ciência do fato e afirmou que os quatro policiais citados na denúncia estão sob investigação. "É um caso de 2010, quando eu ainda não tinha assumido a secretaria, mas o fato está sendo apurado em um Inquérito Policial. Já ouvimos entre 50 a 60 pessoas sobre isso. Essa investigação está no contexto do crime cometido contra José Claudio Silva e Maria do Espírito Santo [mortos em uma emboscada em 24 de maio, em Nova Ipixuna]. O caso já faz parte da nossa investigação. Tudo tem uma ligação."
O grupo de agricultores ameaçados também enviou para a ministra dos Direitos Humanos, Maria do Rosário, relatos sobre novas ameaças de morte contra eles. Em Marabá, uma das ameaças foi feita por telefone, alertando que um agricultor do grupo iria "virar carvão".
O secretário de segurança disse que os policiais investigados continuam trabalhando. "Vamos analisar a conduta deles e depois levar o caso para as corregedorias das polícias Civil e Militar."
O advogado da Comissão Pastoral da Terra (CPT) no Pará, José Batista Afonso, disse que o caso foi levado para a Ouvidoria Agrária do Incra e entregue ao delegado José Humberto Alves, da Delegacia de Conflitos Agrários em Marabá. Para ele, "a investigação do caso não está sendo feita da melhor forma".
Perigo em qualquer lado
No início deste mês, o agricultor que pediu para não ter o nome divulgado havia afirmado ao G1 que está desistindo de permanecer no assentamento em Nova Ipixuna. "Sou ameaçado por fazendeiros e madeireiros. A polícia, que deveria proteger as pessoas de bem, vem até minha casa e me ameaça também. Não me sinto seguro para continuar aqui. Sair para ir trabalhar na roça, deixar minha mulher e filhos em casa, é uma coisa muito difícil agora."
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