Pais de Keisa e Marcelino não conseguem entrar na própria residência; garota era filha única
Famílias ainda vivem comoção pela perda dos filhos
As famílias de Keisa de Souza, 12, e de Marcelino de Souza Santos, 15, que morreram após cair do teto do Pantanal Shopping Center, em Cuiabá, no dia 21 de junho, ainda estão em estado de comoção. Os pais dos dois adolescentes não conseguem, por exemplo, entrar mais entrar em suas suas próprias residências.
Ainda em estado de choque, os pais de Keisa e Marcelino afirmam que é difícil saber que não encontrarão mais os filhos em suas casas.
Ao MidiaNews, a pedagoga Doraci Maria Siqueira, mãe de Keisa, afirmou que ela e o marido, o motorista José Angelo de Souza, têm dormido à base de medicamentos. Desde o acidente, Doraci conseguiu entrar em casa apenas uma vez, quando sentiu o perfume da filha e percebeu que seria difícil permanecer no local. Keisa era filha única.
"Está sendo muito difícil para mim. Na hora de dormir, é com remédio, e até mesmo comer é só com muita insistência. Eu não quero nunca mais morar ali: tentei entrar, senti o cheiro dela lá dentro, isso me incomoda...", afirmou.
Segundo os pais da menina, que têm dormido na casa dos pais de José Angelo, a possibilidade de vender a casa onde a família morava não está sendo descartada.
"Eu estou analisando, vou esperar, crer em Deus e ver o que eu vou fazer. Não sei se vamos conseguir morar, só eu e meu esposo, na casa; sempre vou estar sentindo a presença dela. Tudo que eu fazia era em função de Keisa", completou.
Conforme Doralice, ela e a filha eram muito unidas, estavam sempre juntas, até mesmo, na escola onde a pedagoga trabalha. Para poder realizar os desejos da filha, conforme contou ao MidiaNews, por menores que fossem, ela chegou a trabalhar três turnos seguidos.
Abalados
A dor da perda de um filho também tem sido difícil de encarar para a família de Marcelino, que era chamado de "Guinho". Em recente coletiva de imprensa, dias depois da tragédia, a cunhada do adolescente, Jhenifer Heinrick, afirmou que ninguém consegue mais ficar em casa.
O rapaz era o filho caçula de três irmãos. O pai, Divino dos Santos, 61, sofre de problemas cardíacos e foi para casa de parentes da esposa, em Rondonópolis (212 km ao Sul de Cuiabá), para evitar contato com pessoas de fora da família ou, até mesmo, a imprensa.
"A preocupação maior é com o "seu" Divino: ele está muito mal, cada vez que alguém pergunta ou liga querendo saber sobre o filho, a pressão dele aumenta. A família está completamente abalada, tanto que eles não conseguem mais ficar em Cuiabá, querem ir embora, mudar de cidade", disse a cunhada de Marcelino.
Segundo Jhenifer, as primeiras notícias veiculadas na imprensa, de que o grupo de adolescentes teria invadido o shopping, supostamente, para entrar no cinema de graça, também têm tirado o sono da família.
"Machuca pra caramba falar que ele era malandro, que não tinha educação, que eles entraram no local por vandalismo. O sonho do Marcelino era entrar para a missão da igreja que ele frequentava [o garoto era mórmon], e a família até encontrou mensagens dele na bíblia. Então, não tem lógica falar que ele não tinha educação", disse.
Justiça
Para as famílias de Keisa e Marcelino, o que se pode esperar agora, por parte do Pantanal Shopping, é justiça - o que, para Doraci, significa muito segurança no local do que indenização.
"O mais importante é que outros pais de crianças e adolescentes não passem pela dor que estamos passando, que o shopping proteja a área e não deixe mais outras pessoas ultrapassarem. Não desejo isso para família nenhuma", afurmou.
Entenda o caso
Os cinco adolescentes que se acidentaram - dois morreram, dois ficaram feridos e um saiu ileso - no Pantanal Shopping Center, na Avenida do CPA, na manhã do dia 21 de junho passado, tiveram acesso ao telhado porque a porta estava aberta e decidiram “explorar” o local.
Eles estavam passeando pelo shopping, quando, por curiosidade, resolveram entrar no espaço restrito e chegaram ao telhado. As informações constam no depoimento dos sobreviventes a policiais civis que estiveram no local para atender à ocorrência.
No acidente morreram Keisa Siqueira Santos, 12, e Marcelino Santos, 15 anos. Ficaram feridos Camila Costa, 13, Gustavo dos Santos Oliveira, 14. A estudante Verônica Lorga, 13, prima de Keisa, que frequenta um curso de inglês em uma faculdade instalada dentro do shopping, contou que foi convidada diversas vezes por outros adolescentes, inclusive pela filha de uma lojista do estabelecimento, para subir no telhado.
Verônica disse que não aceitou o convite por medo de ser pega pelos seguranças.
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