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Terça - 21 de Junho de 2011 às 12:37
Por: Dhiego Maia

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Dhiego Maia/G1 MT
Idoso se inspirou em cochos de alimentação do gado para criar a prótese de mogno
Idoso se inspirou em cochos de alimentação do gado para criar a prótese de mogno
Uma engenhoca feita de mogno – madeira de lei resistente e de grande valor comercial no mercado moveleiro -, ferro, parafusos e borracha faz o idoso José Caron, 75, andar de um lugar a outro sem o mínimo esforço. O idoso é deficiente físico desde criança. A perna esquerda dele foi amputada em um momento de descuido quando ele cortava justamente uma árvore. E na última semana, ele esteve em Cuiabá e foi atendido em um mutirão ortopédico para ganhar uma nova prótese.

“Eu passei o machado para dar o último corte, quando vi já tinha decepado a minha perna”, lembra Caron. O acidente causou um grande susto na família e nos moradores da cidade natal do idoso, Erexim, localizada no interior do Rio Grande do Sul. Várias décadas se passaram e com elas também muitas próteses ortopédicas.

Acostumado à lida do campo, já que é sitiante, o idoso disse em entrevista ao G1, que nunca se adaptou com as próteses usuais, pois não resistiam ao trabalho rural e incomodavam. “O maior desconforto delas é que queimavam a pele da gente”, afirma. Mesmo assim, por recomendação médica, continuou a usar as próteses.

Caron deixou o Rio Grande do Sul já casado, assim como milhares de conterrâneos incentivados pelo programa de colonização de terras do governo, na região norte do país, na década de 1970. O gaúcho escolheu terras da pequena cidade de Colorado D’Norte, em Rondônia, para construir um sítio. Um dia, enquanto trabalhava, a prótese quebrou. “Eu estava limpando arroz e a prótese quebrou. Eu tive que ir pulando da roça até a minha casa. Não foi fácil”, aponta.

Criatividade
As dificuldades de deslocamento e a falta de recursos financeiros forçaram o idoso a criar a própria prótese para continuar a trabalhar. Ele disse que procurou na natureza um material que fosse resistente e ao mesmo tempo confortável. A inspiração veio dos cochos - espécie de um grande recipiente feito de madeira escavada que armazena sal e água para o gado. “Eu percebi que poderia pegar um tronco de mogno e abrir no meio assim como um cocho”, revela.

Um tronco de mogno, parafusos, uma braçadeira de ferro e uma estaca de teca que se move de um lado a outro simulando o movimento do joelho com uma borracha fixada na ponta. Esta é a prótese de Caron, que resiste há mais de 20 anos.

A mulher do idoso, Diva Caron, diz que a engenhoca nunca a incomodou e que o marido faz de tudo no sítio. “Ela (prótese) vai afrouxando, a estaca quebra, mas ele conserta e continua usando”, afirma Diva. O atrito da madeira com a pele é desfeito com o uso de uma meia bem fina presa com uma alça na cintura do idoso.

Nova prótese
Os fisioterapeutas do Centro de Reabilitação Integral Dom Aquino Corrêa (Cridac), de Cuiabá, se surpreenderam com a invenção do idoso e, após uma avaliação, constataram que a prótese de madeira não comprometeu a estrutura óssea de Caron. Ele esteve na capital mato-grossense com o intuito de conseguir uma prótese termoplástica, de material resistente, flexível e ligeiramente leve.

Em dois meses, o idoso deve passar por exercícios de adaptação para conseguir andar com a nova prótese, mas já deixou um recado. “Vou usá-la apenas para sair de casa, ir às festas. No meu sítio, vou continuar usando a de madeira”, sentencia.

A diretora do Cridac, Lúcia Provenzano, disse que o centro pretende criar um museu para expor ao público em geral todas as engenhocas criadas pelos pacientes.





Fonte: Do G1 MT

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